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O álcool escorria pelo acento de sua moto novinha, as pessoas ali presente provavelmente me achavam louca. Que se dane! Jogo o fósforo na moto e saio correndo de lá.

Ele não brinca mais comigo.

Me faltava ar quando finalmente cheguei a casa de Ana. Os convidados me fitaram sem entender o motivo da falta de ar. Entro na casa apenas com o saco de carvão em mãos.

Dou de cara com Gleyce sentada na cadeira, ao lado da televisão. Ela me encarou novamente, com aqueles olhos afiados como espada.

Fiz merda, Gleyce

Sussurro para a mulher que infelizmente não pode me responder.

Largo o carvão na sala e vou atrás de Ana que estava na cozinha pegando as comidas para servir.

— Demorou hein — Reclama ela — Eita, tá pálida.

— Tu não vai vai acreditar no que eu fiz. — Digo desesperada, olhando para a porta, sabendo que a qualquer momento ele poderia entrar ali.

— O que tu fez? Cadê o álcool?

Não é consegui responder, eu estava tremendo demais. Minha cabeça girava, senti vontade de vomitar e de me esconder de baixo da cama.

Não demorou muito para Felipe passar pela porta. Não corri, simplesmente fiquei ali esperando o que ele iria fazer.

— Deixa eu conversar com ela — Ele diz para Ana

— Não quero saber de porradeiro na minha casa — Alerta antes de sair.

Fito o homem a minha frente, sem camisa, e corpo suado, chuteira nos pés.

— Ta tentando testar minha paciência? Ou quer que eu perca a noção e te arrebente? — Ele eleva o tom de voz. — Por que tu fez aquilo?

— Baixa o tom. Você tá achando que eu sou as meninas de quinze anos que tu come e larga por aí?  As que tremem na base quando tu passa? Tenho vinte e cinco anos,Felipe.

Digo autoritária.

— Sua atitude demonstrou ter cinco. Parece uma criança birrenta. Caralho, mas ficou com ciúmes e quis colocar fogo na casa da mina?  E na minha moto, porra?!

Ele estava tentando assimilar o que aconteceu.

— Você não pode pegar as mulheres e fazer o que bem entende. Eu tô caindo fora. Você foi a pior coisa que me aconteceu.

Eu sabia que eu era a iludida, eu tinha a plena certeza de que eu era a imbecil que se apaixonou sozinha porque ele estava pouco se fodendo. Por dentro minhas entranhas pegavam fogo.

Em algum momento eu me perdi em Felipe e esqueci com quem eu estava lidando. O que o impede de me matar? Ou fazer comigo como aqueles chefes do tráfico faz com as meninas nos vídeos que vi no Facebook? A emocionada na história sou eu.

— Tu acha que vai sair daqui sem pagar a merda que fez? — Diz ignorante. — Tu vai continuar pianinha trabalhando e eu vou descontar da porra do seu salário. Tu vai aprender a virar mulher, Mariana e eu vou ensinar.

Ele me dá as costas o que me deixa ainda mais irada. Fecho minhas mãos e dou um soco em suas costas. Ele se vira rapidamente.

— Eu não vou ficar aqui. Você não pode me prender aqui. — digo tentando acertar seu rosto.

Eu não deveria ter feito isso.

Felipe perde um pouco da noção de que tinha, segura meus braços e me joga contra a mesa de vidro que havia na cozinha.

Pude sentir os cacos perfurar minha pele, por sorte não bato a cabeça.

Ana entra na cozinha correndo, junto a ela está um rapaz cujo eu não conhecia.

— PORRA FELIPE, VOCÊ TÁ MALUCO, CARA? VAI EMBORA DAQUI — Ana grita desesperada, chamando a atenção dos convidados.

O homem tenta me ajudar a levantar mas meu corpo estava todo cortado, dolorido.

— Ela vai comigo. — Ele diz autoritário. — Levanta! — ordena.

Encaro Ana com lágrimas nos olhos.

— Vou te puxar tu faz força pra levantar — O cara diz.

— Solta ela! É mulher pra por fogo na casa dos outros, vai ser mulher pra levantar sozinha. — Diz Felipe.

— Para com isso Felipe, vai embora por favor. — Ana súplica.

— BORA FILHA DA PUTA, LEVANTA!

Aquele grito fez todos se calarem. Com muito esforço eu consigo me levantar, sentindo o sangue escorrer pelos meus braços. Havia cacos grudados em meu corpo.

Ana leva sua mão até a boca ao notar.

Felipe me puxa pelo braço e me arrasta da cozinha até o quintal. Foi horrível receber os olhares dos convidados.

Pior ainda foi ter que ir caminhando na frente enquanto ele me seguia na rua, até sua casa. As pessoas deveriam estar pensando que apanhei dele. Meu corpo suplicava para que os cacos fossem retirados.

Dentro de casa não me importo de retirar minha blusa em sua frente, no momento ambos não sentiriamos desejos um pelo outro.

— Preciso ir buscar sua mãe — Digo tentando controlar o choro.

— Tira o short — Ele ordena. — Vou te ajudar a tirar o vidro.

Diz se aproximando.

— Não encosta em mim. Fica longe — digo transbordando ódio.

Felipe passa a mão pela nuca, parecia não saber o que fazer.

— Por que tu fez aquilo se a gente não tem nada?  — Pergunta.

Uma pergunta tão simples, mas eu não tinha resposta. Nós não temos nada, absolutamente nada.

A verdade é que eu estava obcecada por Felipe.

— Talvez eu tivesse gostando de você, um pouco a mais do que deveria mas pode ter certeza que esse sentimento sumiu hoje.

Pela primeira vez o vi surpreso, sem palavras.

Deixo Felipe sozinho e vou para o quarto de Gleyce onde choro pela dor de ter os malditos cacos de vidros perfurando minha carne.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora