31 de dezembro - 20h00
A rua estava movimentada, os ônibus era poucos a passar, mas mesmo assim consegui vender bem minhas mercadorias. O dinheiro da aluguel e da luz, eu tenho, acho que sobra algum para comprar alimentos, não muitos, mas um pouco.
Desço do ônibus rapidamente, agradeço o motorista e caminho, notando que havia algo de errado com meu tênis. Paro no mesmo instante e noto que havia um buraco no mesmo. Era só o que me faltava, meu único tênis. Mariana, você tem uma sorte incrível.
Retiro meu tênis notando alguns olhares sob mim, ignoro todo mundo, hoje consegui vender bem, estou feliz e ninguém me atrapalha. Cá estou eu indo em direção a minha casa, com o pé de encontro ao chão frio e úmido da chuva.
As pessoas estavam bonitas, bem arrumadas, todas felizes. Queria poder compartilhar minha felicidade com casa uma delas, mas é pouca. No momento o que me domina é a tristeza de estar sem meu pai. Mesmo sem dinheiro para fazermos nossa ceia, sua companhia seria excepcional.
Adentro meu portão e logo minha porta. Vejo meu celular vibrando, solto o tênis no chão, junto as balas que havia restado. Corro até o mesmo mas ele para de tocar.
Nove chamadas perdidas de Eduardo.
Sem crédito e sem opção, retorno a ligação a cobrar. Quando a musiquinha mais temida toca, eu desligo. Minhas bochechas ruborizam de tanta vergonha. Não demora muito para que o homem me retorne a tão esperada ligação.
— Oi, Mari. Daqui a pouco estou indo te buscar. Vamos ceiar com minha família. — Diz ele, animado.
Muito diferente de mim.
— Ah, desculpe eu não estou no clima para festas — Respondo me reprimindo.
— Para com isso. Não pode simplesmente passar a virada do ano só.
Já havia feito do natal dele um martírio, e não iria fazer a virada do ano ser a mesma coisa, ainda mais com sua família. Não seria justo.
— Eduardo, por favor não insista. Fico muito agradecida e quero que se divirta.
— Mariana, eu sei que você não terá nada para comer.
— Terei. Farei algo — Minto.
— Você não pode viver no luto, Mariana. Quem morreu foi ele, não você. — Diz irritado.
Ele simplesmente passou por cima do que eu havia dito. Suas palavras me magoaram.
— Tchau, Eduardo. — Digo firme.
Encerro a chamada vendo meu celular alertar que em breve iria desligar por falta de carga.
Bufo passando minhas mãos pelos cabelos, tentando manter a calma. Fito cada canto daquela pequena kitnet.
Quando minha mãe se foi, pensei que jamais fosse sentir uma dor tão grande, uma agonia genuína tomava conta de cada célula do meu corpo quando eu pensará em jamais tê-la ao meu lado. Então ficamos somente meu pai e eu, foi muito difícil se adaptar aquela dura realidade, mamãe era uma amiga sem igual, todos os meus segredos eu fazia questão de compartilhar com a mesma, coisa que com meu pai definitivamente não iria acontecer.
Agora estou enfrentando tudo novamente, toda a maldita dor se instala em meu ser novamente. Eu quase posso ver um demônio sugando todas as minhas energias, deixando apenas a tristeza e o desânimo. Sou forte, não tenho dúvidas e sei que irei superar. Faz parte da natureza humana mas isto não me impede de chorar.
Sentada na velha poltrona de meu pai, eu deixava algumas lágrimas irem de encontro ao chão, o mesmo que eu fitava com tanta intensidade. Minhas mãos apoiando cada lado de minha cabeça, em um ato de completo desespero.

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CDC - Concluída.
Teen FictionHomem rude, mente fechada, usuário de cocaína e com a mente dominada por demônios tão confusos quanto o mesmo. Coração na sola do pé - exerto por uma pessoa; sua mãe -, e por isso Felipe irá contratar uma cuidadora de idosos, Mariana Ribeiro. Sem t...