Capítulo 10 - O Primeiro Beijo

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...

- Anselme, isso é... — murmurei admirada e ele sorriu.

- O que acha?

- Eu... Estou sem palavras. — disse e soltei um suspiro — É linda.

- É, é sim... — ele disse baixinho e eu o olhei. Notei que ele estava me olhando, e quando começamos a nos encarar, um sorriso surgiu nos meus lábios.

- Obrigada por me tirar do meu quarto... Achei que a minha viajem estava perdida.

- De nada... Quando você vai embora?

- Domingo. — disse triste.

- Está com saudades de casa?

- Incrível, mas não.

- Vai sentir minha falta?

- Incrível, mas sim.

Ele riu e eu o acompanhei.

- Fico feliz em ouvir isso.

- Você vai me visitar, não vai?

- Você quer que eu vá?

Olhei-o e torci a boca.

- Claro que sim! Mal posso esperar para ver a sua cara de perdido andando por Nova Iorque.

- Espero que você esteja por perto para me guiar. — ele disse e eu sorri assentindo.

- Claro que sim. — afirmei e uma brisa tocou a minha pele, fazendo-me arrepiar. — Paris consegue ficar mais linda daqui de cima.

Onde estávamos? Ponte Alexandre III, que atravessa o rio Sena. A lua estava cheia e o vento frio como gelo.  

Anselme me abraçou de lado e eu encostei minha cabeça em seu ombro. Levamos um século para chegar aqui – por conta da minha perna – mas ele teve toda a paciência do mundo para me ajudar... Como eu pude pensar que a minha viajem estava perdida se eu ainda tenho ele? Bom, não "tenho" ele literalmente, eu queria ter... Mas enfim, Anselme com certeza foi o cara mais cavalheiro que já conheci na vida. E o mais lindo. E o mais cheiroso. Acho que estou apaixonada...

- O que disse? — Anselme perguntou e eu gelei.

- Hãn, nada! Eu pensei alto. — murmurei sem graça e ele sorriu.

- Eu posso te falar uma coisa?

- Sim...

- No dia em que nos conhecemos eu tinha outros compromissos, e nenhum deles envolvia a minha ida aquela praça. Acho que o destino realmente quis que a gente se esbarasse...

- E que você me atropelasse.

- Você não estava olhando para frente.

Dei risada e me afastei um pouco para olha-lo.

- Eu estava cega por causa das flores amarelas... Malditas flores amarelas!

- Se não fossem por elas eu jamais teria te conhecido.

- Isso é... — dei de ombros — Vai ver elas não são tão malditas assim.

Ele sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

- Se elas fizeram eu te conhecer... — ele sussurrou — não são malditas nem um pouco.

Olhei-o admirada e logo meus olhos desceram para a sua boca. Perfeita. Parecia ter sido desenhada a mão: uma linha fina que se encaixava perfeitamente em seu rosto de anjo, e completamente vermelha, como se ele tivesse comido amoras.

- Anselme... — soltei seu nome em um sussurro e deixei que o vento levasse. Afinal, não tive tempo de dizer mais nada: Rápido e ao mesmo tempo no seu ritmo, Anselme selou nossos lábios em um beijo só nosso.

...

Os dias pareceram voar e eu continuava montada em uma nuvem. Todos os dias eu contava a história do beijo para a Megan, não sei como ela não gritou comigo ainda.

Domingo chegou e agora estou fazendo as malas. Eu já tinha chorado essa manhã por dois motivos: Um, eu lembrei que estou indo embora da cidade dos meus sonhos; Dois, Anselme mandou um buquê de rosas amarelas acompanhadas de um cartão que dizia "Já sinto a sua falta. P.S.: Não cheire as rosas". Awwwn!

- Eduardo quer a gente lá em baixo.

- Ok, me ajuda aqui. — pedi e ela pegou as muletas. Coloquei-as em baixo do braço e a Megan abriu a porta do quarto, dando-me passagem para fora. Assim que cheguei ao corredor dei de cara com o Logan e sua gangue do mal, incluindo a Suzanne nojenta.

Entramos todos no elevador calados e chegamos ao térreo do mesmo jeito. A maioria das pessoas já estavam lá em baixo, reunidas em um grande circulo que tomava metade do hall do hotel. Só ai a minha ficha caiu de vez: Realmente está acabando.

Lembro-me do primeiro dia em que cheguei: Tudo era novidade! A comida, a cidade, o cheiro das coisas, as pessoas... Apesar de não ter ficado muito tempo eu sempre me senti uma parisiense, então estar aqui era como estar em casa.

Quer dizer, melhor do que estar em casa.

- Tudo bem pessoal, eu só queria dizer algumas coisas antes de irmos. — Eduardo disse e todos se calaram. — Espero que todos tenham se divertido bastante nessa viajem e que ela fique guardada na memória de vocês para sempre. Apesar dos contratempos — ele disse e me olhou. Todos deram risada, inclusive eu. Dane-se, quebrei a perna na viajem dos sonhos e mesmo assim tudo valeu a pena. — Tudo ocorreu bem e eu fico feliz por vocês estarem vivos.

Novamente, as risadas se espalharam por todo o local. Eduardo disse mais algumas coisas das quais eu não prestei atenção... E por que isso?

Ao virar-me, olhei de relance para a porta do hotel e vi alguém que em uma semana parecia da família.

Anselme estava lindo – como sempre –, usando uma camisa branca e uma calça jeans desbotada. Fui até lá com as minhas muletas sentindo-me ridícula por não poder correr e cair em seus braços.

- Eu não poderia te deixar ir sem antes dizer adeus. — ele disse quando nos aproximamos.

- Não é um "adeus" é um "até logo", certo?

- Certo... — ele sorriu — Então...

- Pois é...

- Até logo? — ele disse e eu sorri, dando-lhe um beijo na bochecha. Ao me afastar, Anselme aproveitou a brecha e nos selou de novo. Ok, eu poderia me acostumar com isso.

- Até logo. — disse.

- Se cuida, Chloé Smith.

- Você também... —assenti e voltei para dentro do hotel. Meu coração estava aos pedaços... Não havia percebido o quanto tinha me apegado ao Anselme, e agora ao pensar que não nos veríamos por um bom tempo é... Ah, não gosto nem de pensar.


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