Capítulo 24

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Abriu os olhos. E não gostou do que viu. O rosto de Isisnefer próximo ao seu.

— Finalmente acordou.

— Senhora? — disse Iana, sentando-se assustada. — Precisa de algo?

— Não seja imbecil. Detesto isso. — Suspirou e endireitou suas costas, deixando sua silhueta mais alongada, olhando para a dama de cima para baixo. — A que horas você pretende ir à vila dos escravos?

Iana engoliu em seco e se levantou rapidamente, organizando suas almofadas e evitando olhar para a esposa do Faraó.

— E por que eu iria até lá? — disse para ganhar tempo.

A risada de Isisnefer foi musical.

— Assim você está insultando minha capacidade de pensar, Iana. Sei muito bem que você frequenta a casa de Moisés. O que quero é muito simples: desejo saber qual a real intenção do hebreu em vir até aqui depois de tanto tempo, e como ele faz essas pragas acontecerem. Essa história de que querem ir até o deserto para adorar o deus invisível não me convenceu nenhum pouco. E dizer que é esse deus que não tem nome nem rosto que faz essas coisas acontecerem também é no mínimo impensável. Tenho quase certeza de que Moisés aprendeu ciências ocultas com os povos midianitas, e acabou se tornando um mago poderoso.

Desta vez Iana riu.

— Desculpe, senhora, não quis desrespeitá-la, mas acredita que existam magos mais poderosos do que os do Egito?

Neste momento, Isisnefer ficou séria. Uma afirmação como aquela seria como desacreditar no poder dos deuses egípcios. Ela não podia confirmar nem desmentir naquele momento. Já havia dito o que pensava. Mas não se deixaria levar pelas redes da dama cuxita.

— Acredito que existam ciências ocultas além do Mar Vermelho, e sei que Moisés viveu naquela região por muitos anos. Talvez haja alguma combinação de poderes que os nossos magos não perceberam. Mas é claro que nossos magos são mais poderosos. Meu filho, Khamuaset, por exemplo, é um poderoso sacerdote. E eu quero saber o que Moisés usa como segredo...

— Para contar a seu filho ou ao Soberano...

— O que vou fazer com esta informação não lhe diz respeito, cuxita. — Isisnefer olhou-a de cima abaixo. — Eu soube que você e Moisés se encontram praticamente todos os dias desde a Praga do Sangue. E sei que ele te deu algo no dia da Praga das Rãs... Algo de comer...

Iana pensou em como ela soube disso. Primeiro Tye, agora Isisnefer. A mãe, e agora a esposa do Faraó. Estava encrencada.

— É melhor você me dizer o que quero saber, Iana Urbi, ou posso enviá-la direto para a prisão, e isso será o mínimo que meu esposo fará quando descobrir. Por isso, se você for à casa do hebreu hoje, procure saber o que Moisés realmente deseja vindo até aqui, e como ele realiza estas pragas.

— Não é necessário que eu descubra nada. Eu posso lhe dizer agora mesmo: Moisés quer que o povo hebreu adore seu Deus no deserto.

Isisnefer abanava a cabeça e ria, sem acreditar, mas Iana continuou.

— A adoração ao Deus de Israel seria abominação aos egípcios, pois inclui o sacrifício de cordeiros.

A esposa do Faraó parou de rir e olhou para ela, surpresa. Já ouvira falar sobre o assunto, mas não tinha certeza. O próprio povo que habitava Gósen já vivia longe dos egípcios, no Delta Oriental, por serem pastores de ovelhas, e isso já servia de abominação. Mas, sacrificar?

— Isso é uma afronta...

— Sim. Uma afronta a Amun, o deus criador. Por isso precisam ir a caminho de três dias ao deserto. Satisfeita?

A Princesa de CuxeOnde histórias criam vida. Descubra agora