Capítulo 46 parte 5

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Não era certo, continuar ali ouvindo uma conversa que não me dizia respeito, se não queriam que mais ninguém soubesse do parentesco que ligava o André é o Miguel, certamente tinhas seus motivos, e não seria eu a entrar de bicão na historia.

Bati as muletas com um pouco mais de força no piso, para que percebessem a minha chegada.

Como era de se esperar, ficaram em silêncio assim que me viram aproximando, bati na porta por pura educação, e pela fresta perguntei com a maior cara de pau.

- Posso entrar?

Estava muito envergonhado, tinha a sensação que havia um letreiro em néon piscando na minha testa "culpado por escutar atrás das portas".

- Claro Eduardo. Deixa-me ajudá-lo com a porta.

O André se apressa todo solícito e vem na minha direção.

Os minutos seguintes foram bem constrangedores, ambos trocavam olhares e não falavam nada, e pelo nervosismo do André, era nítido que desconfiava de algo.

- A mamãe disse que a senhora quer falar comigo dona Yanna?

Falo e noto quando a Catarina e o André soltam os ares aliviados.

- Quero sim meu filho, temos muita coisa para conversar.

- Vou deixá-lo as sós, mais tarde eu volto para ver se precisa de algo.

A Catarina fala e se despede da dona Yanna com um beijo carinhoso na testa, seguida pelo o André, que pega na sua mão frágil e deposita um beijo ali.

Ambos saem, eu aproximo um pouco mais da cama, e ela me olha curiosa, sinto como se seu olhar estivesse fazendo um raio-X da minha alma.

- Não se sinta culpado, pelos erros dos seus antepassados meu filho, o Criador nos deu livre arbítrio, e mesmo que os erros do passado tenham afetado a todos nós, não temos culpa de nada, tire esse peso que sente no seu coração, com o tempo só vai fazer mal a você.

- Sei por experiência própria, o quanto alguns sentimentos podem ser tóxicos, quando era criança e meus pais contavam o que tinha acontecido, eu odiava o meu antepassado, por ter traído meu povo e causado toda aquela tragédia, e não sabia que o meu ódio e a minha raiva, servia de alimento para o espírito dele, que vagava por ai, e só se fortalecia cada vez mais.

Ela bate de leve na cama, com um sorriso amistoso nos lábios.

- Agora tenta sentar aqui pertinho de mim, eu não mordo.

Não estava enganado, alguns segundos me observando ela percebeu o que estava me sufocando por dentro, desde que li os manuscritos, esse sentimento de culpa não me deixa em paz um instante se quer.

Sem falar na parte que o Rafael e eu traduzimos por último, que mais parecia enredo de um filme de suspense.

Tentei encontrar uma posição confortável para me sentar, porém a dor nas costelas não permitia, acabei optando por ficar de pé mesmo.

- Quero que me conte tudo que minha neta falou no sonho, é fundamental para que possamos encontrá-la o mais rápido possível.

Reviravoltas Do Destino ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora