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Não consegui dormir. Simplesmente comi a madrugada inteira enquanto assistia mil e uma noites na televisão — havia jóias realmente bonitas, outras nem tanto — tudo com um valor absurdo de caro.  Dentro de mim era alimentada a esperança de Felipe passar pela porta e dormir ao meu lado como de costume, mas nada aconteceu. É um martírio saber onde ele está e o que está fazendo.

A culpa é minha?

Não! Infelizmente ele tem um vício e não sabe lidar com isso, — com o fato de ter, porque com o vício ninguém consegue — me ofereço para ajudar, ele nega, tanto quanto o fato de ser um viciado. Detesta ser chamado assim. Eu só queria que tudo fosse normal, um relacionamento saudável, uma vida controlada.

Meu celular toca, é Ana. Corro meus olhos pela tela e vejo que são sete e meia da manhã. Atendi sem ânimo.

Oi, já estou me arrumando. Luzia está a caminho. Quer que ela passe aí para arrumar a casa? — Sua voz é de puro sono.

— Não. Por aqui está tudo certo. Vou me arrumar, o portão ficará aberto.

Não espero por sua resposta, apenas desligo. Se ela ficou irritada melhor ainda, já não quero sua companhia.

Óbvio que o exame deu positivo, se haviam alguma esperança do contrário, ela se foi. Ana fará de tudo para demostrar sua falsa empolgação. Vez ou outra ela rebate minhas indiretas, ambas sabemos que há algo de muito errado, mas a sonsa prefere fingir que não.

O exame foi feito no posto da comunidade mesmo, lá marquei o pré-natal, seria ao próximo mês, provavelmente no pré-natal irão me encaminhar para uma transvaginal para saber quantos meses estou. Pas minhas contas irei completar três.

— Almoça lá em casa — Ana pede.

— Acho que Felipe vai almoçar em casa. Preciso fazer alguma coisa — Minto.

— Hum...— Ela ri — eu não queria te falar, mas é muito provável que ele não vá em casa.

Paro de caminhar e fito Ana atentamente.

— Fala logo.

— Diguinho me mandou mensagem pela madrugada, disse que Ret chegou pancadão na casa dele e ficou por lá — Ela solta sem demoras.

Para quem não queria contar.

— Menos mal, ele dormiu na casa do amigo.

Volto a caminhar e ouço ela rir novamente. Isso está me irritando.

— Érr, mas o o problema é que o Diguinho é primo da Rayssa, e ela mora com a mãe dele lá.

— Filho da puta!

Meu sangue ferve de tal maneira. Mesmo sabendo que não posso me estressar, ele não ajuda. Parece que faz questão de me ver louca.

— Calma, Mariana.

— Me leva na casa dela. Agora!

— Nem vem. Felipe me mata — Dispara seriamente — Não vou fazer isso.

— Eu vou com ou sem sua ajuda.

Digo e saio passando em sua frente, pisando firme. Por pouco não solto fogo pelo nariz.

— Tá. Eu vou levar você — Diz nervosa. — mas você promete que não vai fazer besteira?

— uhum.

— Tô falando sério, Mariana.

— Tá, caralho. Prometo.

Merda nenhuma. Quando estávamos em frente a casa dela, dei conta que era a mesma em que provoquei o incêndio.

Então ela era a menina do chupão. Felipe mentiu para mim quando disse que não teve nada com ela. Isso me deixou ainda mais cega pelo ódio, desta vez, não só por Rayssa, mas por ele.

— Segura — Dou minha pasta de documentos para Ana.

— Calma, por favor. Olha o bebê — Ana diz, rindo.

Ela queria uma discórdia. Bato na porta algumas vezes e ouço uma senhora dizer um breve já vai. O sol estará começando a dar o ar de sua graça. Meu vestido é longo, faz o calor aumentar. Prendo meus cabelos em um coque e vejo a porta se abrir, revelando o rosto de uma senhora.

— Bom dia. O Felipe está aí? — Pergunto paciente.

— Quem quer saber? — indaga.

Não julgo. Incomum alguém bater em sua porta atrás do frente da comunidade; óbvio que você não vai entregar a pessoa tão facilmente.

— A mulher dele. — Respondo direta.

Ela não me parece surpresa, apenas acena com a cabeça.

— Vou chamar. Ele ainda está dormindo.

— Não precisa, amor. Eu mesma chamo.

Ponho minha não na porta e empurro com força. Entro na casa, um ambiente simples, bastante simples, porém arrumado. Avisto Felipe dormindo no chão, ao lado de Diguinho. Rayssa não estava.

Caminho rapidamente até eles, pulo seu amigo e chuto a perna de Ret, que dormia de boca aberta. Destruído.

— Acorda, seu merda.

Ele não acorda. Chuto novamente sua perna. Ele abre os olhos e se assusta.

— Levanta seu porcaria. Mentiroso do caralho — Disparo

— Para de graça, irmão. — Ele diz se levantando. — Olha o barraco na casa dos outros.

— Pensasse nisso antes de mentir pra mim e vir se enfiar na casa dessa piranha — Digo e disparo um tapa em seu braço. Sem medir minha força.

— Para de me bater. Tu quer que eu perca o controle e te arrebente.

— VOCÊ TA ERRADO, SEU MERDA

— Para de gritar na casa dos outros — Diz e envergonhado — desculpa aí, dona Célia.

Diguinho abre os olhos e ri. Toda essa merda não tem graça.

— Bora, Felipe. Em casa vocês resolvem — Ana tentar apaziguar.

— Resolver o que, essa porra é doente. — Espeta ele.

— Doente o caralho. Você me deixa em casa pra vir dormir com essa vagabunda. — Digo exaltada.

Relaxa, amiga. Ele tentou, eu não quis.

Me viro rapidamente vendo Rayssa com um micro short e um sutiã. Em seu nariz havia um curativo. Quando penso em partir para cima dela, Felipe me segura.

— Para de graça, Rayssa. Ele não fez nada — A senhora repreende — Olha, ele só veio e dormiu. Se vocês puderam resolver isso fora da minha casa...

— TIRA A MÃO DE MIM, SEU IMUNDO. VOCÊ TA FERRADO NA MINHA MÃO. MELHOR, VOCÊS DOIS. — Grito completamente descontrolada.

— Porra, Felipe faz alguma coisa. Ela não pode se estressar assim.

— Vou fazer o que porra? — Indaga ainda me segurando — a mina parece o demônio.

Diguinho se levanta. Noto seu abdômen definido e sua ereção matinal muito nítida por conta do short.

— Rayssa, vai pro teu quarto. Na moral — Diguinho ordena. A cadela obedece — Ret, leva ela. Isso vai passar quando você conversar com ela.

— Esse imbecil me deixou sozinha em casa para vir dormir aqui, Diguinho. — Explico, me segurando para não chorar.

— Solta ela, Ret. — Ele pede.

Felipe bufa e me solta.

— Tô indo. Se quiser vai atrás. — Ele diz.

Felipe da as costas e sai, me deixando ali como se ele estivesse coberto de razão.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora