19. A Frustração de Bela

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Harta explicou-lhe que a Indonésia é um país maioritariamente muçulmano. Harta era muçulmano, assim como, os seus pais. Era a razão da sua mãe usar lenço. No entanto, era um país com muitas outras religiões e não era obrigatório andar com lenço na Indonésia. Ele acreditava em Alá, mas considerava que as restrições da sua religião, eram mais indicadores como deveriam comportar-se do que regras rigorosas. Ele acreditava que Alá era bondoso.

Bela aproveitou o pedido de Harta para trocar o ensino do português por bahasa indonésio, a língua oficial. Ele estava fascinado em saber outra língua. Bela esperava ter algumas noções, mas duvidava ficar fluente. Aquela língua parecia muito mais complexa do que o inglês.

Podia ser que ao ouvir as pessoas a falar a língua, mais as aulas, poderia não falar, mas pelo menos, compreender. Tinha de sobreviver até conseguir ir a um computador e falar com Linda ou alguém. Será que tinha vindo alguém da família de Bulan ao aeroporto?

Não poderia pedir ajuda para sair da Indonésia àquelas pessoas que a ajudaram para que ela trabalhasse para eles. Claro que só poderia ser esse o interesse de a ajudarem, depois de muito refletir tinha chegado a essa conclusão.Não, ela sempre conseguia tudo sozinha com o suor do seu trabalho. Agora, não seria diferente. Trabalharia até ter algum dinheiro para enviar um e-mail a Linda ou para voltar a Portugal.Mesmo assim, eles já tinham-na ajudado tanto e confiado nela que era apenas uma estranha.

Depois de uma noite inteira encolhida na parte de trás da carrinha e de um dia cansativo no mercado, as suas pernas eram como varas verdes e a sua cabeça chumbo a desequilibrar todo o seu corpo. No entanto, não podia deixar que Harta colocasse todos os produtos na carrinha, tinha de provar o seu valor, senão podiam deixá-la ali numa zona desconhecida e sem capacidade de voltar nem para o aeroporto. O seu corpo latejava a cada movimento, mas ela recusava-se a queixar-se.

Harta, sem notara sua frustração, ajudava-a em todas as caixas e sacos que carregava. Os seus olhos não despegavam dela nem por um instante. Ela sentia que estava a funcionar como um filme em câmara lenta. Cada movimento parecia conseguido a esforço de um caracol a querer competir com um cavalo.

Harta sorria ao seu desespero o que a deixava desconcertada. Podia pelo menos reclamar com ela em vez de sentir-se feliz por fazer tudo por ela. Se não a deixasse trabalhar como poderia mostrar o seu valor?

A noite chegou depois de um longo questionário de Harta sobre Portugal, Bela deixou de ter forças para perguntar sobre a Indonésia, sinceramente nem estava assim tão interessada. Tinha sido um acidente ter ido parar ali e ela apenas queria voltar. 

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