Ela não queria, mas passava os dias a pensar no comportamento frio de Harta. Não havia nenhuma razão para Harta estar assim ou havia? Como não queria sentir o afastamento de Harta, ela passava ainda mais tempo no trabalho. Não poderia aceder a Websites, mas conseguia aceder a um processador de texto para passar o seu relatório.
Até que chegou o dia em que Bela ficou farta e chegou a casa decidida. Se ele estava chateado com alguma coisa precisava de dizer qual era a razão. Ela não adivinhava. Estava tão próxima dele, mas sentia falta dele e de estar com ele como antes. Sentia falta até dos erros que ele dava em português.
Apesar da sua decisão quando Bela chegou a casa estavam todos na mesa prontos para jantar. Quando terminaram de comer, Harta foi falar com o pai deixando-a mais uma vez sozinha. Eles os dois andavam a falar muito pareciam estar a preparar algo. Bela não conseguia imaginar o que seria, afinal de contas eles estavam com tão pouco dinheiro. Se calhar queriam trocar de emprego, realmente os empregos que eles tinham eram muito mal pagos. No entanto, Batari também se juntou a eles com uma revista. Bela tinha sido a última a acabar de comer, por isso, lavou os seus pratos.
Quando chegou perto deles estavam a ver a revista de Batari. A revista tinha uma mulher com um vestido muito bonito e um véu. «O que raio andam eles a magicar?» pensou Bela. Quando eles perceberam a sua presença fecharam a revista e olharam assustados para ela.
- Harta, preciso falar contigo – disse friamente.
– Sim, claro. Nós estávamos só... a ver um vestido... hum...que a minha mãe gostou – explicou.
– Sim, era bonito. – ao ouvir a resposta de Bela, Samir e Batari sorriram.
Harta acompanhou-a para o seu canto habitual.
– Então, o que queres falar? - Harta continuava a desviar o olhar. Olhava para os pais a irem ver a revista no quarto deles.
– Quero saber o que se passa contigo – Bela cruzou os braços e encarou-o aborrecida.
– O que se passa comigo? – Harta franziu a testa, mas finalmente olhou para ela.
– Sim, tens estado a evitar-me. Fiz alguma coisa que não devia? – Bela disse rispidamente – Por acaso, é proibido beijar na tua religião?
– Não! Hum!... quer dizer... sim e não... – Harta corou.
Bela não conseguiu conter o sorriso.
- Não é bem permitido antes do casamento, mas também não devias morar aqui e muito menos dormir na mesma cama que eu, por isso... – Harta coçou a cabeça confuso.
– Então é o quê?
Suspirou. Harta não estava com muita vontade de explicar a razão do seu comportamento.
- Fiz-te uma promessa e... provocas-me daquela forma... Eu... não sou de ferro... - disse a virar a cara para esconder o tom rosado da sua face.
- Qual promessa?
- Lembras da primeira noite que passaste em nossa casa? Eu disse que não tentaria nada e enquanto tiver controlo sobre mim não irei fazer. Eu respeito-te a cima de tudo.
Bela lembrou-se. Ela ficou assustada por dormir na mesma cama que ele e por ele estar tão atraente sem camisa. Lembrou-se que Harta prometeu não fazer nada sem ela consentir. Não que ela não consentisse... mas compreendia a sua atitude. Sentiu como se o seu coração tivesse entrado num banho quente depois de uma tempestade de inverno.
- Além disso, vamos mesmo casar, não vamos? Eu espero até lá. Eu prefiro respeitar a minha religião pelo menos nisso.
– Vamos casar? – Bela arregalou os olhos – ainda não disse que sim! Além do mais não temos dinheiro!
– Há coisas mais importantes do que dinheiro... – os olhos cor de avelã olharam para ela com receio – Pareceu-me que tinhas dito que sim no outro dia... quando... nos beijamos... Além disso, nós queremos que faças oficialmente parte da família.
Bela ficou sem palavras. Ela via que eles estavam a cuidar dela da maneira que sabiam. Eles realmente tornaram-se a sua família. Sempre pensou em voltar a Portugal. Não iria sem falar com eles e ajudá-los, mas pensou nunca em ficar. O máximo que pensou foi em levá-los com ela, por muito egoísta que fosse. Eles fizeram mais por ela do que muitos amigos ou conhecidos de Bela. Fizeram por ela o que ela própria não faria por um desconhecido. Eles estariam para sempre no seu coração acontecesse o que acontecesse. Agora perguntava-se de onde vinha aquela vontade de ficar que fazia o seu coração afundar.
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Investigação na Indonésia
Mystery / ThrillerBela, subdiretora da Global, é enviada para investigar os estranhos incêndios supostamente causados pela sua empresa na Indonésia. Durante a viagem, ela perde tudo inclusive a sua identidade o que a leva a refletir sobre a sua vida e o que é importa...