12. O Encontro com Richard

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«O que perdeu a riqueza, nada perdeu; o que perdeu a saúde, perdeu algo; o que perdeu a coragem, perdeu tudo »

François Mauriac

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Bela não imaginava que o aeroporto de Jacarta fosse tão bonito. No dia anterior, não tinha reparado porque apenas queria encontrar Linda e Tobias, mas depois de desistir viu os vários arranjos de plantas tropicais e as lojas, as pessoas com roupas de diversas culturas, cores e estilos desde ao fato moderno até às T-shirts e calções. Haviam várias lojas escritas em caracteres chineses e mulheres com lenços como as muçulmanas. Um aeroporto tropical com ar ocidental e lojas e pessoas orientais. O mundo realmente estava todo demonstrado ali. O calor tinha acalmado durante a noite mas voltou de manhã. Era quente e pegajoso. Foi à casa de banho e lavou-se o melhor que conseguiu. Sentiu a cabeça a pesar e as lágrimas a vir aos olhos ao bocejar. O corpo retesava-se com mal-estar de dormir no aeroporto.

Quando saiu da casa de banho comprou o maior e mais barato pacote de bolachas da máquina para devorar. A sua T-shirt, calças desportivas largas, uma escova de dentes, roupa interior e um pente eram os seus únicos pertences. Sentia tanta falta de um meio de comunicação, de uma mala, de roupas decentes, do seu carro, do seu computador, de um quarto de hotel... E de um banho de imersão!

Por outro lado, desde que entrara no avião em Lisboa algo tinha mudado para Bela. Ela não sentia como real o que lhe estava a acontecer. Era como o seu coração (alma?) tivesse ido para outro lugar. Protegia-a de algo que não queria ver na sua vida. Uma vida diferente da que tinha confortável com um bom ordenado e a possibilidade de subir na vida e ser alguém. Ela estava sozinha por tanto tempo que já nem sabia relacionar-se com as pessoas e nem queria. Tinha receio. Portanto se lhe tirasse o seu trabalho e o seu cargo, ficava com o quê? Os outros tem filhos e maridos, amigos, namorados, mas ela só tinha aquilo e não podia perder a única coisa que lhe dava significado à vida.

O táxi deixou-a na entrada do parque de empresas. Os arranha-céus eram espadas a ferir o céu de Jacarta, a Global estava situada num dos edifícios mais altos. Na entrada teve de deixar a sua identificação com o segurança que estava desconfiado da sua presença ali. Bela compreendeu-o com aquelas roupas e o seu aspeto parecia mais um a mendiga do que a subdiretora. Ainda para mais, nunca tinha ido ali.

Eram nove e meia, via-se um fumo de poluição no ar e o calor já se fazia sentir. Aquele parque tinha várias empresas estava reservado só para quem trabalhava ali e era enorme. Observava enquanto caminhava firme, mas a tremer por dentro. Aquela era a sua única forma de saída, uma vez que não conseguiu encontrar Linda no aeroporto.

Quando chegou ao edifício, Bela apresentou-se para falar com o representante que Dr. Gonçalo lhe indicara: Richard. Ainda era demasiado cedo, Bela teve de esperar no hall da entrada do prédio com a senhora da limpeza a lavar o chão. Os primeiros empregados chegavam e picavam os seus cartões. Pareciam vir a dormir ou atormentados para o trabalho.

Se Richard passasse à sua frente ela não seria capaz de o reconhecer. O segurança chamou um senhor que estava a entrar como Dr. Richard e Bela ficou em sentido. Ele olhou para ela com um ar confuso. Foi ter com ela:

- Bom dia? – olhou-a como se fosse uma pedinte.

- Bom dia, meu nome é Bela Andrade e venho por parte de Dr. Gonçalo da filial em Portugal - apressou-se a explicar.

- Não me disse que viria alguém ter comigo hoje - olhou-a ainda mais desconfiado.

- Tem razão, eu deveria ter vindo ter consigo no mês passado, mas por razões de doença não conseguir chegar mais cedo – Bela suspirou – ia ajudar-me a ir à produção de óleo de palma, lembra-se?

Nesse momento, Richard parou. Mesmo que ela fosse realmente Bela tinha de a expulsar dali.

- A pessoa que vinha ter comigo morreu num acidente de avião. Vai mesmo ter que se retirar, por favor – o seu tom era firme e olhou para o segurança que se apressou em levantar-se e agarrar o braço de Bela.

- Mas como saberia o seu nome e tudo isto, se tivesse a passar-me por outra pessoa?

- Não sei, diga-me você? O seu nome é Bulan segundo me informaram na portaria - aproximou-se dela - acredite que o melhor é sair daqui imediatamente e esquecer este assunto de uma vez! – murmurou no seu ouvido e depois gritou para o segurança – não sei o que pretende, mas não a posso deixar entrar! Leve-a daqui!

– Não! Por favor! Não tenho mais ninguém aqui em Jacarta! É um mal-entendido! – Bela suplicou – oiça-me por favor!

Richard entrou pelo torniquete, enquanto o segurança arrastou Bela para fora do edifício:

– Saia daqui! – disse firmemente - se voltar a vê-la aqui vou ter que chamar as autoridades.

Sem pronunciar mais uma palavra, o segurança virou-lhe as costas, deixando Bela com o coração desesperado. O que ela iria fazer agora?

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora