Alguns anos antes...
Ele trabalhava na mesma secção que ela. Entraram na mesma altura com alguns de meses de diferença, no entanto, ambos eram dedicados, esforçados e ambiciosos. Partilhavam experiências e ajudavam-se entre si.
Um dia, ficaram a trabalhar até mais tarde e Bela já não tinha transporte para casa, por isso, ele ofereceu-lhe boleia. Ela tentou recusar, mas como não tinha carro próprio ainda, acabou por aceitar.
Estavam a meio do caminho, quando o estômago de Bela reclamou sonoramente. Miguel deu uma gargalhada e ao ver Bela corada disse:
– Pois...não há nada a fazer, por muito que tentes esconder esse estômago tem de comer.
Bela riu-se envergonhada e ele levou-a ao restaurante mais próximo.
Durante o jantar, falaram da semana intensa com muitos problemas para resolver. Ambos só sabiam falar de trabalho, por isso, logo sentiram uma grande sintonia entre si. Quando começaram a falar dos seus sonhos, descobriram que ambos tinham o mesmo sonho de ser promovidos para subdiretor. Quando saíram do restaurante estavam já embriagados um no outro. Quando chegaram a casa de Bela, selaram o início da relação com um beijo na penumbra da noite. Era noite de lua nova, nem a Lua brilhou para eles.
Durante seis meses, passavam os dias juntos e estavam sempre em harmonia, concordavam em tudo, sabiam o que o outro estava a pensar. No entanto, sem que se dessem conta, a relação mudou. Bela nunca mais conseguiu falar de trabalho com Miguel.
Miguel esforçava-se ainda mais no trabalho e em tudo queria ser melhor do que ela. Como se ela fosse deixar de gostar dele por ser mais fraco do que ela. Ficava irritado e insuportável quase o tempo todo. Tinha dores de estômago constantes e quase não comia. Quando fizeram um ano de namoro, ele recebeu o resultado do exame ao estômago: tinha uma úlcera. O médico passou-lhe baixa e obrigou-o a não se preocupar mais com trabalho.
Durante a ausência de Miguel no trabalho, Bela foi promovida. Apesar de estar quase todos os dias com ele, Bela foi incapaz de lho dizer. Disse-lhe apenas no seu último dia de baixa. Ele ficou furioso, gritou-lhe:
– Eu estive doente e tu aproveitaste para tomar o meu lugar! – mesmo quando se acalmou, repetia de hora em hora – agora que és chefe já podes tudo, não é?
Esses comentários continuaram e pioraram quando ele voltou ao trabalho. Não respeitava Bela, mandava bocas e não obedecia às suas indicações. Ela não sabia mais o que fazer. Lembrou-se do dia em que ambos falavam sobre os seus sonhos e ele dizia:
– Tu vais conseguir! Vais ser uma ótima chefe, tenho muito que trabalhar para ser melhor do que tu! – encorajou-a Miguel.
– Humm... Tu não tens de ser melhor do que eu, só tens de ser como és. Serás um ótimo chefe assim como és um bom colega – respondeu Bela.
Tinha sido tudo mentira? Ele realmente não considerava que ela não merecia ser subdiretora?
Foi ter com Linda. Estava completamente perdida, sentindo-se culpada por ter aceitado a promoção. No entanto, ela sabia que merecia tinha trabalhado tanto para isso durante dois anos! Miguel estava ainda mais insuportável. Quando ela pediu para terminar a relação, a resposta dele foi:
– Pois... agora que subiste de posto já não sou bom o suficiente para ti, não é?... Nunca pensei que fosses capaz de fazer isto, Bela! - e desatou chorar como uma criança. Bela ficou sem reação.
Linda era para Bela um porto seguro. Não importava qual fosse o problema, Linda saberia o que fazer. Quando lhe contou tudo o que se passara Linda deu-lhe um raspanete. A única coisa que fazia era fazer perguntas que Bela não sabia como responder:
Como podia permitir que alguém lhe tratasse assim?
Como podia duvidar que ela merecia a promoção?
Como poderia ir na conversa de um invejoso?
Quando ela tentou refutar, Linda respondeu implacável:
– Queres mesmo perseguir um homem que só te deixa infeliz? Nunca pensei isso de ti!
Esta frase doeu-lhe mais do que uma bofetada. Bela calou o pânico da sua mente. A decisão formou-se no seu coração. Não ligou mais para Miguel, ignorou as suas mensagens ofensivas. No dia seguinte, ele veio pedir desculpa, mas Bela interrompeu:
– Tu sabes que isto já não está a fazer bem nem a ti nem a mim – tentou ser o mais fria e distante possível.
– Pois... eu não... – tentou justificar-se, mas não encontrou nenhum argumento para negar. Ficou em silêncio com a cara em conflito a tentar encontrar os olhos de Bela. Bela manteve o olhar distante. Por fim, fungou e deixou apenas uma carta de demissão em cima da mesa.
Bela engoliu as lágrimas e mergulhou num mar de trabalho que ela não deixava que tivesse fim. Aos fins de semana, ia ter com sua família e Maria dizia-lhe, com a sua sabedoria de quatro anos, como os rapazes eram maus, exceto o seu pai. Bela ria e chorava sem que a pequena compreendesse muito bem. O stress e os nervos começavam a tomar conta dela. Chorava por tudo e por nada quando não estava a trabalhar. Emagreceu sete quilos e as suas olheiras mostravam bem como passava as suas noites.
Nas férias, Linda pagou-lhe uma viagem para os Açores, na ilha do Faial, com uma vista linda e absolutamente nada que fazer. No princípio, Bela pensou que iria enlouquecer. Começou por ficar apenas no quarto da sua casa alugada a chorar toda a raiva contida. Quando sentiu que a casa a oprimia saiu e percorreu pelos trilhos de caminhada do Faial e Pico, viu as baleias, as aldeias e vilas até não poder mais. Por fim, chegou a altura de voltar.
Quando chegou a Lisboa, vinha outra pessoa e estava decidida a não duvidar mais de si. Ela iria viver para ela e para os seus objetivos. Na vida de Bela nunca a tinham ajudado nem estado ao seu lado sem interesse. Ela habituou-se a que na vida nunca teria a ajuda ninguém, não seria mais tola ao ajudar alguém de trabalho e muito menos, em envolver-se com colegas de trabalho.
O seu trabalho e a sua qualidade de vida tornaram-se os aspetos mais importantes da sua vida, fora a sua família. Se não fosse Linda, ela não saberia o que fazer. Não teria como ficar melhor. Ela era o seu porto de abrigo desde a morte dos pais.
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Investigação na Indonésia
Mystery / ThrillerBela, subdiretora da Global, é enviada para investigar os estranhos incêndios supostamente causados pela sua empresa na Indonésia. Durante a viagem, ela perde tudo inclusive a sua identidade o que a leva a refletir sobre a sua vida e o que é importa...