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Caminhar junto a Karol pela comunidade era como estar ao lado de um prefeito. Conhecia absolutamente todo mundo, cada pessoa fará questão de lhe dar nem que seja um mísero oi. Ela amava tal coisa, era de uma empolgação que só.

Eu não sei se os moradores me reconheceram por conta da publicação, mas nenhum deles agiu de forna estranha comigo - não que eu me importe com isto - é que pelo menos não me reconheceram pessoalmente. Ser reconhecida como pouco atraente, é terrível para uma mulher, detona a autoestima. Afinal, o que esse povo espera, que Felipe assuma uma modelo? Ah, me poupe!

— Vem raxa, entra. — Karol diz abrindo o portão em seguida.

Adentro em seu quintal e ali permaneço.

— Vou ficar aqui te esperando.

— Para de graça. Entra, tá frio — Insiste.

Entro em sua casa sentindo o ambiente quente me acolher - realmente estará muito frio, de doer os ossos -, me xingo mentalmente por estar com um short tão curto.

Sua casa era pequena, tudo bem colorido. Alegria habitava ali, literalmente. Ouço uma voz masculina, vinha de algum daqueles cômodos. Karol já não estava ali comigo. Levo minhas mãos aos bolsos do short e encolho meus ombros.

— Opa, oi. — A voz soa próximo a mim.

Vi meu pescoço rapidamente e avisto um homem moreno, da mesma estatura que eu. Seus olhos eram negros, seu corpo tatuado. Ele vestia uma bermuda moletom branca e não usará camisa — será que não sente frio?—, céus!

— Oi. Estou esperando a Karol — Explico.

— Tranquilo.

Antes que eu pudesse me sentir ainda mais sem jeito, Karol aparece com uma bolsa transparente em mãos. Seus olhos fitam os meus e ela abre um sorriso.

— Circula, bebê. —  Ela diz para o menino que levanta suas mão em redimento e obedece.

— Ele é lindo — Me refiro ao menino.

— Devagar, raxa. É meu bofe —  Retrucou rindo.

Solto uma leve risada e pego a roupa de sua mão. Apenas observando pude ter a certeza de que iria ficar lindo.

— Sobre o pagamento, o que Felipe tratou? — Indago sem jeito.

— Tudo tranquilo — Diz levando a mão ao cabelo — vamos?

— Claro.

Saímos de sua casa e quase que instantâneamente sinto o frio percorrer meu corpo. Levo minhas mãos ao redor de meu corpo tentando me aquecer de certa forma — sem sucesso, é claro — caminhamos cerca de quanto minutos ou um pouco mais.

— Vai morar aqui — Karol pergunta.

— Não. Eu tenho minha casa — rolo meus olhos — quer dizer, não é minha casa, é alugada mas é o que tenho.

— Se está pagando é sua. — Diz convicta. — você trabalha com o que?

— Vendo doces no sinal.

Digo sem vergonha alguma.

— Uau, hiper babado. A mulher do chefe ganha a vida vendendo balas — Diz rindo.

— É melhor que vender drogas. — Rebato mas logo percebo a besteira dita.

Levo minha mão a boca e paro de caminhar.

— Desculpe... eu não queria ofender — digo sem jeito. - sério, Karol. Me perdoe.

— Calma. Você não deixa de estar certa...

Ela é interrompida com o som de uma buzina, bem atrás de nós. Rapidamente nós viramos e avistamos Felipe pilotando uma moto, sua feição não era uma das melhores. Quase sempre ele usará uma feição de bravo, mas desta vez havia algum motivo.

Ele me fuzila com seus olhos e logo os desvia para Karol.

— Tá fazendo o que na rua? — Pergunta a mim. Seu tom era rude.

— Andando, tá cego? — Rebato no mesmo tom.

— Cega está você que não vê que esse short tá faltando pano — Espeta — sobe, bora pra casa.

Permaneço em meu devido lugar enquanto Karol apenas observa o macho querendo aparecer mais do que deveria.

— Vou andando. — Respondo.

— Vai desfilar com a bunda a mostra para a favela toda?

Felipe estará zangado atoa.

— Se eu quiser, sim. Não vejo problema — Abro um sorriso cínico.

— Não testa, Mariana. Sobe logo nessa porra.

Antes que eu rebata sua grosseria, sinto a mão de Karol tocar meu ombro.

— Vai lá, mona. — Diz pacífica. — eu vou ali na casa de uma amiga.

Encaro Felipe e aceno com a cabeça.

— Certo. Muito obrigada!

— Bora logo, cara. — Apressa Felipe.

Rolo meus olhos e monto naquela maldita moto, segurando firme para a roupa em minha mão não cair. Sinceramente não entendo a necessidade de ir de moto para a cada dele, nem é tão longe assim. O problema é que Ret gosta de chamar atenção.

Parece que quanto mais tempo passo com ele mais vou o conhecendo de verdade. O único problema é que talvez eu não goste do que estou prestes a conhecer.

Somos completamente diferentes.

Finalmente estávamos na casa de Ana, o funk tocava alta na caixa de som, as pessoas se divertiam facilmente com a bebida e as comidas. Me sinto péssima por não estar na mesma vibe, no fundo meu ser ainda implorava por uma cama e um travesseiro para molhar com minhas lágrimas. Ana notou minha baixa estima e tentou me distrair a qualquer custo.

Após o estranho comportamento de Felipe em relação a minha roupa, o mesmo não disse nada, apenas fomos até sua casa, nos trocamos e viemos. Agora o digníssimo age normalmente, bebendo e conversando com uma homens que se que fez questão de me apresentar. Ele precisa entender que mulher não é bicho de estimação.

Para completar o marido de Ana Cláudia me fita a cada dez minutos, tenta disfarçar mas eu sei quando estou sendo observada.

— Amor? — ouço a voz arrastada de Felipe.

Ele havia me chamado de amor, na frente de seus conhecidos, de todos ali.

— Oi? — Digo tentando disfarçar o sorriso.

Como sou boba.

— Vem cá.

Encaro Ana em um aviso que em breve eu voltaria para ajudá-la a terminar de temperar as carnes que não eram poucas.

Caminho em passos largos até Felipe que por sua vez está de pé com um como de vidro em mãos, nele havia um rótulo de algum time. Não era brasileiro. Paro de frente para o mesmo ele me encara. Seus olhos são incríveis.

— Karol chegou aí, leva isso aqui pra ele — Ele põe um saco preto pequeno em minha mão — e pede pra ele vir aqui depois.

— Por que você não leva? — Pergunto naturalmente.

Alguns segundos atrás eu estava ocupada, ele me atrapalhou para fazer algo que o mesmo poderia fazer? Não tem sentido.

Ele me fita e apenas arqueia uma sombrancelha. Eu bufo e vejo que seus amigos me observam, esperando alguma reação minha. Apenas rolo meus olhos e saio.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora