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Observo Ana que parecia incomodada com algo. Seus olhos não mostram alegria. Há algo acontecendo com essa mulher e eu gostaria de ajudar, talvez contando que vi seu marido com uma mulher, não seria uma boa ideia. Chutar cachorro morto não é comigo.

Ela estará linda, um vestido branco curto, um salto não muito alto, cabelos soltos e uma maquiagem um tanto quanto exagerada, caiu bem a ela.

— Vocês estão juntos? — Pergunta quebrando o clima.

— Acho que sim. Bom, ele pediu formalmente...do jeito dele — Rio — Vem, que ver sua mãe.

Ela acena com a cabeça e assim saímos do quarto para a sala. Gleyce estava sentada em sua cadeira, seu filho dizia algo para a mesma, mas no instante que apareço, a atenção da mulher é totalmente minha. Não me contenho e me aproximo rapidamente.

— Mariana — Ela diz.

Era nítida sua dificuldade para pronunciar as palavras, um lado de seu rosto estará paralisado, mas é de extrema felicidade ouvi-la dizer meu nome.

— Não acredito... você está falando — Digo surpresa. — meu amor, você conseguiu.

Felipe me encara e abre um sorriso.

Porra, é uma merda falar assim. — Gleyce diz, me surpreendendo.

Eu jamais poderia imaginar que a mãe de Felipe fosse uma mulher "pra frente", mas estava enganada.

Solto uma risada e observo Ana se aproximar de nós.

— Vai lá para casa mais tarde? — Ana pergunta ao seu irmão.

— Vou ver, se tiver tudo tranquilo. — Responde um pouco mais calmo.

— Vamos, mãezinha? — Ana revira os olhos — antes que o outro de um ataque.

Disse se referindo ao seu cônjuge. Se ela soubesse...

Ana segura nas alças da confortável cadeira de rodas enquanto a desloca do local onde se encontrava.

juízo. — Ouço Gleyce dizer. Não sei se para mim ou para Felipe.

Acompanhamos ambas até o portão, a rua estará com bastante pessoas, um pagode tocava alto em um bar bem próximo a casa. Várias mulheres sambando junto a alguns homens, do outro lado um carro e o som tocava funk, as músicas se encontravam e não daria ao certo para entender algo.  Dou um abraço em Ana e um beijo em sua mãe. Observo as duas entrarem em um carro, mas não sem antes Felipe ajudar sua mãe a entrar e por a cadeira no porta malas. Logo ele se afasta, ficando ao meu lado. Noto que o condutor era o marido de Ana. Ele me fita, seus olhos eram mais penetrantes que uma adaga. O carro que o mesmo estará, não é o que dirigia na última vez que o vi.

Meus devaneios foram tão profundos que só fui tirada quando o carro da partida. Olho para o lado e não encontro Felipe, dou mais uma procurada e o vejo conversando com um rapaz e uma garota. Me surpreende quando a menina põe a mão em seu ombro e da um risada, como se fossem íntimos. O cafajeste...digo, Felipe da uma risada e direciona seu olhar para mim. Ergo minha sobrancelha e o mesmo se despede dos amigos. Enquanto se aproxima de mim eu fito o outro lado da rua, onde as pessoas dançavam.

— Vem — Ouço sua voz perto a mim. Viro meu pescoço e vejo que o mesmo estará a entrar em casa. Sigo sem dizer nada.

— Você não deveria ter tratado sua irmã daquela forma. — Digo adentrando a sala.

— Tô com fome — Reclama ignorando o que eu havia dito.

— Estou falando com você, Ret.

— Estou ouvindo, amor.

Ignoro sua ironia e o sigo até a cozinha. Me sento na cadeira enquanto observo o mesmo retirar do freezer o que parecia ser uma lasanha congelada.

— Ela te ama, Felipe e tenta demonstrar isto a todo tempo, mas você só a afasta.

Ele bufa jogando a comida em cima da pia. Definitivamente não estava pronto para essa conversa. Eu não sei, mas, tem algo de errado.

— Eu trato cada um do jeito que merecem ser tratados. Se com ela é assim, tem motivos. — Explica sem paciência.

— Não vejo motivos para tratar sua irmã feito lixo. — Espeto.

— Caralho, Mariana — Ele esfrega seu rosto com suas mãos. — Eu estou a dois dias sem saber o que é pó, estou lutando pra ficar tranquilo pra você. Tá sendo muito difícil, não piora minha situação.

Sua revelação me choca. Minha ficha ainda não havia caído, de quão forte era seu vício e ele estava ali, lutando para ficar sóbrio, por mim.

Me levanto e caminho até o mesmo. O abraço apertado e alguns segundos depois ele retribuí. Seu nariz vai de encontro aos meus cabelos e suas mãos repousam em minha cintura.

Desculpa — Sussurro.

— Ela nem sempre foi o que é. Não de muita corda — Alerta. Apenas aceno com a cabeça.

Parto o abraço e decido o ajudar com sua lasanha.

Observo Felipe comer aquela lasanha como se não houvesse um amanhã, não acredito que esse homem sinta tanta fome.

Por mais que eu não goste de discutir, e saiba que muitas das vezes fingir que nada houve é a melhor opção, não consigo fazer isto quando se trata de Felipe. Toda vez que ele sorri, vejo um cafajeste, um cafajeste maravilhoso mas não deixa de ser um.

— Quem é aquela menina que você estava conversando? — Tento soar naturalmente.

Ele me encara e ri.

— Lá no portão?

Felipe solta o garfo e se inclina, encostando na cadeira. O sorriso maroto não saia de seus lábios. Como se estivesse achando graça de algo.

— Isso. Do que você está rindo? — Pergunto incomodada com seu sorriso.

— Ela é ele. Karoline, trabalha para mim em festas raves.

Minhas bochechas ruborizam. Não acredito que fiquei com ciúmes dele com outro homem, quer dizer, não era um homem e o corpo dela é terrivelmente bonito.

— E você já ficou com ela?

Seu sorriso some.

— Tá me estranhando, caralho? — Indaga nervoso. — ele vende umas roupas, pedi pra trazer aqui pra tu ver, amanhã.

Ela — corrijo — não precisa, eu tenho roupa.

— Que não estão aqui. Amanhã vamos lá pra casa da Ana, e você não pode ir com minha roupa.

Ele tinha razão, mas algo me diz que Felipe quer me prender aqui.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora