Os dias passaram, para mim como um foguete. Minha vida se tornou uma rotina — acordar, fazer as coisas em casa, expulsar Felipe, assistir televisão, comer, comer mais e dormir — se eu disse que não sinto falta dele, estarei mentindo mas toda a maldita vez que ele aparece, está bêbado ou chapado demais. Deixa dinheiro comigo e vai embora. Ana simplesmente me entope de mensagens, diz que quer vir me ver, mas eu digo que prefiro ficar sozinha.
Tecnicamente não estou só, tenho meu bebê. Sinto falta do meu pai, olhar para os lados e se ver sozinha é um sentimento horrível. As vezes bate um desespero, um medo. Chamei William no whatsapp, ele sempre me responde com mensagens curtas. Uns três dias atrás vi que Eduardo havia me desbloqueado, não mandei mensagem e não espero qualquer atitude do mesmo. Em sua foto de perfil ele estava abraçado com uma mulher, desejo felicidades.
Se é que eu possa desejar algo que não tenho.
Encaro o relógio, são seis da tarde. Normalmente Felipe aparece essa hora. Dito e feito, ele bate a porta enquanto estou deitada no velho sofá de meu pai, devorando alguns bolinhos de arroz.
Rolo meus olhos e deixo meus bolinhos de lado. Me analiso e vejo que minha roupa não ajudará muito. Um short curto de dormir, e uma regata e como de costume, sem sutiã.
— Fala aí. — Cumprimenta. Noto seus olhos vermelhos.
F1, com certeza.
— Oi. Vai entrar? — Pergunto sem paciência.
Felipe passa por mim um pouco sem jeito. Ele emagreceu, isso me preocupou.
— O que é isso?
Refere-se ao meus bolinhos de arroz, que estará em suas mãos.
— Come. Você está precisando. — Digo irônica.
— Cheia de graça — Responde com a boca cheia.
Graças a Deus minha gestação não tem dessas coisas de enjôo.
— Veio fazer o que?
— Eu sempre venho te ver
— Não sei porque.
— Tenho que ficar de olho no que é meu.
Ele se joga no sofá e devora meus bolinhos.
— Espero que esteja falando do bebê.
— Pior que não.
Sua ironia me mata.
— Pena, porque eu quero que você se foda.
Dou as costas na esperança de ir para o outro cômodo e ignora-lo até o mesmo ir embora. Felipe levanta do sofá rapidamente e se põe em minha frente. Havia uma pistola de cada lado em sua cintura, sua camisa marcava tudo.
— Vai continuar com isso até quando? — indaga me fuzilando com seus olhos — Eu não aguento mais, Mariana.
— Não aguenta o que? — Me finjo de sonsa.
— Esse chove e não molha, caralho. Esse seu drama já deveria ter passado.
Sua mão prendeu em minha cintura.
— Se não passou é porque talvez não seja drama. Será que esse tempo não serviu para você por a cabeça no lugar?
— As duas estão no lugar, a de baixo por pouco tempo. Tô sem foder faz uma cota.
— Você leva tudo na brincadeira.
Tento me desvencilhar de suas mãos mas foi em vão.
— Volta pra mim, neguinha. Eu tô enlouquecendo. — ele bufa — prometo que não encosto em você. Nunca mais vou te machucar.
Desvio meus olhos para o chão. Tudo o queria era fugir dessa conversa. Realmente estou bem sozinha, prefiro me amar e ter um tempo para mim. Passei muitos anos vendo meu pai nos afundar por conta de seu vício e não estou preparada para passar por isto novamente.
— Eu realmente não quero mais.
Foi automático. Quando eu disse ele me soltou, seus olhos percorrem meu corpo mas logo fita o chão. Um sorriso sarcástico brota em seus lábios.
— Você tem sorte de estar grávida. — murmura. — Tá tranquilo, não quer? Firmão. Só não quero chorôrô depois
— Você não é o último homem do mundo. — Rebato.
— Pra você eu sou. Se tu acha que vai ficar com outro, tá enganada.
— Poupe-me deste diálogo machista.
— Ô — ele aponta o dedo em meu rosto — tô avisando. Quer ficar sozinha? Beleza, mas se não for comigo não vai ser com mais ninguém.
— Ah vai tomar no cu, Felipe. Enche a porra do cu de maconha e vem falar besteira — Rebato.
— Tu vai se arrepender, guarda minha visão. O papo foi reto.
Não respondo, apenas reprimo a vontade tremenda de meter um soco em seu nariz. Ele caminha em direção a saída mas para. Opto por não me virar. Logo a porta bate, denunciando sua saída.
Solto um grito de fúria.
Ele sente prazer em fazer da minha vida um inferno. Ouço meu celular tocar.
Ana.
— Fala. — Atendo sem paciência.
— Calma senhorita ignorante. Liguei para avisar que Karol e eu vamos te arrumar amanhã.
Droga eu havia esquecido da festa que eles planejaram por conta da gestação. Ânimo zero.
— Ah. Não precisa.
— Diz isso para Karol. — ela ri — já vi todas as bebidas, consegui várias umas coloridas, uma bem interessante. Pena que você não pode.
— Ana, preciso desligar.
— O que houve?
— Nada. Te vejo amanhã.
Finjo empolgação para da um fim naquela conversa.
— Espera...minha mãe quer falar com você.
Por alguns segundos o telefone fica mudo.
— Alô?
Ninguém responde.
— Oi, Mariana. É Gleyce.
Um sorriso brota em meus lábios.
— Oi meu amor. Como você está?
— Me sentindo abandonada. Quando você vem me ver?
— Bom, amanhã na festa iremos nos ver. Está no viva voz?
— Não
— Ana está lhe tratando bem?
— Não. Não tem problema. Até amanhã.
Ela desliga.
Não precisa ser um gênio do código morse para descobrir que ela estará a me pedir ajuda. Que merda, justo agora discuti com Felipe. Ele está se afundando e não percebe o que está acontecendo ao seu redor. O mundo pode estar acabando e ele iria se perguntar que terremoto foi esse? Mesmo esperando um filho dele, não faço parte da família, não posso me intrometer assim. Preciso intervir de outra forma.
Quem é você Ana Cláudia? Por que está fazendo isso tudo, inclusive com sua própria mãe?
Meus pensamentos me levam até o dia em que seu marido foi morto por Felipe. O mesmo havia dito para ela mostrar quem realmente é...
Ela vai, querendo ou não.

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CDC - Concluída.
TeenfikceHomem rude, mente fechada, usuário de cocaína e com a mente dominada por demônios tão confusos quanto o mesmo. Coração na sola do pé - exerto por uma pessoa; sua mãe -, e por isso Felipe irá contratar uma cuidadora de idosos, Mariana Ribeiro. Sem t...