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A noite fria chegou, Gleyce não quis jantar o que me deixou um pouco estressada. Era extremamente difícil por em minha cabeça que a mãe de Felipe e Ana, não era um bebê.

Ajeito minha cama no chão, pego uma calcinha em minha bolsa e vou em direção ao banheiro para usufruir de um maravilhoso banho. Já era tarde e Felipe não havia chego, apago as luzes e me deito.

04h05

Acordo com o barulho de algo caindo ao chão, era um copo. Ouço a voz de Felipe gritar algo, um palavrão. Sem dar muita atenção volto a dormir.

Ou, acorda, porra! — Ouço sua voz soar longínqua.

Abro meus olhos e a luz invade-os me impossibilitado de enchergar por alguns segundos. Quando finalmente consigo visualizar a porta vejo Felipe parado em frente a mesma.

— O que houve? — Pergunto sonolenta.

— To cheio de fome, caralho. Tu não presta pra nada Cristiane — Ele diz, dn seguida sai fechando a porta com força.

Sem entender absolutamente nada me levanto vendo que Gleyce havia acordado com toda aquela encenação do filho. Caminho até sua cama e acaricio sua mão afim de acalmá-la.

— Pode voltar a dormir, está tudo bem. Ele só deve estar meio estressado.

Tento transmitir o máximo de calma possível mas por dentro minha alma gritava de raiva. Ele não pode me tratar desta forma, há limite para tudo.

Saio do quarto buscando por Felipe que estava na cozinha chutando os cacos de vidro para um canto.

— Você não tem o direito de falar comigo dessa forma. Estou aqui para prestar serviços a sua mãe — Digo sem paciência.

— Tu é uma inútil — Cospe as palavras.

Encaro seus olhos que estavam vermelhos como vinho fraco.

— Sua irmã deixou claro que eu não seria obrigada a cozinhar, mas se você pedisse com educação eu até poderia fazer algo — Ponho minhas mãos na cintura.

— Vaza daqui — Murmura ele.

— É o que?

— VAZA PORRA! — Ele se descontrola.

— Não, está tarde e você não pode fazer isso.

Minha voz soa amedrontada. Felipe da dois passos em minha direção e eu me afasto. Seus olhos estavam perdidos, a cada segundo encara um lugar.

— TU TÁ FECHADA COM OS ERRADO. TÁ FECHADA COM ELES — Grita transtornado.

Dou um pulo quando o homem puxa um revólver da cintura e aponta para mim. Em minha mente eu queria ajoelhar e implorar pela minha vida. Fecho meus olhos com força até que sinto sua mão em volta do meu braço o apertando com tamanha força.

Jesus, me ajuda.

— Para Felipe, por favor. Eu vou embora — Suplico deixando algumas lágrimas escaparem.

— Avisa a eles que vai cair geral — Sussurra em meu ouvido e me solta.

Dou alguns passos para trás e quanto o revólver ainda estava apontado para mim. Tomo uma baita dose de coragem corro para a saída. Pela rua eu corria descalça e com roupas de dormir. Não havia ninguém que pudesse me ajudar a não ser os meninos da boca.

As lágrimas me impossibilitava de enchergar a rua mas fui em direção ao grupo de meninos armados. Eles fumavam maconha e o cheiro era terrível.

Me aproximo dos meninos que me olhavam de cima a baixo, alguns diziam coisas obscenas.

— Oi, eu sou a cuidadora da mãe do chefe de vocês — Dito isto eles se calam — Alguém pode me informar como chego na casa da Ana, a irmã de Felipe?

— O que tá pegando? — Um deles, o mais novo pergunta. — Ele tá noivado?

— Só me ajudem — Choro novamente — Por favor

— Aí, jazinho leva a mina lá. Tá tranquilo. — Ordena o mais novo. — Toma aqui, tá frio pra caralho. Pera aqui que ele vai buscar a caranga.

Ele retira sua jaqueta e me entrega.  Não recuso de maneira alguma.

— Obrigada, de verdade.

Visto a jaqueta e limpo meus olhos. Logo o menino se aproxima de mim com a moto, monto na mesma e vamos em direção a casa de Ana Cláudia.

Minha preocupação era em deixar Gleyce com o filho naquele estado, ele estava fora de si. Se Ana não me atendesse eu estaria perdida. Droga, porque Cristiane foi brigar comigo.

Paramos em frente ao portão da irmã de Felipe. Meus pés descalços tocam o chão e meu corpo se arrepia.

— Chama aí, colega. Vê se ela vai atender essa hora — O menino diz.

— ANA CLÁUDIA — Chamo por ela com todas as minhas forças.

Meu corpo ainda tremia, não pelo frio mas por ter tido uma arma apontada para minha cabeça. Isto nunca aconteceu comigo antes.

Fito o menino que estava montado em sua moto. Ele entorta os lábios sem esperança de a mesma nos atender.

— Ih, acho que babou. Deixa que eu chamo — Ele diz — ANA CLÁUDIA!

Sua voz era bem mais alta que a minha, isto era bom mas os vizinhos não estavam gostando.

Ficamos ali uns dez minutos chamando e nada.

— Deixa pode voltar. Vou ficar aqui — Digo me sentando na calçada gélida.

— Que isso mina, fica lá com nós.

— Não, pode ir tranquilo. Obrigada pela ajuda e toma cuidado — Digo agradecida.

O menino não diz nada, apenas acena com a cabeça, liga a moto e vai embora.

Permaneço sentada na calçada tentando processar tudo o que houve. A alguns minutos atrás eu estava deitada, coberta por um edredom quentinho e agora estou sentada em um calçada, com frio, humilhada e chorando.

Escondo meu rosto entre as pernas e cochilo em meio ao choro. Aos poucos os trabalhadores vão saindo de suas casas e algumas pessoas saem para buscar o pão. Será que luzia estará com Gleyce hoje? Ela precisa tomar banho e se alimentar devidamente.

Ouço o barulho do portão ao meu lado. Um homem sai do quintal de Ana, ele me encara sem entender nada.

— Bom dia. — Me levanto — Pode me dizer se Ana Cláudia está em casa?

— Bom dia. Sim, ela é minha esposa mas está dormindo ainda.

Respiro fundo e explico ao homem o que houve. Ele se apresenta como Mário e diz que Felipe sempre foi assim, que não presta nenhum pouco. Pelas coisas que o mesmo me contou, sei que fiz bem em correr de lá. Afinal, o que eu estava pensando? Aquele homem é um traficante, não um bom samaritano. Burra sou eu.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora