27

50.8K 3.5K 1.1K
                                    

Observo cada detalhe de seus lábios, logo desvio meu olhar para seus cabelos um pouco bagunçados. Eduardo abre um sorriso e me encara, desta vez desviando a atenção da estrada. Hoje é o meu aniversário, não quis comemorar mas o homem fez questão de preparar um almoço em sua casa. Vinte e seis anos.

— O que foi? — Pergunta ele.

— Você é muito lindo — Vou direto ao ponto.

— São seus olhos.

Faço uma careta com sua resposta.

— Que resposta clichê! — Disparo rindo.

— Você tem a língua bem afiada, Mariana. Eu gosto disto em certas ocasiões, ouso dizer que ainda mais no dia de hoje.

Seus olhos permanecem fixos na entrada.

Observo cada casa que passará diante de nós. Inevitável não pensar em meu pai, o mesmo não quis vir comigo, estava indisposto. Essas dores abdominais que ele anda sentindo são realmente preocupantes e contar com o sistema público de saúde, não é muito bom.

O carro estaciona em frente à casa de Eduardo, localizada na Humaita. Saio juntamente a ele, observando cada canto daquele lugar.

Tão agradável.

Apenas ele e eu. Entre risos nossa conversa fluía, me esqueci dos problemas pessoais por um longo período. Ninguém nunca havia feito algo parecido por mim, ninguém nunca havia me dado tanto valor quanto Eduardo em pouquíssimo tempo. O homem me fez tomar vinho tinto no almoço, nunca fiz tal coisa, me parecia tão chique

— A comida estava maravilhosa — Digo agradecida — Você cozinha muito bem.

Eduardo da um gole em seu vinho e ri.

— Não irei tirar as honras do Devomon, não sei cozinhar.

Refere-se ao restaurante.

— Ainda não me disse como está seu pai — Ele me fita.

— Com dores. Estou extremamente preocupada, Eduardo. — Encaro o prato de porcelana a minha frente — levei ao hospital, pediram uma radiografia, mas o aparelho está ruim.

— Posso dar um jeito nisto.

— Não pre... — Sou interrompida por Eduardo que bufa irritado. Joga o talher contra o prato e me encara.

— Engole esse orgulho besta. A vida do seu pai pode estar em risco, você não é absolutamente ninguém para decidir se ele deve ou não lutar pela sobrevivência — Sua voz era rígida, assim como meu corpo ficou naquela cadeira. — Como profissional, você deveria saber disto, e principalmente zelar pela vida do mesmo.

Não havia palavras para retrucar. Me encolho e suspiro. Quando foi que nossas risadas e conversas descontraídas tomaram um rumo tão mórbido?

— Certo...você está certo. — Sussurro.

— Como? Será que poderia repetir isto para que eu possa filmar? — Espeta ele, brincando.

— Para, não tem graça. Então, o que devo fazer?

Eduardo se inclina, pega a garrafa de vinho e vira o líquido em meu copo. Observo cada movimento atentamente. Ele se ajeita novamente em seu lugar, deixando a garrafa de lado. O fato do mesmo não ter enchido seu copo, me intriga um pouco.

— Vá até o Rio Imagem, diga que quer falar com o doutor Álvaro Fontes. Ele será previamente avisado de sua ida.

— Sendo assim, não irei trabalhar amanhã. Tenho que resolver o quanto antes. — Suspiro.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora