66. O Regresso a Portugal

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Bela chegou ao aeroporto sozinha com Linda. Estava irritada e à sua volta havia um silêncio difícil de perturbar. Convidou Harta para ir com ela, mas ele negou-se porque tinha de trabalhar. Desde a conversa com Miguel, ele mantinha-se numa distância furiosa. Tudo isto porque Miguel era ex-namorado dela. Porque tinha falado demasiado com ele e muito bem depois de tudo o que tinham passado. Apesar de ele ter razão, no entanto, ela achava que era um bom sinal, um sinal de que ela não sentia mais nada por Miguel e ele por ela. Harta, no entanto, continuava inseguro e ainda ficou pior quando soube que ela ia voltar para Portugal. Ela partiu com Linda sem lhe dizer mais palavra. Como poderia ainda duvidar dela!?

Como da primeira vez que ela deixou a família Dewi, ela disse que voltaria e que tinha que confiar nela. Ela era dona da sua vida, noiva ou não, casada ou não. A raiva de Harta prometia uns bons dias de reclamação quando Bela chegasse. Pelo menos, daria tempo para ele entender que se ela conseguia falar bem com Miguel era porque já não tinha nenhum sentimento por ele, a não ser talvez, pena.

Harta nem sequer tinha lido o relatório, nem querido saber apenas pela sua rezinguice. Ela continuava de lenço e com o anel no dedo, mas tinha receio que se demorasse muito o sentimento de Harta por ela mudasse. Harta tinha muitas candidatas a noiva. Nunca se sabia se não aparecia uma moça muçulmana mais bonita ou obediente que lhe conquistasse o coração.

No entanto, não havia nada a fazer. Agora tinha de vender o relatório.

Enquanto se preparava para a reunião Bela só pensava no futuro. Linda e Harta queriam saber o que ela queria fazer. Ela também. Ela gostava de viver em Portugal mas sentia que não conseguiria viver sem Harta e a sua família. Ela queria trazê-los para Portugal para terem uma vida melhor e para ficar perto de Linda. No entanto, será que aceitariam? Será que eles gostavam de viver em Padang? Bela passou tanto tempo com eles mas não sabia. Se não quisessem o que iria fazer?

Bateram na porta do quarto. Era Linda.

Estás pronta? - Bela respirou fundo e acenou afirmativamente.

Linda tinha marcado reunião com o Dr. Gonçalo na Global. Ele muito provavelmente pensou que era para saber as circunstâncias da sua viagem repentina. Não estava preparado para receber Bela em si com o relatório encomendado por ele meses antes. Além de ter de lhe explicar muito bem a história de outras pessoas terem ido anteriormente e terem acidentes que não são assim tão acidentais. Bela estava pronta para despejar toda a sua fúria, frustração, sofrimento e humilhação e fazê-lo contorcer-se e implorar para não o denunciar. Bela sentia um prazer doentio dentro de si, como uma gargalhada contida que lhe doía no peito. 

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora