Ramsés recebeu na sala do trono o tal comerciante que havia sido convocado, mas já o havia dispensado. Aquela conversa não lhe trouxe luz para nenhum de seus questionamentos. O egípcio era leal, um nobre bastante rico e que ainda acreditava nos deuses, mas também deu aos hebreus vários objetos de prata e ouro. Quando questionado por suas razões, ele apenas respondeu:
— Prefiro ficar sem os objetos de valor dos quais dispus a ter mais uma praga sendo derramada sobre minha família e perder tudo. Preferimos enfrentar a fúria do Senhor das Duas Coroas a enfrentar a fúria do Deus Invisível.
Não havia o que discutir. Em vários momentos, o egípcio dera a entender que culpava o próprio Faraó das desgraças que se abateram sobre o Egito no último mês, e que não concordava com determinadas decisões tomadas pelo Soberano. Definitivamente, aquela conversa não elucidara nada, nem aliviara seus tormentos. Ao contrário, o Faraó ficou ainda mais preocupado.
Logo em seguida, Jay entrou para dar-lhe uma notícia que completaria a cota de notícias ruins do dia.
— Os espias do deserto trouxeram uma mensagem, Soberano.
— E qual é?
— Os reinos do deserto se uniram definitivamente. Vários soldados estão se reunindo no Deserto de Zim, e preparam-se para marchar em direção ao Egito. As notícias das pragas se espalharam, principalmente que o Faraó mandou comprar em reinos próximos artigos como comida e animais, além da morte de vários soldados para algumas pragas anteriores. Eles estão certos de que, ao invadirem o Egito, o conquistarão para sempre. E caso isso aconteça, sabem que são as terras mais férteis dessa localidade, além de rota de comércio muito importante.
Definitivamente, o seu dia havia acabado. Ramsés não tinha dúvidas.
***
A lua estava quase em seu ápice quando Moisés chegou a Kerma. Estava cansado por ter viajado sem parar, mas não podia esmorecer. Deveria voltar para Avaris tão logo fosse possível, pois havia preparativos a serem tomados nos próximos dias. Deus havia sido claro com ele: nada poderia sair de seus planos.
Fora recebido com honras no palácio pelo rei Zaki, e também por alguns nobres que lá se encontravam. As notícias correram sobre sua chegada, e muitos queriam conhecer o líder hebreu que conseguia fazer cair sobre as terras egípcias tantas maldições, humilhando os deuses conhecidos. Alguns o olhavam com hostilidade, outros com curiosidade. Apenas um par de olhos o olhava com amor. Os de Iana.
Finalmente estava diante dela. Parecia que haviam se passado anos desde a última vez que estiveram frente a frente. E então, viu seu pendente em seu pescoço. O símbolo da tribo de Levi, feito por seu pai Anram, igual ao que estava em seu próprio pescoço quando ainda era um bebê e que fora guardado por Bithyah durante oitenta anos. Zaki o chamou para uma sala reservada para conversarem sobre o casamento.
Iana estava completamente extasiada. De algum modo, ela soube o exato momento em que Moisés havia chegado. Estavam no banquete, algumas dançarinas cuxitas faziam uma apresentação para os convidados, quando sentiu algo diferente em seu coração. Ela se levantou de um salto e correu para fora da sala de banquetes do palácio, em direção as grandes portas que davam para o jardim e o pátio externo. E viu. Moisés vinha solitário, caminhando em sua direção. O coração da princesa saltou em seu peito, e lágrimas brotaram de seus olhos.
Era sempre uma emoção forte ver Moisés. E depois de tantos dias sem sua presença, ela pensou que morreria de tanta ansiedade. Correu em sua direção e jogou-se em seus braços, sendo aninhada por eles com suavidade e força. Moisés era tudo o que se lembrava, e ainda mais. Como pudera ficar longe dele por tanto tempo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...