Capítulo 49

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VITÓRIA


Clamava incansavelmente para que Deus me ajudasse a sair do tormento em que me encontrava.

Só poderia ser um pesadelo que nunca tinha fim.

Eu estava numa espécie de lago, porém não parecia ser água, era um líquido denso e pegajoso.

Senti algo me puxando para o fundo, comecei a ouvir vozes, por todos os lados, sussurrando coisas incompreensíveis, e por mais que tentasse nadar e subir para a superfície, era inútil.

Eu não me afogava, mesmo estando submersa, respirava normalmente, por isso tinha certeza que estava tendo um pesadelo horrível.

Recordava vagamente dos últimos acontecimentos, as imagens desfocadas como se tivessem acontecido há muito tempo atrás, o sequestro, os palhaços, a ingratidão da Alice, o Fábio, os tiros e depois o helicóptero.

Num esforço sobre humano usando todas as minhas forças eu consegui subir pela primeira vez, a água, ou seja lá, o que fosse se agitou ao meu redor, formando uma espuma branca, de onde começou a sair bolhas, como as de sabão que costumava brincar quando era criança, porém bem maiores.

No início eram apenas bolhas vazias, mas depois elas se iluminaram semelhantes às lanternas chinesas, e dentro de cada uma delas, continham cenas de momentos que vivi.

As primeiras continham apenas acontecimentos ruins, todas as maldades que meus irmãos fizeram quando éramos crianças, o Carlos me derrubando do balanço, o dia em que comi coco de cachorro pensando ser chocolates, a notícia da morte do papai, quando o Carlos matou a futrica, era esse o nome que dei para a gatinha que ganhei da vovó Yanna, as meninas jogando água benta no meu rosto, logo após o episódio da ponte, a primeira vez que vi o Eduardo, e ele me derrubou no chão.

Tudo que ele me falou depois que saímos da floresta.

Eram lembranças ruins, que mesmo fazendo parte de um passado superado, de alguma forma me causavam desconforto, dor e ressentimento.

A certa altura, uma a uma começou a estourar, deixando apenas lacunas imensas na minha mente.

Cada bolha que estourava sentia que perdia um pedaço da minha essência, da minha história, e não conseguia compreender como aquilo era possível.

De repente fui puxada novamente para o fundo e tudo se repetiu.

Meu esforço para subir a superfície, e novas bolhas flutuando e estourando, o meu desespero sem poder fazer nada me consumindo por completo.

Eu queria acordar, às vezes sentia que acordaria, abria os olhos e tinha a percepção de estar em um quarto amplo e arejado.

Uma mulher toda de negro aproximava e falava coisas horríveis, próximo ao meu ouvido.

Que eu deveria morrer, e deixar o filho cumprir sua missão no mundo.

Que eu era uma maldição na vida dele.

Uma luz maldita querendo resgata-lo da escuridão.

Um sono profundo me envolvia, novamente e o pesadelo recomeçava.

Esse processo repetiu inúmeras vezes, as bolhas continuavam a subir, e tudo estava cada vez mais confuso em minha mente, não sabia mais quem eu era quem eram aquelas pessoas.

Reviravoltas Do Destino ( Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora