65. A Despedida de Bela

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Bela foi entregar a sua carta de demissão a Rafael. Agora que Linda estava ali já não tinha tanta falta de dinheiro, conseguiu a sua identidade de volta na embaixada e estava a trabalhar só enquanto estava na Indonésia e por consideração a Rafael. Depois de voltar da visita ao campo de produção, terminou o relatório e agora, só precisava de ir a Lisboa entregá-lo. Mesmo não sabendo se iria ou não ficar na Indonésia, não poderia trabalhar mais no hotel. Rafael tinha a ajudado muito e a Harta também, por isso, merecia saber toda a verdade antes de ela partir.

Rafael estava a escrever no seu computador quando ela entrou no escritório. Ele olhou surpreendido para ela, mas logo desviou o olhar para se concentrar no seu trabalho. Bela aproximou-se da mesa. 

– Bela hoje tenho muito para fazer não a posso deixar utilizar o meu computador... – começou a tentar que ela saísse rapidamente do escritório.

– Venho entregar isto – colocou o envelope na mesa.

– O que é isto ? – observou a carta e viu o que estava escrito. Ficou pálido.

– Venho-me despedir e dizer a verdade.

– A verdade? – ele ajeitou-se no seu assento, a olhar para ela.

– Sei que estava já desconfiado sobre a história que lhe contei – Bela encheu o peito de ar – tem razão nem tudo o que lhe disse é verdade. Espero que entenda que não tive outra hipótese senão mentir...

Bela contou toda a verdade incluindo que o e-mail que insistia em ver era porque esperava a resposta da sua irmã, a única pessoa que poderia comprovar que ela era na realidade Bela e não Bulan na embaixada portuguesa.

– Meu Deus! – foi a única coisa que Rafael conseguiu dizer.

– Peço desculpa por mentir mas sei que se dissesse a verdade provavelmente não me daria emprego e levava-me para embaixada e eu queria ajudar a família Dewi que me apoiou tanto...

– Sim era o que teria feito... mas o Harta é mesmo seu noivo?

– Sim – Bela achou estranho a pergunta, no entanto, era normal ele estar desconfiado.

– Não se está a deixar levar pela gratidão? – Rafael deu volta à mesa para se aproximar de Bela – tem a certeza que quer ficar com Harta para toda a sua vida?

Bela virou a cara. Rafael aproximou-se ainda mais. Ficou à sua frente, mas não lhe tocou.

– Gosta tanto dele para usar um lenço e tornar-se muçulmana? – disse num tom de voz mais suave quase sedutor.

– Sempre que uso este lenço sinto que o Harta está comigo – Bela levantou a cabeça, mas o seu olhar era distante parecia estar a refletir para si mesma – quando estou com ele sinto-me salva, segura como se conseguisse qualquer coisa. Sei que ele me protege sempre e que ele gosta de mim, como sou, mesmo que não tenha dinheiro, nem saiba nada ou que nem acredite em Deus. Nunca me senti tão à vontade com ninguém e duvido que vá sentir o mesmo por outra pessoa – olhou para Rafael.

– Mesmo que essa pessoa fosse eu? – Rafael não conseguiu se conter.

– Sim. Obrigada por me ajudar e por dar-me este emprego, sem o Rafael não teria conseguido. Será sempre um amigo para mim – Bela saiu antes que a conversa se tornasse mais desagradável.

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