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Aflição, substantivo feminino. Significado = sentimento de persistente dor física ou moral; ânsia, agonia, angústia.

Agonia, era o que mais definia o que estava sentindo naquele momento. Minhas entranhas se contorciam de ansiedade para saber o que aquele homem queria em minha casa.

Quando o carro de Eduardo finalmente estaciona próximo ao meu pequeno portão de madeira, agradeço mentalmente.

Desvio meus olhos até o rapaz ao meu lado; seu semblante não era um dos melhores e não posso fingir que sei o porquê.

— Obrigada... — Dou uma breve pausa quando vejo que ele se quer me olhou — por tudo. — completo.

— Posso te ver mais tarde? — Pergunta.

Notei um pouco de ironia em sua pergunta. Optei por fingir demência. Obviamente não queria estragar tudo o que houve na noite anterior.

— Claro.

Digo e ele destrava a porta. Saio sem pensar em mais nada. Antes de partir ele me encara e lança um breve sorriso. Fico ali observando o mesmo ir embora.

Merda, como eu queria ficar com ele.

Minha ficha cai quando vejo uma moto estacionada próxima ao meu portão. Caminho rapidamente até entrar em casa, pisando firme. Assim que abro a porta vejo meu pai sentado ao lado de Felipe, eles conversavam alto, pareciam se conhecer a décadas.

Horrorizada com a cena meu sangue ferve.

— O que...— Gaguejo — O que está acontecendo aqui? — Indago tentando manter a calma.

Felipe desvia seu olhar para mim e abre um sorriso cínico.

— Surpresa(?) — Diz o mesmo.

Cafajeste.

— Mari, não disse que você tinha um namorado, e ainda por cima torce para o Vasco. — Papai diz animado.

O inconveniente teve a audácia de dizer que era meu namorado?

— Ele não é meu namorado — Respondo sem tirar minha atenção de Felipe.

— Como não?

Meu pai estava surpreso.

— Como entrou aqui, cara? — Pergunto colocando minhas mãos em minha cintura.

— Seu pai deixou. — O rapaz responde como se fosse super normal.

Olho para meu pai completamente abismada.

— Pai, desde quando o senhor deixa entrar quem não conhece em casa?

— Ele não é um estanho, é seu namorado. Não é?

Meu pai estava perdido.

Respiro fundo e solto o ar vagarosamente. Felipe consegue causar confusão por onde passa.

— Pai, por favor nos deixa a sós?

— A casa é um cubículo, Mariana. Quer que eu vá para onde?

— Aqui... — Felipe se pronuncia pegando algo em sua carteira — Vai lá na padaria e compra um barulho na moral pra nós tomar um café.

Abro minha boca quando ele põe na mão do meu pai uma nota de cem, meu pai por sua vez fica todo animado. Sua animação dura pouco quando puxo a nota de seus dedos e a direciono a Felipe.

— Aqui ninguém precisa do seu dinheiro. — Digo orgulhosa.

Ele ergue sua sobrancelha, estava irritado.

— Ela não quer, você quer? — Pergunta ao meu pai que logo diz um vantajoso sim. Felipe puxa a nota de minha mão e entrega ao velho assanhado.

Não acredito. — Murmuro levando a mão a testa.

Meu pai não dá a mínima para minha pessoa, apenas sai de nossa presença. Fico ali encarando a parede, tentando de todas as formas não focar nos olhos daquele homem que um dia fora uma tentação para mim.

O cheiro do seu perfume não era o mesmo.

Ah, não. Ele trocou.

— Minha mãe sente sua falta. — Ele diz serenamente.

Fito o chão e respiro fundo. Eu também sentia falta dela no início, mas não sabia que a mesma se apegaria tanto a mim.

— Desculpa Felipe, mas isso não muda o que houve. — Digo chateada apenas por lembrar.

— E se eu disse que quem sente sua falta sou eu? — Ergo meu olhar até o seu — tá foda! Eu não consigo tirar você dá cabeça.

Ele ergue seus braços em rendição mas logo os abaixa de uma vez.

— E você quer que eu faça o que? Isto é um problema seu com sua cabeça, aliás, problemas na cabeça você tem vários. — Retruco.

— Você disse que estava gostando de mim, eu ainda lembro.

Estava.

Nenhum pouco contente com minha resposta ele se aproxima, ficando apenas alguns centímetros de distância. Pude sentir sua respiração irregular facilmente.

— Que é?! Tá dando pro viado do médico e de uma hora pra outra passou o que você sentia por mim?

Idiota insiste em chamar Eduardo de médico viado, ele não é médico nem tão pouco viado.

— Médico bom esse né? Cura a doença que é gostar de você — Lanço um sorriso sarcástico.

Vejo Felipe apertar seu maxilar. Ele segura minha cintura com força e se aproxima mais, colando nosso corpos.

Seus olhos puxados e seu cheirinho me deixavam desnorteada. Coloco minhas mãos em seu peito magro e o empurro, totalmente em vão.

Olho no fundo de seus olhos e ataco seus lábios, o deixando surpreso. Sua mão corre da minha cintura até minha nuca e a outra em meu bumbum.

Era possível ouvir passos no quintal mas provavelmente deveria ser de meu pai.

Oi, Mariana. Você está aí? — Ouço alguém chamar.

Eduardo.

Tento me separar de Felipe mas não consigo. Junto minhas forças e o empurro, ele se afasta e olha para trás de mim. Seu sorriso diabólico brota.

Me viro rapidamente, limpando minha boca. Ali estava o fisioterapeuta, nos encarando frustrado. Todas as minhas palavras fugiram, eu realmente não sabia como reagir. Mas que merda ele veio fazer aqui? Desço meus olhos até sua mão, vejo meu celular na mesma. Lembro-me que havia esquecido em seu carro.

Droga, sua burra.

Eduardo... — Tento dizer algo.

— Não precisa perder seu tempo. — Retruca ele, colocando meu celular em cima do pequeno móvel onde ficava a televisão.

— Quem perdeu tempo foi você, achando que ela iria ficar contigo — Felipe espeta, sem tirar o sorriso do rosto.

Ele queria um pretexto para causar um incêndio e começar uma briga.

Tarde demais, o incêndio já estava acontecendo.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora