4. A Família de Bela

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«Enquanto o Orgulho prefere "ter" para ser notado, a Humildade prefere "ser" para ser feliz»

Elvis Kubo


Alguns dias antes...

Bela foi ter com Linda para desabafar e avisar que iriam ficar sem desconto de saúde por uns tempos. Maria tinha apenas seis anos, por isso, eles contavam muito com os descontos sempre que iam ao médico. Maria era o sol na vida de Bela. Custava-lhe que ficasse desamparada sem seguro.

Linda ao saber das novidades disse peremptoriamente:

- Larga esse emprego e procura um melhor! Esse teu chefe está-te a enganar para fazeres o relatório e depois coloca-te como subalterna na mesma!

- Linda! Sabes há quantos anos estou nesta empresa?! - Bela suspirou - desde que comecei a trabalhar! Não posso desistir sem tentar!

Linda era sempre radical. Oito ou oitenta. Era nisso que consistia a sua grande força. No entanto, isso tornava as suas relações com os outros muito complicada. Ela pensava que indecisões ou arriscar era para quem não sabia o que queria ou para quem não tinha opção de escolha. No fundo, era também a procura de uma estabilidade que Linda julgava que só se conseguia com esforço e dedicação.

- Não te preocupes connosco, ficamos bem com ou sem seguro de saúde. Vê lá se queres mesmo ir arriscar-te nessa viagem... - Linda cedeu - esse teu chefe deixa-me muito desconfiada. Eu penso que isso tem muito mais do que ele está a dar a entender. Pode ser uma artimanha para te acusar de algo e nem sequer pagarem-te o dinheiro que tens direito...

- Não consigo outro trabalho tão facilmente ainda mais no posto onde estava. Onde ficam os anos todos que dei à empresa?! Vou fazer isto e mostrar-lhe o meu valor - teimou Bela. Queria lutar pelo cargo que tanto queria ter.

- Tia! Já chegaste! - Maria veio abraçar Bela - queres brincar comigo? Tenho um jogo novo no tablet super giro!

Maria vinha com Tobias, marido de Linda, que Bela não conhecia muito bem porque era muito reservado, mas parecia ser um homem calmo e compreensivo.

- Outra vez a jogar no tablet? - repreendeu Bela. Linda afastou-se para falar com Tobias.

- Mas é giro e é grátis! - respondeu Maria como fosse uma resposta válida.

- Então mostra-me lá esse jogo! - acabaram por ficar as duas a jogar o jogo.

Bela julgava que a sobrinha era muito nova para jogar tanto no tablet, mas percebia o apelo que deveria ser para a menina de seis anos. Era uma decisão difícil para os pais saberem quanto tempo e como limitar estes novos aparelhos muito viciantes para as crianças. Bela compreendia e se os pais de Maria não diziam nada, ela também não.

Quando foi embora, Linda estava com a cara fechada e Tobias aconselhou:

- Tem cuidado, às vezes o trabalho e o dinheiro não são tudo.

No entanto, Bela estava decidida a ir. Contrariada, irritada, ofendida, mas decidida a ir.

Quando se despediram no aeroporto, Bela teve um mau pressentimento. Como se não devesse ir naquela viagem, que ela não devia deixar de ouvir Linda que tinha sempre razão. No entanto, aquela raiva e indignação estavam ainda a cozinhar no seu estômago. Ela não conseguia largar aquela questão, não depois de tantos anos naquela empresa e de tantos sacrifícios... O seu orgulho não a deixava. Por isso, afastou o sentimento e embarcou. Mesmo assim, continuou com a sensação que todo o mundo estava a virar-se contra si, mas que não poderia fazer mais nada do que nadar contra a maré.


Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora