39. A Decisão de Bela

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Em silêncio, escolhiam entre os escombros o que tinha sobrevivido ao fogo. A casa era simples sem nada de muito de valor, fora o fogão e as paredes tudo ficou destruído inclusive o caderno com os apontamentos de Bela. Batari não emitia qualquer som, mas a sua face molhada de lágrimas silenciosas refletia a destruição de algo muito maior do que aquela casa. A destruição de um sonho.

Bela sentia ainda as pernas a tremer. Sentiu que mais uma vez quando estava a sentir uma estabilidade, e algo que realmente sonhava e que nunca tinha imaginado, mais uma vez a vida lhe tinha tirado o tapete. O seu mundo ruiu mais uma vez. Sentia raiva, mágoa, medo e só queria fugir. Aquilo tinha sido por sua culpa e das suas estúpidas investigações!

Não podia deixar aquilo assim. Eles não mereciam. Não acreditava que tinha dedicado a maior parte da sua vida a lutar por uma empresa que destruía vidas. No entanto, não era a empresa, eram algumas pessoas da empresa. Além de estar a ser um peso para as pessoas que a ajudaram e cuidaram dela quando mais precisava.

– Harta, eu quero ir a Padang – disse com uma segurança que não sentia.

– Agora?! – os olhos brilharam na contenção de sentimentos que Harta lutava por esconder.

– Sim, preciso de ir procurar emprego.

– O quê?! - olhou-a ferozmente.

– Isso mesmo que ouviste. Nós vamos precisar de dinheiro para sobreviver e tu precisas de ficar aqui com os teus pais.

– Vais deixar-nos?! Porquê?! Estás com medo que não possamos te sustentar, é isso? – Harta não estava a acreditar naquilo.

– Não! – Bela respirou fundo – eu vou fazer o que é preciso.

– Queres ir embora, vai! – gritou Harta – se quiseres fazer parte desta família, fica sabendo que o teu lugar é aqui, connosco não em Padang ou Portugal! Se partires não vou ficar à espera que voltes.

- Muito bem. Não esperes! - Bela pegou no seu lenço e prendeu-o de forma a não se ver o seu cabelo e começou a caminhar.

Harta fitou-a desolado até ela deixar de estar visível no horizonte. Quando finalmente deixou de a ver, agachou-se de forma a que ninguém conseguisse ver as lágrimas que traíam a sua vontade de se conter.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora