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Dentro do carro Mario não desviava seus olhos do caminho, havia muitas pessoas pela rua.

O silêncio era constrangedor, quando finalmente chegamos em frente a casa  de Felipe, tratei de abrir a porta mas algo me impediu de sair — a mão de Mário, em minha coxa.— encaro o homem e retiro sua astuta mão.

— Ele não te merece — diz me encarando — ele não merece ninguém.

Solto uma leve risada irônica.

— Oras, se não é o sujo falando do mal lavado. Poupe-me.

— Estou só alertando, menina.

Sua voz era carregada de ironia. Isso me enjoa.

— Acho que preciso alertar Ana de algumas coisas, o que acha?

— Acho que deveria tomar conta da sua vida. Sabe, cair fora daqui enquanto há tempo.

O mesmo se inclina para meu lado. Meu coração acelera ao sentir sua respiração tão próxima a mim, por um momento pensei que ele fosse me beijar mas ele apenas abre um pouco mais a porta e se afasta. Entendo o recado e saio batendo a porta com certa força, ele apenas ri.

Esse homem tem algum problema.

O portão estará aberto, entro com tudo avistando Felipe sentado no chão enquanto Karol segura uma mangueira, jogando água no mesmo. Ali estará mais três homens, um deles é o mesmo que tinha uma queda por Ana.

— Ainda bem que você chegou. Ele se mijou todo — Karol diz prendendo o riso.

Os demais não aguentaram e riram.

— Pode ir, eu assumo agora.

— Certo. — Ela joga a mangueira no chão e se aproxima — desculpa não contar que eles estavam no banheiro, fiquei com medo da sua reação.

— Tudo bem, bi. Relaxa.

— Eu não te conheço direito mas vou te dá um conselho de que conhece esse viciado a anos...— Ela o encara mas logo desvia seu olhar para mim — sai fora disso. Ele não muda, nunca. Essa alma está perdida.

— Não dá, já estou envolvida demais. Infelizmente ele me puxou para o abismo. — Digo em um tom baixo.

— Se precisar de alguma coisa, os ocós irão ficar aqui na esquina. Ah, isso aqui estava no bolso dele. — Ela me entrega a carteira e dois celulares, um deles era o meu— aceno com a cabeça e ela chama os meninos.

Observo Felipe sentado ao chão com as costas escoradas na parede e os olhos fechados. Completamente molhado. Óbvio que não foi só a cocaína que o deixou desta forma, mas a mistura com álcool.

Com muita dificuldade consigo levá-lo para dentro de casa, retirar suas roupas e deita-lo na cama. Pego meu celular novamente e vejo que o mesmo já não estava bloqueado.

Filho da puta, desbloqueou meu celular. Como?

Porra...já tô no inferno?

Ouço ele murmurar.

— Ainda não, mas se não disser com o desbloqueou meu celular, você vai.

Ele ri.

— Cadê o meu?

Pego seu celular e vejo seu papel de parede do Flamengo, logo o entrego.

— Achei que fosse vascaíno.

— Tive que conquistar meu sogro de alguma forma.

Rolo meus olhos.

— Por que fez isso com meu celular? Não pode invadir minha privacidade.

— Tu é minha namorada, não tem motivos para ter senha no celular.

O silêncio se instala, todas as coisas que planejei jogar em sua cara, simplesmente sumiram. Me sento na cama ficando de costas para o mesmo, respiro fundo sem saber o que dizer.

Não demora muito para que eu sinta sua mão tocar meu ombro por cima do moletom.

— Foi mal... —Ele murmura

— Por meu celular ou pela decepção na casa da sua irmã? — pergunto irônica.

— Pelos dois. Cê não sabe como é difícil...

— Ah, Felipe — Digo e me levanto o encarando — difícil? Cara, difícil é vender bala no sinal de baixo sol, difícil é um pai de família sustentar geral com um salário mínimo, difícil é uma mãe criar um filho sozinha. O que você passa não é difícil, você faz ficar difícil porque não quer mudar.

— São coisas completamente diferentes, caralho.

— Primeiro que você não assume ser um viciado...—Ele me interrompe

— Viciado é teu cu. Namoral, chega desse papo

— Viu só? Você foge.

Ele se levanta caminhando até o banheiro, pude avistar sua bunda branca agora nua. Antes que ele fechasse a porta, eu intervi.

— caralho, posso nem cagar em paz.

— Você precisa de ajuda, vai acabar se matando, porra.

— Eu só preciso de você, se eu tiver você comigo, fico tranquilo.

Ele não iria aceitar ajuda, de forma alguma.

— E eu não posso te perder, Felipe. Então coopera comigo. Não seja um filho da puta egoísta.

Vejo um sorriso brotar em seus lábios.

— Tá com a boquinha muito suja. Tá passando tempo demais comigo.

— Será que a Rayssa também está? Ela passou tempo demais contigo.

Minha voz exalava ironia.

— Não precisa insinuar nada, não pego ela. Naquela boceta tem mais marginal que na cadeia.

— Homem gosta de pegar sujo de outro.

— Ah, vai tomar no cu. Me deixa em paz, Mariana.

— Não seja por isso. Amanhã tô descendo, preciso trabalhar.

Me afasto da porta e vejo o mesmo sair do banheiro. Impossível não fitar seu membro, parecia triste quando não ereto.

— Vai avacalhar minha mente com outro problema. Você gosta de caçar coisa para me contrariar.

— Não vejo nada demais, é meu trabalho.

— Você não vai. — Espeta

— Claro que vou.

— Se gosta de vender bala eu abro um barraca de bala pra tu, mas na rua tu não fica. Aliás, não é uma boa ideia você ficar saindo da comunidade.

— O procurado aqui é você. — esperto.

— Geral já te viu comigo. Se quer arriscar...

— Como assim, Felipe?

Entro em desespero com a hipótese de ter que ficar trancafiada neste lugar, simplesmente por ter um relacionamento com ele.

— Questão de segurança.

— Não adianta, nós dois sabemos que eu irei.

— Veremos.

Ele bate a porta do banheiro com força, se trancando.

Pego meu celular e vou direto em meu whatsapp, o filho da mãe havia lido todas as minhas conversas. Xingou Eduardo mandando o mesmo nunca mais me procurar. Eduardo por sua vez, me bloqueou.

Vejo que há uma mensagem de Ana, recente. Perguntando como Felipe estará, respondo que bem.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora