37. O Fumo

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Bela espreitou na ala das mulheres, a mesquita estava cheia. Ela tinha trazido o seu lenço como Batari e as outras mulheres na mesquita. Parecia uma igreja mas não tinha santos nem imagens de qualquer tipo. Não tinha bancos só tapetes. A ala das mulheres era dividida apenas por uns separadores...Será que eles não tinham uma imagem de Deus? Era tão estranho...

Voltou à rua. O seu coração palpitava, sentia uma agitação interior ainda a pensar na conversa. Ela gostava de estar com ele. Tinha um certo receio de se envolver, não sabia nada da sua religião, mas confiava em Harta e na sua família.

Eles não pareciam desrespeitá-la e muito menos tratarem como alguém inferior por ser mulher. Nem a Batari. Claro, que gostavam que usasse as roupas e os costumes deles, afinal aceitaram-na como parte da família. Era natural. Não era imposição.

Ela já nem conseguia imaginar a sua vida sem as conversas com Harta, naquela casa pequena com a casa de banho no meio da rua, sem quase espaço algum... O seu corpo já estava habituado ao trabalho na terra e à sensação ótima de limpar a terra do corpo... Cuidaram dela sendo uma estranha, tiveram paciência e ajudaram-na a vigiar a plantação de óleo de palma. Ela estava grata do fundo do seu coração, mas daí a casar...

Além disso, como poderia ir para a religião deles? As crenças são sempre interiores por muito que os outros as tentem modificar, isso não acontece. No entanto, se não o fizesse, fosse para Portugal e nunca mais voltasse, ficaria tudo bem? Se sim, porque sentia o seu coração a apertar?

Batari ainda estava a rezar. Bela voltou a espreitar a rua. Haviam mesmo assim muitas pessoas na rua. O calor fazia os homens andar de camisa aberta e calções. As vespas e pequenas motas faziam sucesso naquela cidade. Quase todas carregadas de mercadorias que os donos levavam para algum lugar. Era estranho não terem trazido coisas para o mercado. Ela pelo menos podia se ocupar da banca em vez de esperar ali sem fazer nada por eles. 

Respirou fundo. Ela quase morreu para chegar ali. A partir daí entre o terror de perder a vida e a vontade de fazer algo significativo com a sua vida, Bela tentava apreciar os momentos. A vida eram momentos. Experiências. Nem memórias poderia dizer porque essa também se podem perder ou dissipar com o esforço de uma decepção. Não, talvez ela ainda não soubesse o que a vida era ou para quê servia... No entanto, pensava que se sobreviveu a tanto teria que valorizar o presente do acaso ou talvez de Deus ou como Harta dizia Alá. Para ela, era tudo o mesmo. 

Estava a divagar nestes pensamentos, quando Harta saiu da mesquita sorridente com Samir. Até Samir parecia mais sorridente do que habitual. Batari também saiu pouco depois. Foram para casa, Harta e Bela na parte de trás da carrinha como sempre. Os olhos de Harta brilhavam para Bela e ela encantada olhava para eles, nunca os viu a brilhar tanto.

Ao chegar perto da vila viram fumo perto da plantação. Todos ficaram apreensivos. Estava muito perto da casa deles. 

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora