69. As Possibilidades de Futuro

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Bela estava dividida entre voltar para a Indonésia ou ficar em Portugal e pedir para Harta e a família virem para Portugal. Ela tinha prometido que eles viriam a Portugal, mas eles não o fariam se ela não os acompanhasse. Harta já sabia bem português, mas a família não e sempre moraram no campo, nem nunca deveriam ter estado num aeroporto quanto mais num avião. Nem tinham passaporte.

Bela também duvidava por Harta ter ficado mais uma vez chateado com ela por ela ter vindo para Portugal. Ela é que tinha razão para estar chateada afinal de contas ele não estava a confiar nela. Miguel tinha facilitado todas as informações e os documentos necessários para fazer o relatório, ele sabia disso. Ela não o acusou, mas também não encobriu as provas contra ele sobre os incêndios. Porque Harta estava a ser tão difícil?

Por fim, resignou-se com a ideia de voltar à Indonésia. Como o seu apartamento foi entregue ao senhorio, Bela ficou a morar com Linda enquanto estava em Portugal.

Ao saber que estava viva, Tobias e Maria começaram a procurar uma nova casa para Bela mas ainda não tinham escolhido nenhuma. Bela pensou que era boa ideia ter uma casa em Portugal e uma forma de utilizar o dinheiro que tinha recebido da melhor forma. Posteriormente, ia comprar outra em Padang.

Bela queria criar uma empresa, estava farta de viver sob ordens e lutar por promoções. No entanto não sabia o que fazer. Ela tinha curso de gestão que a fazia capaz de gerir qualquer tipo de empresa mas a sua especialidade era o ramo alimentar. Podia fazer um restaurante de comida indonésia, mas precisava de uma cozinheira da indonésia mas não sabia se Batari aceitaria o cargo... Suspirou. Lembrou-se da cara de Harta na última vez que viu antes de partir. Porquê ele era tão teimoso?! 

Estava a pensar em comprar uma vivenda. Linda e Tobias não queriam trocar de casa, mas queriam Bela perto deles porque desconfiavam do noivo dela. Pensavam que à primeira oportunidade, Harta a faria sua escrava. Bela ria-se com a ideia. Se ele quisesse já tinha feito isso e muito pior. Bem, na primeira noite que ela passou com eles, ele pareceu bastante motivado para se aproveitar dela... mas, no final, respeitou-a sempre. Lembrou-se como ele a defendeu e deixou-a descansar mesmo sem a conhecer, nem saber se ela poderia se aproveitar dele e roubar a sua casa.

Linda estava surpreendida com a força de vontade da irmã. Ela tinha se tornado noutra pessoa. Antes só queria saber de dinheiro e de comodidades. Agora, apesar de ainda dar muita importância ao dinheiro tinha um objetivo para ele. Só queria ajudar a família de Harta e à família, construir uma vida para si. Não estava preocupada em comprar um telemóvel, nem um computador. Ela é que a teve de recordar para isso. A sua motivação fazia parte da sua força.

Bela ligou para a Indonésia e falou com Rafael porque Harta recusava-se a atender as suas chamadas e com Batari e Samir não conseguia falar. No entanto, isso não diminuía a sua vontade. Rafael também não estava disposto a falar com ela e muito menos sobre a família de Harta, mas Bela conseguiu convencê-lo a ir ao restaurante onde Samir trabalhava e para falar com ele e ver se a família estava bem.

Desde a última conversa deles, a atitude de Rafael mudou drasticamente passou a ser amargo como se tudo o que Bela quisesse falar o aborrecesse. Aborrecendo-o ou não, ela não ia largar o assunto enquanto não soubesse. Rafael sabia disso, por isso, fez um esforço tremendo para verificar, nem que fosse para ela o deixar em paz. No entanto, ele não engoliu as suas reclamações: quem era ela para colocar o chefe a trabalhar?, ela pensava que ele não tinha mais nada para fazer?, entre outras. Bela fingia que não ouvia.

Quando soube que estava tudo bem com a família Dewi e acabou de decorar a sua nova casa com Linda, preparou-se para ir para Padang outra vez. Ela não gostava do  silêncio de Harta, deixava-a insegura. Precisava de definir o seu futuro de uma vez por todas. Iria falar com Harta e decidir com ele. Chegou a esta conclusão porque enquanto estavam a decorar a sua casa nova Linda aconselhou: 

– Sabes quando casas com alguém tens de passar a decidir as coisas a dois. Se eu estivesse no lugar de Harta também teria a mesma reação. Ele sente-se inseguro, vê-te a ser compreensiva com um ex-namorado que é do teu país e com quem tens uma grande intimidade... ainda mais o proteges, o que ele vai pensar? Ainda mais na religião dele, talvez nem tenha tido uma namorada antes... É normal sentir-se inseguro... – Bela já não ouviu o resto. Linda estava outra vez a falar que ela precisava de ter cuidado por ele ser muçulmano.

Bela não tinha perguntado a opinião da irmã sobre o que fazer a seguir. Claro que Linda gostava que Bela viesse para Portugal. Por vezes, pensava que Linda esperava que Bela acabasse o seu relacionamento com Harta ou que ele viesse junto com ela. No entanto, Linda também não concordava com a sua saída súbita da Indonésia. Bela refletiu sobre o assunto durante vários dias. Se ela tivesse no lugar de Harta como se sentiria? Chegou à conclusão que também se sentiria abandonada, deixada de lado nas suas decisões. Por muito que confiasse nele, não iria deixar de o sentir. Por muito que a sua intenção tenha sido boa.

De repente, teve uma súbita vontade de estar na Indonésia. O medo que Harta poderia desaparecer nos braços de uma mulher bem comportada e dentro dos seus costumes. Para Harta não era importante os costumes, mas sim, a personalidade. No entanto, a sua família valorizava muito os costumes e religião. Se encontrassem uma mulher com os dois aspetos, seria capaz de o conquistar? Bela tremia com esse receio. Após tantos anos solteiro, era logo agora que ele ia encontrar outra noiva? Pouco provável. Esse pensamento era o seu único fio de esperança.

No fundo da mente de Bela, uma voz sussurrava a dúvida e o medo e dizia que ele poderia ficar noivo de outra pessoa, nem que fosse por ela o ter abandonado outra vez. Por vezes, durante a noite sonhava com uma rapariga a fazer tudo ao agrado de Harta na casa da família Dewi ou a ser apresentada a ele no trabalho. Todas as vezes acabava o sonho ela a ser rejeitada enquanto a outra ria-se na cara dela. Ela acordava furiosa.

Tudo aquilo estava a deixá-la doida!

Linda queria fazer tudo para adiar a sua volta, mas Bela estava ansiosa para voltar. Ela não queria demonstrar mas aqueles sonhos e desconfianças estavam a torturá-la.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora