Cômico, entrar em um emprego e sair sem absolutamente nada, sem suas roupas. Ana Cláudia me deu o dinheiro da passagem, apenas. Era óbvio que a mesma não teria os dias trabalhados para me dar, e como minha carteira não foi assinada... Já dá para imaginar.
O sofá de minha residência parecia absorver tudo o que aconteceu para si, porque eu já não queria pensar no ocorrido.
— Está de fołga? — A voz arrastada de meu pai soa.
— Fui demitida — Minto sem encará-lo.
Já poderia imaginar sua feição de dúvida. Sou boa em tudo o que faço, ao menos em relação a trabalho.
Fecho meus olhos e sinto o sofá afundar ao meu lado, o que significa que meu pai estava sentado bem ali.
— Você está abatida, precisa sair. Só fica presa dentro dessa casa — Ele diz ignorando completamente o que eu havia dito anteriormente.
Abro meus olhos encarando o senhor ao meu lado. O cheiro de cachaça já estava com meu pai a anos.
— Pai, acabei de dizer que fui demitida. Não vamos ter dinheiro por um bom tempo.
— Eu sei, mas posso pegar em outras obras e eu confio em você. Sei que você sempre dá um jeito —Diz confiante.
— Não. Pai, o senhor está na idade de descansar, não vai pegar mais obra nenhuma.
— O IPTU tá atrasado, Mariana. Chegou uma carta hoje
Rolo meus olhos, respirando fundo para não pirar. O dinheiro da minha rescisão não daria para pagar.
Minha vontade de questionar a Deus o porque disto tudo estava enorme mas sei que não deveria fazer. A culpa é nossa, sempre é. Nossas escolhas nos leva onde estamos.
Alguns dias mais tarde fui até a pastelaria para buscar o que é meu por direito. Aproveitando a viagem fui depositando currículos em algumas lojas.
Chego em meu antigo local de trabalho e logo estranho a ausência de Cristiane no local, isso já não era de interesse meu. Peguei meu dinheiro e me despedi de William.
Três mil e pouco, foi minha rescisão. Poderei fazer algumas compras, pagar a luz e algumas outras coisas.
Uma senhora se levanta do assento no ônibus, não espero muito e tomo seu lugar fitando a vista através da janela empoeirada.
Nunca tive uma vida repleta de luxo, mas tudo o que eu queria era viver em paz, com uma casa confortável. Queria poder dar tudo o que meu pai merece e principalmente descanso.
— Obrigada. — Digo ao motorista assim que desço da minha condução.
Caminho rapidamente até a esquina de minha casa. Observo alguns carros parados e as crianças soltando pipas.
Sinto minha bexiga reclamar comigo, aperto meus passos em direção ao meu portão. Paro de frente para o mesmo enquanto busco as chaves em minha enorme bolsa de couro falso.
— Anda merda — Murmuro para mim mesma ao não encontrar as chaves.
Minha bexiga iria estourar.
— Posso falar contigo?
Ouço alguém dizer atrás de mim. A voz de Felipe soou tão firme que por pouco não ocorre um acidente em minhas calças.
Me viro para encarar o homem autoconfiante. Sua postura não mudará, tampouco seu perfume forte. Sem relógio, cordão e com uma roupa bem simples ele tenta disfarçar andando por aí.— Como soube onde me encontrar? — Pergunto amedrontada.
Obviamente ele veio tirar satisfação sobre o que ocorreu com sua mãe. Desta vez eu iria confessar que foi Cristiane.
— Posso ou não falar contigo? — Insiste, ignorando completamente minha pergunta.
Aceno com a cabeça algumas vezes.
— Claro, pode sim.
— Pode ser aí na sua casa? Posso marcar bobeira na pista, não. — Diz cauteloso.
Busco qualquer sinal de malícia em seu tom mas não o encontro. Novamente busco pelas chaves e finalmente encontro. Felipe faz um sinal com o dedo para um dos carros parados. Impossível avistar quem estava dentro do carro.
Passo pelo portão e em seguida o homem me segue. Ele iria me matar dentro da minha própria casa, seria ali o meu fim. Apenas oro mentalmente para que meu pai não esteja no interior da casa.
Giro a maçaneta da porta de entrada e faço o pequeno truque de levantar e abrir a porta. Felipe observa tudo atentamente. Eu gostaria de saber o que ele estava pensando, talvez em me matar rapidamente.
— E-entra — Minha voz sai falha, ele percebe.
Felipe entra em minha casa observando cada detalhe. Finalmente seus olhos pousam em mim.
— Vou ser rápido — Ele diz levando sua mão ao bolso.
Fecho meus olhos deixando uma lágrima rolar. Penso em meu pai que será o único a chorar minha morte, ainda bem que não está em casa. Escolho não implorar pela minha vida, ele jamais teria pena.
Alguns segundos se passam e não sinto nada, abro meus olhos e vejo Felipe me olhando sem entender absolutamente nada. Em sua mão havia um envelope branco. Seus olhos descem até minha calça onde sinto a mesma molhar.
Não acredito!
— Tá de sacanagem... — Ele diz antes de gargalhar.
Sinto minhas bochechas queimarem ao nível máximo. Minha bolsa vai ao chão e meu cérebro implora para que minhas pernas corram o mais rápido possível até o banheiro.
A risada de Felipe já não é perceptível quando bato a porta do banheiro. Retiro minha calça ainda sem acreditar no havia acabado de acontecer. Ando de um lado para o outro torcendo para que o homem vá embora.
Não acredito que fiz xixi na calça como uma criança de cinco anos de idade, completamente assustada. Bom, isso deve ser normal de acontecer, não é mesmo?
Não! Pela reação de Felipe, não é.
Escondo meu rosto em minhas mãos em um ato desesperado de tentar manter a calma.
Ele vai ir embora, nada disso aconteceu.
Ele vai ir embora, nada disso aconteceu.
Repito para mim mesma. Após alguns minutos se ouvir nenhum ruído vindo da sala, decido sair do banheiro mas não sem antes enrolar uma toalha em volta da cintura.

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CDC - Concluída.
Fiksi RemajaHomem rude, mente fechada, usuário de cocaína e com a mente dominada por demônios tão confusos quanto o mesmo. Coração na sola do pé - exerto por uma pessoa; sua mãe -, e por isso Felipe irá contratar uma cuidadora de idosos, Mariana Ribeiro. Sem t...