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"Não irá acontecer novamente", eu disse.

Mas que tremenda babaca sou eu. Tentei deixar a água do chuveiro lavar toda a minha culpa e constrangimento junto com os fluidos que ele havia deixado em mim.

Após o dar o almoço de Gleyce esperei alguns minutos até o banho da mesma ficar pronto. Vim a esta casa para fazer isto, cuidar dela.

Quatro dias depois...

Poderia ser rápido, algo simples para facilitar a vida de todos mas a prefeitura gosta de atrasar todo mundo. Papai implorou para que ele viesse pagar o iptu mas preferi pedira felipe e eu mesma vir.

Após quase uma hora naquela fila finalmente sou chamada.

- Boa tarde. - A menina atrás do balcão fala comigo.

- Boa tarde. Eu vim pagar o iptu mas antes gostaria de saber o valor e se posso parcelar.

- Trouxe o carne? - Ela pergunta.

- Ãn, eu não sabia, quer dizer quem sempre vem pagar é meu pai - Tento explicar.

- Certo, esta com os documentos do proprietário?

Deixo os documentos de minha mãe em cima do balcão. Após digitar algumas coisas a menina me encara com uma feição nada boa.

- Eu lamento mas aqui consta que o terreno já esta nas mãos do governo. - Ela diz e meu coração acelera.

- Não é possível, eu dei o dinheiro para ele pagar. Qual é a data do último pagamento?

- 1998. Infelizmente não há o que fazer.

Sinto meus olhos encherem.

- Não, moça tem alguma coisa de errado eu sempre dei o dinheiro e minha mãe também. - Retruco.

- Fique calma, por favor.

- O que posso fazer para resgatar?

- Nada. Pelo que vi ainda este mês o aviso de despejo chegará. Sinto muito - Ela diz me entregando os documentos.

Saio daquele lugar com meu coração na mão, totalmente perdida. Sou incapaz de acreditar que meu pai deixou de pagar o que um dia foi de minha mãe e a mesma deixou para mim.

Para completar meu desânimo o celular dele só caia na caixa postal, ótimo ele realmente me fez de palhaça. Óbvio que sabia que eu iria descobrir tudo, por isso o desespero. Esta tudo explicado agora. Mas ele vai me ouvir e muito.

Ligo para Felipe, chama algumas vezes até o mesmo desligar e retornar a ligação, ele sempre faz isso.

- Fala - Sua voz soa calma.

Havia mais alguém com ele, pude ouvir voz de mulher e não me era estranho. Cristiane, ouso deduzir.

- Não chegarei no horário mas irei trabalhar.

- Ta chorando?

- Não, esta tudo bem. Só liguei para avisar

Encerro a ligação quando vejo meu ônibus a caminho. Dentro dele eu já contava os segundos para chegar em casa.

Quando finalmente chego encontro meu pai sentado a mesa da cozinha, em cima da mesma havia uma garrafa de vodka, daquelas bem baratas e falsificadas.

Ele pode ouvir o barulho da minha rasteirinha contra o chão mas não se moveu.

- Você mentiu para mim - Digo com raiva, já não segurei minhas lágrimas.

- Não quero que me odeie, você é tudo o que tenho agora - Ele diz sem me encarar.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora