25. A Chegada a Casa

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Quando finalmente chegaram a casa de Harta, Bela teve uma decepção tal que quase teve vontade de voltar para trás e chorar. Era uma cabana, uma barraca ou um casebre. A cabana tinha quatro divisões duas delas quase na rua. Eram elas a cozinha e a casa de banho. Sim, daquelas casas que tinham a casa de banho na rua com um chuveiro que era toda a casa de banho com um buraco no chão e sem separação da sanita e do lavatório. 

Arranjaram-lhe uma cama com um pequeno colchão ao lado da cama de Harta. Ela estava feliz de não ter que dormir com ele outra vez. Ele olhava-a de uma forma estranha e fazia-a sentir-se desconfortável.

Depois de jantar, quando já estavam finalmente na cama, Harta explicou-lhe que no dia seguinte ela ia começar a trabalhar no campo a apanhar ervas daninhas. Como ela não sabia fazer nada na terra, era o trabalho mais fácil e preciso porque cresciam por todo lado como uma verdadeira praga. Explicou-lhe que era só no início porque havia tanto para fazer que ela não ia conseguir ficar sempre a fazer a mesma coisa.

Bela pediu para Harta levá-la à biblioteca ou a algum local onde pudesse avisar a sua família que estava bem. Ele desviou a cara, mas disse que levava um dia quando fossem a Padang e tivessem tempo. Não parecia com muita vontade de o fazer. Bela agradeceu e desejou-lhe boa noite. Virando-se para o lado oposto de Harta, suspirou. Ela não sentia-se muito capaz de trabalhar. A exaustão era maior do que a vontade dela. Sentiu-se tonta e com uma vertigem adormeceu. 

Harta acordou-a no dia seguinte. Os galos cantavam, mas ainda estava escuro lá fora. Bela sentia os olhos colados. A sua cabeça pendia, tinha de fazer um esforço enorme para a levantar. O corpo mal o sentia, parecia-lhe algo gelatinoso como a baba de uma lesma que se arrastava pela casa a fazer a rotina matinal. 

Ajudou a mãe de Harta a fazer o pequeno almoço, através de indicações imprecisas com os dedos. Uma comida de arroz era o pequeno almoço para um dia de trabalho no campo, com sumo de fruta o que era muito bom e açúcar para dar energia (fizeram especialmente para ela a pedido de Harta). Ela olhou desgostosa para o arroz frito parecia ter peixe misturado e por alguma razão era colorido, deviam ter adicionado especiarias, cenoura ou outros vegetais. A cabeça pendia para cima dele. Ela sentia-se a desanimar. O estômago embrulhava-se. Todo o seu corpo gritava para voltar para a cama.

Ela tinha de se animar. Porquê ela estava ali? Ela precisava de ir ter com a sua irmã Linda e dizer que estava viva. Ela podia ainda tentar investigar os incêndios e recuperar a sua dignidade. Não era impossível, apesar de ser difícil. Era isso que ela precisava de pensar. Sentiu um impulso dentro de si parecia uma descarga elétrica que vinha da lembrança da sua vida em Portugal. Outro pensamento surgiu quando se imaginou sem emprego a depender da sua irmã Linda ou a recomeçar tudo de novo num novo emprego sem qualquer significado para ela. Não. Ela não aceitava esse futuro. Ela tinha de lutar. Lutar por uma vida com significado para ela. Ela nem sentiu o gosto da comida a descer pela garganta, engoliu rapidamente e saiu para trabalhar. Aquelas ervas iam levar com toda a sua raiva. 

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