13. Desamparada

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«Been a long road to follow

Been there and gone tomorrow

Without saying goodbye to yesterday

(...)

Is somebody there beyond these heavy aching feet?

Still the road keeps on telling me to go on»

Agradeço a @Renee_Laurent por ter sugerido a música para este capítulo. Muito obrigada <3

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Bela sentia-se tonta e tinha uma forte dor de cabeça, não conseguia sentir o corpo nem o chão que os seus pés pisavam. Andava e andava e só procurava um lugar onde sentar-se, só para parar um pouco e recuperar do seu estado sonâmbulo. A sua cabeça esqueceu-se de todos os outros possíveis pensamentos e apenas perguntava: o que ela iria fazer agora? Como ia sair dali?

Não tinha dinheiro, estava num país estranho sem roupas, telemóvel, pessoas que falassem a mesma língua que ela... Sem Linda, nem ninguém...

Quando encontrou um banco sentou-se e durante muito tempo não conseguiu ter vontade de se levantar. Era uma sem abrigo num país estranho.

Só então, é que a pior das hipóteses lhe passou pela ideia, viu melhor os documentos que tinha.  Trocaram-lhe a identificação! Não só se enganaram no nome, mas sim, trocaram-na por outra pessoa! Bulan, a pessoa que acharam que ela era, nasceu no mesmo dia que ela, apenas um ano mais nova que ela, indonésia, filha de pai português. Tinha a mesma altura, até a assinatura era parecida com a sua. Por isso, o Dr. John e as pessoas do hospital sempre chamaram-na por Bulan! Nem lhe pediram para confirmar as informações! 

Sentiu o corpo a afundar-se mais no banco, Linda pensava que ela estava morta. A família que esperava no aeroporto era a de Bulan, não a sua...

Talvez, se descobrissem quem ela era e que Bulan não tinha voltado... a enviassem de volta... mas quanto tempo ia demorar? Como a iam descobrir?

Até a descobrirem, se algum dia o fizessem, podia ter já morrido de fome. Podia ir até uma embaixada, mas onde? Haveria alguma em Jacarta? Durante aquela caminhada nervosa e sem rumo ela apenas pensava nas piores consequências. Era como se todo o mundo tivesse caído nos seus ombros e o peso fosse demasiado para ela suportar. As ideias estavam confusos como ela recusasse que aquela era a sua realidade... Se ela fosse à polícia, eles conseguiriam compreender inglês? E mesmo se compreendessem, acreditavam nela? Afinal, ela tinha um documento como era indonésia e não portuguesa... Mas se não fosse como iria viver sem dinheiro? Não era possível. A solução era óbvia: tinha de arranjar um emprego. Assim, não tinha de desistir do seu relatório também... mas valeria a pena? Ela já não sabia. Continuava a andar, mas o chão parecia rodar juntamente com os seus pensamentos confusos...

Se pudesse iria para Padang e ia terminar o relatório... Iria cobrar tão caro por ele! Eles iriam chorar por a terem feito passar por aquilo! Por ter perdido as suas roupas, o seu computador e o telemóvel! Ia comprar um telemóvel topo de gama dos mais caros da loja... No entanto, por agora, ela tinha de sobreviver. Tinha que arranjar comida e um trabalho....

Andava. Sonâmbula, não vendo nada perto de si a não ser as hipóteses sobre o que poderia fazer para ganhar dinheiro rápido. O seu corpo dorido precisava de comida e descanso e o calor deixava-a enjoada. Foi perguntando às pessoas que passavam na rua onde ficava o mercado. Os homens olhavam ferozmente e as mulheres com uma timidez excessiva. No mercado havia sempre agricultores a precisar de ajuda, sem dinheiro, nem papéis, mas com comida e, por vezes, abrigo também... Podia resolver a questão, até ela pensar noutra solução...

Já estava a caminhar há mais de uma hora quando viu uma carrinha carregada de alimentos que fez o seu estômago rugir ferozmente. O homem que vinha na carrinha riu-se a ouvir o estômago de Bela. Sentiu a cara a ferver. Dificilmente um filho de agricultores saberia inglês. No entanto, valia a pena tentar. Perguntou-lhe onde era o mercado e ele respondeu com um inglês bem arranhado, mas compreensível. Continuava a sorrir. Bela quis falar mais qualquer coisa, mas não conseguiu. A náusea, o sol e a fome toldaram-lhe a visão e ela perdeu os sentidos.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora