A refeição foi servida com requinte nos aposentos de Tye. Jahi também estava presente para servir o vinho de Ramsés, e Quenaz dispôs todos os pratos que preparou com tranquilidade sobre a mesa. Como era o único a não ser afetado pela Praga dos Piolhos, também foi o único a ter condições de servir o rei com a deferência exigida.
Isisnefer ficou surpresa ao ver que o Faraó também estava presente, mas compreendeu que aquilo era um bom sinal. Se Tye, sua sogra, a chamara para seus aposentos juntamente com Ramsés um dia depois da morte da Grande Esposa Real, poderia ser justamente para convencê-lo de que o melhor a fazer seria escolhê-la como a nova Grande Esposa Real. Aquilo seria a melhor notícia de sua vida — após a morte de Nefertari, claro.
Isisnefer não sabia o que aguardavam. Os três estavam prontos para comer, e tanto ela quanto Ramsés não compreendiam a razão de Tye pedir para esperarem mais um pouco. Conversaram sobre amenidades, e Isisnefer percebeu que Tye sabiamente evitava o assunto "Nefertari". Falaram sobre os problemas nas cidades mais distantes do Delta, onde ainda havia rãs apodrecendo nas ruas e pessoas ficando doentes e morrendo por conta delas, entre outros assuntos. Isisnefer estava impaciente, e pouco prestava atenção àquela conversa. Queria que as coisas andassem mais depressa. Tomou um gole do vinho e tentou relaxar, afinal de contas, ela estava à frente naquele tabuleiro, e sua peça central chegava à casa final, onde estaria a vitória. Faltava apenas a confirmação do que ela já suspeitava: sua gravidez.
Foi quando uma serva abriu a porta para entrar outra pessoa.
— Finalmente, chegou quem estávamos esperando — anunciou Tye.
Ramsés e Isisnefer olharam para a recém-chegada.
— Anippe?
Isisnefer não entendia a razão de aquela esposa estar presente. Pensou que se trataria apenas de uma conversa íntima, entre os três. Infelizmente, estava errada. Foi quando viu algo nas mãos dela, o que fez seu sangue gelar.
— Agora, sim, podemos fazer nossa refeição — anunciou Tye, dando o sinal para que os servos os servissem.
Ramsés fez sinal para Jahi com sua taça e imediatamente ela foi enchida com o melhor vinho do Egito.
— Oh, meu filho, aguarde — disse Tye. — Anippe trouxe algo delicioso para bebermos.
Isisnefer observou quando Anippe despejou o conteúdo de uma pequena ânfora nas taças de Ramsés, Tye, dela mesma e da própria Isisnefer. Estava em choque.
— O que é isso? — perguntou Ramsés, curioso e receoso.
Anippe sentou-se ao lado do Faraó, tranquila.
— Um presente de Isisnefer.
Ramsés virou-se para a outra esposa, sorrindo.
— Um presente?
Isisnefer não conseguia dizer nada.
— Acho que ela está tão feliz que mal consegue abrir a boca... — riu Tye da expressão de Isisnefer.
— Trata-se de uma bebida especial — disse Anippe. — Ela mandou que eu buscasse em seu quarto, assim que saiu de lá, para que trouxesse a esta reunião. Um aditivo para o vinho tornar-se ainda mais saboroso.
— Verdade? — perguntou Ramsés. Ele parecia desconfiado de Anippe, mas resolveu fazer aquele jogo. — E quem fez este aditivo?
Enquanto falava, Ramsés segurou a mão de Isisnefer com ternura. A mão dela estava gelada. Desde que ela viu a ânfora nas mãos de Anippe ela ficara estranha, e ele notara. Fixou os olhos no olhar de sua primeira esposa e os manteve ali, firmes. Ela ainda não conseguia proferir nenhuma palavra.
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A Princesa de Cuxe
Historical FictionUm romance entre uma princesa sem reino acusada de assassinar a rainha do Egito e um príncipe filho de escravos, ambientada no Egito Antigo, no Reino de Cuxe e nos desertos cativantes de além Mar Vermelho. Esta história começou a ser publicada em 13...