Após trocar de roupa caminho lentamente até a porta do quarto. Me encosto na mesma e observo cada movimento que Felipe faz, o mesmo retira de uma sacola alguns alimentos, pude perceber também uma ave, o que me surpreendeu.
— Não está pensando em assar isto uma hora dessas, está? — Pergunto tomando a sua atenção para mim.
— Irei fazer — Responde sem tirar sua atenção das coisas — aliás, eu vou cozinhar hoje.
— Sério? E você sabe cozinhar?
— Je peux très bien cuisiner — Ela diz lentamente, me surpreendendo totalmente.
— Felipe, isso é...
— Francês? — Pergunta sorrindo —Sim.
— Eu não sabia que você era bilíngue.
— Por que sou frente de um morro?
— Não... é! Não quero ser grosseira, mas sua aparência não diz muito.
Digo constrangida.
— Estudei em uma das melhores escolas do Rio de Janeiro. Meu pai sempre quis que eu assumisse seu lugar mas minha mãe detestava a ideia — Diz mostrando-me uma garrafa de vodka, abro um sorriso em resposta — No fim, meu pai venceu.
— Se arrepende?
Me aproximo mais, deixando o delicioso cheiro de sua roupa tomar conta de mim. Luzia era boa no que fazia.
— Nenhum pouco. Sem minha pessoa a comunidade estaria sofrendo nas mãos de miliciano.
Felipe se vira para mim, mostrando o quão alto era. Meus olhos se perdiam nos seus. Ao sentir o toque de seus dedos em meu pescoço, fecho meus olhos.
— Se soubesse o que sinto vontade de fazer com você toda a vez que você aproxima.
Me perco em êxtase por alguns segundos, mas logo desperto quando sua presença se torna longínqua.
— Posso te ajudar? — Pergunto pegando uma das sacolas.
— Não. — Felipe puxa a mesma de minha mão — Só senta ali.
O tempo foi passando, eu ingeria meu segundo copo de vodka com gelo. O cheiro da comida estará maravilhoso, meu estômago implorava por aquilo. Quando finalmente a ave foi ao forno, Felipe se senta ao meu lado. Ele pega meu copo e bebe todo o líquido de uma só vez. Eu apenas observo.
— Não seria melhor passar a virada com sua mãe? — Pergunto puxando assunto.
— De qualquer forma ela iria dormir. Ana está na casa dos parentes do merda do marido. Minha mãe foi com ela.
Ele revira os olhos.
Lembro-me automaticamente de quando o vi com uma mulher. Prefiro não dizer, não é de minha conta.
— Ana é uma excelente pessoa. Mandou mensagem perguntando onde eu iria passar a virada.
Ponho minhas penas em cima do sofá e noto os olhos de Felipe sob as mesmas.
Não sabe disfarçar.
— Não foi ela quem mandou a mensagem, foi eu. —Confessa.
— Com assim? Por que?
Pergunto surpresa.
— Clonei o whatsapp dela, para falar com você.
— Isso é invasão de privacidade. Não pode fazer isso — Disparo indignada.
— Sério que você está falando isto para mim?
Ele ri e me dou conta que cobrar o certo de um criminoso não é tão simples.
— Por que quis vir aqui? — Indago.
— Você é muito lerda. Eu não consigo tirar você da mente. Posso ter várias jogando pra mim, mas você sempre insiste em aparecer para mim — Sua mão vai de encontro a minha coxa. — até música fiz.
— Você compõe? — Pergunto animada.
— Mais ou menos. Porra, eu não deveria ter dito isto a você.
Felipe coça a cabeça, estava constrangido. Pela primeira vez o vejo desta forma.
— Como não? Para de graça, canta a música para mim.
— Tá doidona? — Pergunta rude.
— Felipe, por favor!
Ele se levanta, ignorando totalmente meu pedido. Seguro na barra de sua calça, revelando sua cueca azul marinho.
— Para, Mariana. Porra, eu não vou cantar — Diz retirando minha mão. Eu apenas ria.
— Canta, por favor!
— Não.
Subo no sofá e pulo em suas costas de uma vez. Ele se assusta e me segura.
— Cantaaaaaa — Insisto — faço qualquer coisa.
— Sai, de cima, caralho — Diz mexendo seu corpo de um lado para o outro, fazendo minhas mãos escorregarem aos poucos — eu vou te jogar no chão — Ameaça rindo.
Desço minha perna um pouco e sem intenção sinto seu revólver em sua cintura.
— Tá bom, carrapato. Eu canto, agora sai.
Ele se joga no sofá, caindo por cima de mim. Esse homem pesa. Felipe se senta no sofá e eu me ajeito, colocando meus pés gélidos em seu colo. Ele encara meus pés em seguida me olha com a sobrancelha arqueada.
Meus pés relaxam quando sinto sua mão áspera contra o mesmo, massageando-os de maneira grossa.— Vai ficar me devendo — murmura — é um rap.
— Tudo bem. Agora cante!
Era estranho saber que um homem cujo faz tudo errado, burla o sistema, usa o vícios de pessoas para seu benefício, um homem ruim ao olhos de todos estava em minha casa, me fazendo tão bem. Eu deveria odiá-lo, como qualquer pessoa normal faria mas acontece que vejo este homem além de sua aparência.
— Ela é caçadora de emoção
No modo animal é um vulcão
Já vejo esse caso no meu quarto
Teu cabelo enrolado na minha mão — Ele começa. — Sangue à flor da pele, suada. Nosso corpo virando um só
O mundo deu um nó
Deus existe e a prova é que eu tôDentro de você
Mais forte que um caça
Mais rápido que um jato
Voando muito altoDentro de você
Mais perfeito que um astro
Mais forte que o aço
É melhor do que vencer
Dentro de você
Dentro de vocêDo que seria de um vencedor sem suas guerras pra lutar?
O que ele faria, se ele não tivesse história pra contar?
Amanhece o dia, ela é a bê da minha vida
Deixo deitada e acendo um, paro e penso: Mó satéliteMinhas bochechas estavam cordas por conta da letra desta música. Ele cantava com um sorriso sacana no rosto enquanto batucava em meus pés.
— Cê sabe bem que sou um cara diferente
Minha intenção não é entrar na tua mente
Cê que quis se envolver, confesso que briso na gente
30 garrafas de gin, um rolezin
Quando te vi, eu acenei de cantin, no sapatin, peguei contatinE hoje você tá aqui
E hoje você tá aqui
E hoje você tá aquiToda vez me vejo através do seu olhar
De instinto desejo, de um erro singular
Toda vez me vejo através do seu olhar
De instinto desejo, de um erro singularFui deixando acontecer
Sempre me amei primeiro
Não queria me envolverAcho que foi o seu jeito
Foi assim que me entreguei
Acordei no seu travesseiro
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CDC - Concluída.
Teen FictionHomem rude, mente fechada, usuário de cocaína e com a mente dominada por demônios tão confusos quanto o mesmo. Coração na sola do pé - exerto por uma pessoa; sua mãe -, e por isso Felipe irá contratar uma cuidadora de idosos, Mariana Ribeiro. Sem t...