50. O Diretor Miguel

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Miguel torcia os dedos enquanto esperava ansiosamente as novidades do encarregado. Tinham que conseguir atingir os objetivos de produção. Estava farto de ser comparado com a filial da Malásia e das ameaças de fechar aquela produção em Padang. A produção dava trabalho a milhares de pessoas além de ser o local onde tinha investido os últimos anos da sua vida. A sua mulher e filho dependiam dele. Ele dependia do campo de produção, não importava se comprassem os terrenos de agricultores com o dobro do valor ou se ardessem algumas partes das florestas? Aquele país era rico em vegetação, não tardaria a voltar a crescer! O que importava é que estava a matar a fome daquelas pessoas. Estava a dar emprego àquelas pessoas. Estava a salvar vidas. 

Ouviu um pequeno bater na porta, o encarregado entrou com a testa enrugada. O estômago de Miguel contraiu-se.

- Então? – a sua ansiedade não o deixava dizer mais do que isso.

- Foi difícil... – o encarregado enrugou ainda mais a testa e depois descontraiu a face – mas conseguimos!

Miguel caiu na cadeira, como se fosse libertado de um grande peso.

- Qual vai ser o custo? – murmurou.

- Temos que pagar uns terrenos de agricultores, mas não é muito... o problema é que com a pressa tivemos alguns acidentes e desperdícios...

– Mas será que NUNCA conseguem fazer as coisas bem?! – Miguel precisava de libertar aquele grito que tinha se alojado no seu estômago.

- Lamento, diretor, fizemos o melhor que conseguimos – voltou a enrugar a testa.

– Vá fazer o seu trabalho! Não se esqueça de ver as indicações que lhe enviei para evitar acidentes e desperdícios... Não quero ninguém a trabalhar mais do que nove horas por dia, ouviu?

O encarregado acenou afirmativamente e saiu. Miguel respirou fundo abriu a gaveta e tomou o seu calmante. Precisava de manter a calma e por muito que não gostasse do encarregado precisava dele. Ele tinha a tendência de tratar os trabalhadores como escravos... Mas ninguém conseguia fazer melhor do que ele. Além disso, quem aceitava fazer as coisas que eram obrigados a fazer sem dizer nada? Mesmo que se quisesse o despedir, os da sede em Portugal nunca o deixariam...

«Ah! Dinheiro a quanto obrigas!» pensou a beber mais água para se acalmar.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora