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Mariana Ribeiro

Desligo o som rapidamente, fitando meu uniforme sobre a cama. Um desânimo genuíno invade minha alma. Como sempre. Já não há ânimo, alegria em trabalhar naquela maldita pastelaria. Não dá para desistir, o salário de meu pai não bastaria para nos manter.

- Merda - Murmuro a mim mesma quando ouço meu simples Samsung tocar. O busco com os olhos, o encontro repousado na velha poltrona.

Na tela vejo o nome de minha amiga do trabalho, Cristiane. Abro um sorriso involuntário. Sem dúvidas ela alegraria minha manhã monótona com seu palavreado baixo e seus comentários engraçados.

- Bom dia, meu amor. Dormiu bem? - A animação em sua voz era perceptível - Espero que sim, porque eu; maravilhosamente.

Completa ela me fazendo rir.

- Mais ou menos, calor insuportável.- Reclamo.

-Verdade sua casa é muito quente.

- Por demasiado. - Confirmo.

- Lá vem você com essas palavras difíceis. Parece o Felipe...

Cristiane para de falar, no fundo ouço a voz grave e embargada de um homem. Era o tal Felipe. Reconheço sua voz. Toda a vez que o mesmo liga para minha amiga, ela faz questão de por em viva-voz para eu ouvir o quão ignorante ele é. De alguma forma Cristiane acha isso atraente.

Em alguns segundos minha amiga o da alguma explicação e logo retorna sua atenção para mim. Ouço sua risada divertida e acanhada ao outro lado da linha.

- Pelo visto já sei quem foi o causador da sua felicidade - Digo divertida.

- Ah, ele é maravilhoso - Diz como se estivesse hipnotizada. - gostoso, lindo.

- Realmente não estou interessada nas qualidades do seu namorado. - Digo divertida. - Bom, tenho que me arrumar para ir trabalhar. Aproveite sua folga.

- Tudo bem, bom trabalho.

- Tchau.

Respiro fundo e começo minha rotina nada legal para ir ao trabalho.

Após me arrumar tranco a porta de ferro de minha casa e saio no portão. Noto algumas crianças brincando em meu portão e abro um sorriso para elas.

Me dirijo até o ponto de ônibus que não ficará muito longe. Solto o ar de meus pulmões levemente ao sentir o sol entrar em contato com a minha pele, ainda mais quente. Minha vontade era de voltar para casa e ficar horas e horas de baixo do chuveiro.

- Bom dia, menina Mari. - Ouço a voz de Seu Pedro.

Ele é meu vizinho, um idoso que para ganhar um extra, vende água nos pontos aos redores.

Um amor de pessoa.

Fito o senhor sentado a um banco de madeira com uma garrafa de água mineral em mãos. Seu sorriso largo me dava a visão perfeita do espaço entre seus dentes do meio, pela falta de um deles.

- Bom dia, homem. E a pressão, como está? - Pergunto, preocupada.

A três dias atrás o senhor a minha frente estava sentindo fortes dores na nuca e palpitações no peito. Como moro em Anchieta desde que nasci, muitos sabem que fiz curso de cuidadora de idosos e que já atuei na área, muitos antes de me tornar uma simples garçonete. Enfim, alguns moradores recorrem a mim para verificar a pressão.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora