Com agilidade pelo o dinheiro que Felipe havia deixado para mim, em cima da estante de madeira, pelo menos cumpriu com a palavra. Saio da casa sem demora, a esta hora ele ainda estava dormindo.
A calça jeans estava um pouco larga em minha cintura, o que me incomodava mais que o sol, pelo fato de ter que levantá-la a cada minuto.
Algumas pessoas pessoas circulavam pela comunidade, crianças voltando com pães para sua residência e alguns trabalhadores seguindo para mais um dia.
Optei por não ir até a casa de Ana, meus sentimentos já estão aflorados demais, não suportaria ver sua mãe e não chorar. Esse coração de pão doce ainda vai me ferrar, bom, ja ferrou.
Só quando pego o ônibus me dou conta de que eu estava livre de certa forma, livre para procurar outro emprego. Voltar a morar com meu pai não seria uma das melhores coisas, nem sei como ele se encontra mas ainda há uma certa magoa dentro de mim em relação ao que o mesmo fez.
Logo pego minha segunda condução para finalmente chegar em casa. Seu Pedro, como sempre estava ao outro lado da rua, vendendo sua água.
Caminho rapidamente até minha casa, o portão estava fechado. Chamo algumas vezes pelo meu pai mas não obtenho resposta alguma. Como uma bia mulher que sou, ponho minhas coisas no chão e pulo o muro. Quando criança sempre fiz isto. Para minha decepção a porta da sala estava trancada.
Ótimo, agora tenho que advinhar onde meu pai esta.
Deixo minhas coisas na varanda e vou até o lugar onde ele costuma ficar todos os dias. Bingo! Lá estava ele, caído na calçada, bêbado, suas roupas sujas, estado deplorável mas a garrafa de 51 estava ao seu lado. Meus pensamentos vooam até Felipe, os dois teem algo em comum, são dependente de algo que os matam a cada dia, os dois não souberam dar valor as pessoas certas no tempo certo.
Me aproximo do coroa jogado na calçada, o cheiro era de urina pura.
— Cê é a filha dele, né? — Ouço um dos cachaceiros perguntar.
— Sou.
— Ele ta ai desde ontem. Já tentei colocar pra casa mas ele não vai — Diz o homem, chamando atenção dos outros que ali estavam.
Não respondo, apenas abaixo até meu pai e o balanço algumas vezes, ele reclama e volta a dormir. Respiro fundo sentindo o cheiro da urina queimar meu nariz. Seguro em seu braço com força e levanto de uma vez. Sem forças para mater meu pai de pé, eu caio junto com ele.
Deus, eu realmente mereço isso?
— Eu ajudo. Pera ai — Disse um homem. Isto fez com que dois doa outros que estavam bebendo, também me ajudasse.
— Podem me ajudar a levar ele pra casa? — Peço enquanto limpo minha calça jeans que deveria estar manchada de barro vermelho, o que mais havia em frente aquele bar.
Os homens levantam meu pai, colocando seu abraço apoiado em seus ombros.
— Bora, pra onde fica?
Caminha em passos largos, a frente daqueles homens para mostrar onde fica minha casa. As pessoas na rua pareciam adorar aquela cena ao bêbado sendo carregado, ninguém tirava os olhos um segundo se quer.
Abro o portão dando espaço para eles entrarem.
— Podem deixá-lo aqui na varanda mesmo. Muito obrigada — Abro um sorriso, agradecida.
— Nada. Deixa mais o velho ai beber não, ele não ta aguentando.
Aceno com a cabeça e os homens voltam para o bar. Vou até meu pai e gravo bem a cena em minha mente. Só agora eu sei o que minha mãe passou.
Busco pelas chaves e a encontro no bolso de sua camisa.
Arrasto seu corpo pesado para o chão da sala, e só assim ele desperta um pouco. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto inchado, tudo efeito da cachaça.
— Que? Onde eu tô? — Pergunta completamente bêbado.
— Pai, levanta. Vai tomar um banho, por favor. — Suplico. Ele apenas deita sua cabeça no chão e fecha os olhos novamente.
Já sabendo que dali não sairia nada, o deixo sozinho e vou para meu pequeno quarto. Tu estava do mesmo jeito, apenas com poeiras sob os móveis. Ponho mei celular para carregar e vou para o banho. Ainda enrolada na toalha, guardo minhas coisas e deixo meu dinheiro na gaveta de calcinhas. Quando termino busco por mais coisas dentro da bolsa, encontro o cartão do fisioterapeuta, Eduardo. Abro um sorriso involuntário só de observar seu número naquele pedaço de papel. Ele é um homem bastante atraente, educado mas acho que no momento não posso me envolver com ninguém, preciso por minha cabeça no lugar.
Preparo um café e arrumo a mesa com o que havia naquela casa, ou seja, nada. Me sinto culpada por deixar meu pai nesse estado mas se a pessoa tem dinheiro para beber, ela tem para comer. Não posso ficar dando mole para ele. Meu pai é um excelente pedreiro e ganha bem pelos bicos que faz mas prefere gastar em cachaça.
Me sento sozinha a mesa, tomo um gole do mei café extremamente forte. Observo cada canto daquela cozinha e sem permissão, de repente, começo a chorar compulsivamente. Eu não queria chegar a este ponto, sair da casa que mamãe deixou para mim e ter que ir morar de aluguel. Pode não ser o fim do mundo, mas hoje tenho dinheiro mas e amanhã, como será? Morar de aluguel não será fácil mas é necessário.
Além de correr atrás de emprego, terei que correr atrás de casa para alugar, tudo sozinha. Estranho, eu já estava acostumada de ter que viver e correr atrás de tudo sem ter alguém para me auxiliar mas agora, parece que falta algo. Antes eu tinha Cristiane, quem sempre me dava conselhos mas ela era o tipo de pessoa que hoje prefiro evitar.
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CDC - Concluída.
Teen FictionHomem rude, mente fechada, usuário de cocaína e com a mente dominada por demônios tão confusos quanto o mesmo. Coração na sola do pé - exerto por uma pessoa; sua mãe -, e por isso Felipe irá contratar uma cuidadora de idosos, Mariana Ribeiro. Sem t...