Capítulo 11

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Euforia. Era o que ela sentia. Será que Iana podia se conter em si mesma? Andando rapidamente de volta ao palácio, percebeu que a sala do trono estava em alvoroço. Algumas pessoas discutiam entre si, e Ramsés parecia ensandecido.

— Que espécie de magos vocês são?

— Mas, Soberano, nós fizemos a mesma mágica do hebreu! Repetimos o que eles fizeram com o cajado...

— E onde estão os cajados de vocês agora? — Perguntou Ramsés, erguendo a voz. — Ah, sim, lembrei-me. Estão dentro do cajado de Moisés! A serpente que eles criaram era maior e mais forte que as de vocês!

— Isto não quer dizer muito, Senhor das Duas Terras. — disse um dos magos, e Meryaton, sacerdote de Rá e filho de Ramsés, o acompanhou enquanto ele se aproximava do trono com reverência. — O que é um deus que consegue transformar madeira em serpente, se nós também o conseguimos?

— O Soberano é o Hórus Vivo — disse Meryaton —. Filho de Osíris, Senhor das Duas Coroas, Amado de Ptah. O Soberano é um dos deuses desta terra, o deus que caminha entre nós. Este deus invisível jamais será páreo para o deus vivo que habita nestas paredes.

Ramsés inflou seu peito, sentindo-se mais forte.

— Você está certo, Meryaton. Sim, eu sou o Hórus Vivo, sim, eu sou o Senhor das Duas Terras, o Amado de Ptah. E não vou permitir que este homem tente levar de mim os escravos. Oficiais!

Menik e Amarnas se aproximaram e fizeram uma reverência.

— Sim, soberano — disseram os dois juntos.

— Façam chegar este aviso aos superintendentes dos escravos: Nada, absolutamente nada se diminuirá no serviço nas feitorias. Ao contrário. Quero todas as contas prontas, diariamente. E quero que todos sejam castigados caso, ao fim do dia, as contas de tijolos não tenham sido cumpridas!

— Sim, senhor — disseram Amarnas e Menik. — Pode deixar que eu levo a notícia a eles — disse Menik a Amarnas, e se retirou. Amarnas voltou ao seu posto ao lado da porta.

Iana viu quando Menik saiu da sala e foi atrás dele.

— Menik!

Ele parou no corredor, mas não se voltou para ela. Ela tocou-o nas costas, ao que ele se retraiu e virou-se para encará-la. Menik não parecia mais o mesmo, pensou Iana, e apesar de tratá-la com a mesma deferência que exigia um subordinado a uma princesa, não parecia estar feliz de estar ali, e demonstrou indiferença e dureza em seu olhar.

— Pois não, Princesa Iana Urbi.

Iana suspirou.

— Eu gostaria de conversar com você sobre o que falamos antes e...

— Desculpe-me, Princesa. Já me disse tudo o que eu precisava saber, e agora preciso ir. Tenho um trabalho a fazer. Com licença.

E se retirou. Iana ficou com o peito apertado, sabendo que tinha ferido um grande amigo, mas nada podia fazer. Olhou para cima, e viu o teto trabalhado e as colunas que sustentavam o palácio. Imagens dos deuses egípcios e das conquistas de Ramsés enfeitavam a construção. O que faria? Para quem orar? Maat, a deusa da verdade, da harmonia e da justiça? Thoth, o deus da sabedoria, da magia e do conhecimento? Hathor, a deusa do amor e da felicidade? A quem pediria auxílio neste momento, para que seu amigo não se tornasse amargo e não a odiasse? Para que não perdesse sua amizade?

Retirou-se para seu quarto, e, ao encontrá-lo repleto com as mães dos filhos do Faraó, que ainda faziam sua primeira refeição, saiu para o jardim, para o sol e a luz, para o frescor da manhã. Eram tantos deuses, cada um para um assunto e problema específicos, que ficou sem saber para quem orar. Então, lembrou-se do que o Sehpset e Anippe lhe contaram sobre o deus invisível de Moisés.

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora