Capítulo 7

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A festa ainda acontecia no palácio. Após a saída de Moisés e Arão, os dois hebreus, Tye parecia agitada. Vira quando sua cunhada Cairoshel saíra e deixara o salão, acompanhada de sua filha Henutmire e suas damas de companhia. Olhou para seu filho Ramsés II, sentado no trono, divertindo-se com as dançarinas e com as conversas dos nobres bajuladores, mas o conhecia. Viu a apreensão em seu olhar quando cruzou com o dela.

Ramsés não havia crescido com o primo. Tudo o que sabia sobre ele foi o que ouvira dela mesma e de sua tia, mas principalmente de seu pai e seu avô, contaminando suas ideias. Quando Moisés fugiu do Egito, Ramsés tinha apenas sete anos. Eles não conviviam, Moisés tinha crescido aprendendo sobre tudo o que podia ao lado dos sacerdotes, e integrara o exército assim que completara dezesseis anos. Fora um grande soldado e passou, rapidamente, a general por sua condição de príncipe.

Passaram-se quarenta anos. Tye estava com o coração disparado. Moisés continuava o mesmo, pouco havia mudado desde que deixara o palácio. Notara uns poucos fios brancos em suas têmporas e algumas rugas no canto de seus olhos, mas ainda conservava o mesmo olhar, a mesma determinação, e a mesma beleza de que se lembrava.

Sem dúvida, o homem mais formoso que conhecera. O homem que fizera seu coração bater mais forte. O homem por quem se apaixonara no passado, antes de se casar com o poderoso Seti I e se tornar a Grande Esposa Real.

Enterrara aquele segredo fundo em seu coração, convivera com seu sentimento, escondendo-o do príncipe, e depois, avisou-o clandestinamente que seu sogro pretendia matá-lo, dando-lhe oportunidade de fuga. Sofrera inconsolavelmente e em silêncio durante anos, até que se acostumara com a ausência do belo hebreu, criado como egípcio entre eles. Quando Seti morrera e seu filho assumiu seu lugar, estava conformada com sua vida posterior; continuar vivendo no palácio como uma rainha e ser bem tratada, servida e cuidada, sem as responsabilidades de uma Grande Esposa Real.

Só não esperava que Moisés estivesse ali, em sua frente, depois de tanto tempo. Mas o mais inesperado foi perceber que todos os seus sentimentos pelo hebreu ainda estavam em seu coração, adormecidos, e foram despertados no momento em que as portas do palácio se abriram e ele entrou por elas. Os longos cabelos e a barba não foram capazes de esconder de seu coração o rosto por trás deles, o belo rosto de cabelos curtos e pele raspada, com seu olhar amendoado pelo mais rico khol, e as túnicas fechadas não foram sequer capazes de embotar a imagem do peito nu de Moisés, coberto apenas pelos colares principescos adornados com as pedras mais belas que a Núbia, o Egito e o Reino de Punt poderiam oferecer.

Constatar tudo isso levou Tye, a mãe do Soberano das Duas Terras, saber que estava perdida.


***


Ramsés bebia vinho quando teve uma ideia. Chamou um dos seus oficiais e mandou que chamassem todos os chefes feitores e os capatazes hebreus.

— Veremos agora o que me dizem!

Algum tempo depois os superintendentes das obras e os capatazes hebreus, dentre eles Arão, chegaram. Os presentes no salão do trono ficaram em silêncio, esperando pelo que viria. Sorrindo, Ramsés ergueu sua taça de ouro, tomou um gole e depositou-a na mesa que o servia, ao lado do trono. Em seguida, decretou.

— De agora em diante, não deverão mais dar palha aos escravos para que façam tijolos. Agora, eles mesmos deverão procurar e ajuntar a palha para produzir e trabalhar.

Um burburinho encheu o local, os capatazes hebreus se voltaram para Arão, mas ele nada disse. A voz de Ramsés se elevou, e o silêncio voltou a reinar, deixando apenas o Soberano continuar.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora