«Durante três semanas de tormento, todos os outros cinco doentes morreram com a infeção. Sucumbiram com a febre e a desidratação. Bulan foi de todos, a que menos vezes vomitou. Talvez, por isso, tenha conseguido se salvar. De qualquer forma era um milagre, e quando acorda age como se apenas tivesse recuperado de uma simples gripe!» abanou a cabeça « A tensão estava normal, as pulsações e a febre desapareceu. Nem se queixou de dores como calculava que fizesse, nem teve tonturas ao se levantar... Emagreceu, a falta de peso pode dificultar a convalescença. Preciso de dar-lhe vitaminas para fortalecer o corpo. Que caso curioso. Vou enviar este caso para ser estudado...» Dr. John pensava enquanto esperava que a sua paciente voltasse da casa de banho.
Quando Bela regressou estava mais séria e composta, como ganhasse consciência do que acontecera:
– Tenho uma doença grave, doutor? Diga-me a verdade: vou ficar com alguma sequela? Irei sobreviver? – Bela assustou-se a ver o seu aspeto no espelho da casa de banho. Olheiras profundas, cara cadavérica, a sua palidez estava tão acentuada que as sardas sobressaíam como fossem os seus únicos sinais de vida.
- Agora, que a febre cedeu e que está acordada, tem grandes probabilidades de sobrevivência. Tem de comer bem e descansar para se recuperar, sobre as sequelas ou consequências da doença, muito sinceramente ainda não sei dizer. Quando tiver alta, aconselho-a a ir ao médico regularmente para verificar se está tudo bem. Sabe, a sua doença assemelha-se a casos com superbatérias e não pareceu ser viral, apesar de tomarmos todas as precauções, visto que em tantos sobreviventes apenas seis pessoas ficaram doentes. Vamos ver o que os exames vão dizer para ver o que fazer a seguir - informou enquanto escrevia na ficha clínica presa na cama dela.
– Os outros doentes com a mesma doença que eu tenho, já tiveram alta? - Dr. John ia sair, mas Bela parou-o a tempo.
– Os outros doentes morreram no final da primeira semana. Está muito magra precisa de recuperar peso e depois dos exames vemos se vai ser preciso mais algum tratamento. Peço-lhe que não saia deste quarto, a sua doença não parece viral, mas os outros pacientes ficaram assustados – o médico saiu do quarto, deixando Bela atordoada.
As lágrimas vieram-lhe aos olhos. Ela podia ter morrido. Nem sabia nadar, tinha saído daquele avião e graças a um desconhecido conseguiu chegar sem ser levada por nenhuma onda. Agora, era a única sobrevivente de uma doença desconhecida. Sentia que não estava nela, que aquilo não podia estar a acontecer com ela...
Ela nem conseguia sentir nada. Só desejava ocupar-se e não pensar mais naquela doença, nem que estava num local desconhecido e muito menos que poderia morrer ali, longe tudo o que era importante para si. Sentia-se mais sozinha do que nunca.
A emoção que atordoava todo o medo e depressão era a sua raiva por nem ter conseguido chegar às plantações. Conseguia ver o sorriso mesquinho do Dr. Gonçalo ao despedi-la. Ele não sabe o que lhe custou tornar-se subdiretora daquela secção, como pode dizer que ela não era capaz de escrever um relatório? A uma pessoa que viveu para a empresa os últimos anos da sua vida? Bela não conseguia se conformar.
Ela pensou o que iria fazer quando tivesse alta. Talvez, recebesse uma indemnização pelo acidente, com esse dinheiro poderia despedir-se e tirar umas férias. Lembrou-se do silêncio do apartamento, dos fins de semana a ver filmes sozinha...
Mesmo que se despedisse, o que iria fazer? O que andou a fazer todo aquele tempo? A trabalhar para quê? para ser despedida?
O seu coração doía, pesava e prendia-a à cama. Sem o seu trabalho, não tinha nada. Podia tentar voltar e continuar a fazer o relatório, iria falar com o Dr. Gonçalo sobre isso. Queria retomar todas as regalias a que tinha direito. Pelo menos ia visitar um país diferente e sentir que fazia algo pela sua vida. Sim, seria uma aventura.
Antes disso, quando voltasse a Portugal, ia comprar um computador novo e roupas novas ainda mais bonitas e caras do que as anteriores! Ela merecia! Sorriu perante a perspetiva.
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Investigação na Indonésia
Mystery / ThrillerBela, subdiretora da Global, é enviada para investigar os estranhos incêndios supostamente causados pela sua empresa na Indonésia. Durante a viagem, ela perde tudo inclusive a sua identidade o que a leva a refletir sobre a sua vida e o que é importa...