36. A Proposta de Casamento

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A família foi no fim de semana à mesquita. Harta pediu para Bela vestir-se bem (tapada) e disse que queria falar com ela em particular quando chegassem à cidade de Padang. Bela sabia que Harta andava muito preocupado, por isso, fez o que lhe pediu sem hesitar. Fez um esforço para não trazer o assunto da plantação e tratou-o da forma mais delicada que sabia. Eles deviam ir à Mesquita rezar para tudo se resolver sem problemas.

Desde que os empregados da Global os tinham visitado, Harta parecia ter uma sombra no seu semblante. Quando falaram em ir à mesquita, ele ficou um pouco mais alegre, no entanto, permanecia nele algum nervosismo. 

As mulheres não podiam entrar com os homens na mesquita e todos tinham de tirar os sapatos antes de entrarem. Batari foi para uma ala lateral da mesquita, mas Bela não quis entrar. Queria ver se havia algum sítio com Internet ou um cibercafé por perto. No entanto, a imponente mesquita erguia-se sozinha com as janelas em forma de estrela perante um grande espaço só para ela. Só a caminhar e sair do parque de estacionamento é que conseguia ver algo da rua. Ela espreitou rapidamente, mas com receio de se perder ou que fosse rápida a oração de Batari.

Depois de cinco minutos Harta saiu da mesquita e veio ter com ela. Parecia ainda mais nervoso do que antes. O que lhe tinham dito na mesquita? 

- Bela, podemos falar agora?

- Sim, é sobre o quê?

- Ah... – mexeu as mãos como se elas o ajudassem a articular as ideias – nós temos passado estas últimas semanas juntos... estando a morar juntos e tudo... Somos quase namorados, não é?

- O quê?! – Bela estava em choque.

- Sim, pelo menos é assim que qualquer pessoa decente pensaria.... – defendeu-se ao choque de Bela.

- Ah! Boa! – Bela olhou para o céu e bateu as palmas – agora estás a chamar-me indecente?

- Não! – estava cada vez mais embaraçado – Não é isso que queria dizer... O que eu quero perguntar é o que achavas de casar comigo?... Os meus pais iam gostar muito.

- E tu ias gostar? – perguntou meio divertida. Estava a fazer aquela proposta apenas por ser o certo na sua cultura?

- Claro! - olhou para ela corando - dar-te-ei casa, comida, roupas bonitas e lutarei para te dar todo o conforto que desejas – parecia dizer aquilo de cor como se fosse o que ela mais precisasse dele – e companhia, nunca mais terás de ficar sozinha...

- Harta... eu nunca pensei nisso, – abanou a cabeça – eu gosto muito da tua companhia, mas não sei... Na minha terra, geralmente começamos a namorar e depois é que pensamos em casar... De certeza que os teus pais concordam com isto? Além disso, eu quero voltar a Portugal um dia...

- A reação de Harta demonstrou a sua tristeza ao ouvir a resposta de Bela. Demonstrava bem que ele não estava a dizer para casarem só porque era o correto na sua cultura. Ela sentiu o peito a apertar. Ela não queria admitir, mas algo nele a atraía...

- Se eu te pedir para namorar, podes pensar nisso? - pediu Harta alguns segundos depois – É normal quereres voltar a Portugal, mas depois podemos ver isso...

- Não sei, se calhar... – parte dela queria dizer que não, mas não conseguia ao ver a sua expressão, sentia o coração a querer fugir-lhe do peito – explica-me como isto funciona na tua religião...

- Falamos, passamos tempo juntos, eu dou-te presentes e convenço-te que posso ser um bom marido... – olhou para ela por alguns momentos, de seguida desviou o olhar – depois combinamos um contrato de casamento. Tens de converter em muçulmana para casarmos na mesquita...

- Eu não tenho religião... Nem sei bem se acredito em Deus...

- Eu aceito isso. Eu respeito-te.

- Está bem – ergueu os braços num sinal de desistência – vou pensar em namorar... Em casar só depois!

- Ok!! – o seu sorriso iluminou o coração de Bela, sentiu que conseguiu respirar outra vez.

 Harta voltou para dentro deixando-a sozinha. 

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora