A praga dos tumores durou o dia inteiro. Muitos não conseguiram suportar as dores e caíram doentes de cama. Os sacerdotes no palácio não conseguiam tratar de todos. A tarde inteira ouviu-se lamentos pelos corredores, e Meryaton e Khamuaset, juntamente com seus ajudantes, fizeram de tudo para melhorar o que podiam das pústulas. Nada se podia fazer, elas não regrediam, não paravam de secretar líquidos e as dores não aliviavam. Parecia que a única coisa que trazia algum tipo de alívio era mergulhar em água fresca, mas apenas por alguns instantes. Logo as dores voltavam e era preciso trocar a água.
Isisnefer passara praticamente o dia inteiro dentro da água. A irritação chegava ao seu limite. Sua pele estava ficando enrugada de tanto ficar dentro da tina, e suas feridas só ficavam piores.
Ramsés também tentou aliviar suas dores com unguentos, mas somente quando entrava na água elas melhoravam. Embora logo voltassem. De qualquer maneira, estava preocupado. Mais do que com as pragas de Moisés. Estava preocupado com ameaças de fora. O que faria se não pudesse se defender de seus inimigos? Se todos os seus soldados estivessem fracos e doentes no momento de um ataque?
Makena caminhava de um lado a outro. Zene viu e veio vê-la num momento de folga, após ajudar Tye com seus banhos.
— O que está acontecendo? Está assim por causa da praga?
— Mais do que isso. Estou preocupada com a princesa.
— A senhora Cairoshel?
— Sim.
— O que houve? Ela foi atingida pela praga dessa vez?
— Não! Está limpa, como sempre. E saudável. O problema é que ela ainda não voltou de Gósen, e estou aflita.
— Você não foi com ela?
— Eu fiquei doente no meio do caminho, sentindo muitas dores, você sabe... A princesa me convenceu de que iria sozinha e me fez voltar ao palácio. Naquele momento pensei que seria uma boa ideia, afinal, ela já estivera na casa de seu filho Moisés tantas vezes no passado e, já por agora, ela já fora lá. Mas agora... Acho que não foi bom eu ter voltado antes.
— Amon-Rá nos proteja! — Disse Zene, olhando para o alto. — E se ela voltar e alguém a vir?
— Pior: se alguém perguntar por ela? O que vou dizer? — Makena parou de andar e olhou para Zene, com a interrogação em seus olhos.
— Não se preocupe. Basta dizer que ela está cansada e sentindo dores por causa da praga e não saiu do quarto.
— Mas e quando ela chegar? Como passará para seus aposentos sem ser vista?
— Como vocês saíram?
— Pouco antes do nascer do sol. Eu a vesti como uma senhora pobre. — Makena voltou a andar de um lado a outro. — De qualquer forma, a praga não havia caído ainda. E agora? Quando virem sua pele limpa, saberão que as pragas não a atingem. Que nunca a atingiram.
— Precisamos ficar de sobreaviso. Precisamos ficar próximas aos portões do palácio para quando ela entrar, ajudarmos a ir a seus aposentos. Venha.
Zene conduziu Makena para os aposentos da princesa Bithyah e passou a procurar uma roupa adequada para ela.
— Vamos esperá-la com roupas de princesa. Vamos levar uma peruca e um véu para esconder-lhe o rosto. — Pegou um Kalasiri. — Vamos levá-lo também para cobrir-lhe a maior parte de seu corpo. Assim, se alguém a vir, saberá se tratar da princesa. E podemos dizer que ela se cobre para esconder as feridas, que estão muito feias.
Makena assentiu, e as duas prepararam tudo para a chegada de Bithyah ao palácio. Ainda assim, a dama estava bastante apreensiva. Não sabia se daria certo. Esperava que ninguém as interceptassem quando a princesa chegasse e ela pudesse alcançar seus aposentos rapidamente, longe dos olhos de qualquer um.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...