32. A Ida à Cidade

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Bela passou toda a noite a fazer planos mentais sobre a ida à cidade. Harta passou o serão a falar com a mãe para tentá-la convencer a levar a carrinha para a cidade na noite do dia seguinte. 

Bela estava absolutamente dependente do dinheiro de Harta, nunca conseguiria ir sozinha. No entanto, era mais do que isso, se estivesse com ele sentia-se protegida.

A família Dewi faziam-na sentir como parte da sua família, quando eles faziam a suas orações e tinham as suas práticas religiosas, nunca a deixavam de lado, e até lhe deram um tapete para ela rezar. Ela abstinha-se na maioria das vezes, mas por vezes, imitava-os ou sentava-se no tapete só para não ficar a olhar para as sua estranha forma de rezar. Mesmo não acreditando que existia um Deus que olhasse por eles, ela sentia que o sentimento de crença lhes dava força para continuar. 

No dia seguinte, durante o tempo que trabalhava a apanhar ervas, lembrou-se de Miguel. Será que se ele estivesse no lugar dela faria melhor do que ela? Será que ele tinha arranjado uma forma de impedir o fecho da secção? Bela sabia que tinha feito tudo o que podia... mas, por vezes, duvidava se fosse outra pessoa no lugar dela será que conseguiria o que ela não conseguiu?

Todos os dias, ia aquela cerca tentar compreender todas as ações necessárias para a produção de óleo de palma. A plantação das palmeiras, o corte e a produção de óleo. A produção de qualquer óleo precisa de uma grande quantidade de produto, de matéria prima para a produção da substância oleosa resultante. No entanto, os trabalhadores estavam sempre cheios de pressa, como uma empresa que chega todos os dias ao prazo final de um projeto longo e complexo. A pressa leva sempre a mais desperdício, principalmente, a pressa nervosa que os gerentes da produção tinham.

Faziam-lhe lembrar um trabalhador de arte que com pressa deixa cair a sua estátua que se desfaz em mil pedaços um dia antes da entrega e é obrigado a reconstruí-la deste o início num só dia. Este pensamento deu-lhe algumas ideias, tinha de pesquisar sobre o tema, mas ali. no meio do campo e na casa de agricultores, não havia um computador, quanto mais Internet. Apesar disso, conseguiu informações interessantes de Harta. Não tinha sido muito perto, mas na região do outro lado da produção de óleo de palma da Global, tinham havido incêndios. A família de Harta não tinha chegado a vê-los, mas sentiram o fumo e as cinzas. 

Quando tivesse um caderno iria apontar tudo. Depois pensava onde arranjar um computador. Deveriam haver bibliotecas ou cibercafés. Sim, um passo de cada vez. Primeiro passo era ir a Padang.

A noite chegou, Harta sentia-se muito incomodado com aquela viagem. Ficou feliz quando compraram cadernos e canetas para começarem a estudar mais a escrita das línguas que aprendiam. Bela comprou de forma a que desse para isso e para o seu objetivo mais importante: começar a tirar notas para o seu relatório. Quando foi a altura de irem para o bar, Harta tornou-se rezingão e amuado e não queria ir.


– É melhor não irmos ao bar. Já comprámos tudo, vamos embora. Amanhã temos de trabalhar cedo e já anoiteceu – Harta tentava todas as desculpas e mais algumas, sem conseguir demover Bela. Falavam em frente ao bar enquanto esperavam o aparecimento dos trabalhadores da Global.

– Espera só mais um pouco... – pediu Bela quase tão impaciente como Harta.

- Se calhar nem é a este o bar... - Bela apertou a mão dele, interrompendo-o.

O encarregado da plantação entrou no bar com um dos funcionários da produção. Bela e Harta seguiram-nos. O bar estava quase vazio.

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