70. O Regresso à Indonésia

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Quando finalmente chegou a Padang foi logo ver Harta. Como era um dia de semana, Harta estava a trabalhar, estava na pausa do seu trabalho, estava a sorrir e falar com uma mulher estrangeira de calções e t-shirt. O sangue de Bela ferveu. Tentou -se acalmar. Aproximou-se deles e tentou a ouvir a conversa, mas apenas ouviu a turista a rir-se.

Salam! Olá Harta! – gritou Bela.

Harta olhou surpreendido para trás onde viu Bela com o lenço que lhe ofereceu, em posição bélica e um tom de voz mais alto do habitual. Ela olhou feroz para a turista.

– Bela! – reagiu feliz por a ver, mas logo se reprimiu. Olhou para a turista confusa e depois deduziu a razão da posição bélica de Bela – Olá Bela, esta é a Sarah, ela faz vídeos promocionais da Indonésia. Sabes daqueles de turismo?

– Ah! Que interessante... – o tom de ironia traiu-a.

– Que mulher bonita! Conhece-a? – perguntou Sarah.

- Sim, é minha noiva. – respondeu Harta. Falavam em inglês.

– Será que ela aceitaria ficar num vídeo? Fica tão bem com esse lenço! - entusiasmou-se Sara.

Bela achou estranho Sarah perguntar a Harta em vez de diretamente se ela queria participar do vídeo. Talvez, fosse um costume, por isso, as mulheres ali eram tão tímidas. Os noivos e maridos é que decidiam as coisas por elas.

- Sim, podemos fazer – respondeu Bela quando Harta olhou para ela.

Sarah sorriu e começou logo a preparar a câmara de filmar. Queria primeiro tirar uma foto e depois filmar eles a conversarem. Harta pediu a Bela para aproximar-se. Discretamente colocou a mão nas costas para a apoiar. Bela sentiu-se a aquecer. Teve vontade de o abraçar, de o agarrar ali mesmo. Estava cheia de saudades do seu toque. As suas faces ficaram coradas e Sarah adorou.

Antes de filmar, Sarah informou que não ia colocar o som da conversa no vídeo porque não iam falar bahasa indonésio e era pouco tradicional. Ficaria mal num vídeo de turismo. Bela compreendeu que quem era ali mais turista era ela porque apenas sabia pronunciar poucas palavras em bahasa indonésio enquanto Sarah já sabia falar bem. Depois do filme gravado Sarah agradeceu-os em bahasa indonésio e em inglês.

Quando finalmente foram deixados a sós, Bela sentia uma enorme vontade de o beijar. Harta, no entanto, parecia tão distante quanto o dia em que ela partiu.

– Então, voltaste? – fez-se por mais zangado do que se sentia.

– Eu volto sempre. – disse Bela aproximando-se dele. Harta afastou-se.

– Tenho de ir trabalhar. Vai para casa falamos lá. – Os dedos de Harta tocaram nos dela. Ela sentiu que ele não estava assim tão chateado, estava apenas a tentar controlar-se tanto quanto ela. A vontade de colar o seu corpo contra o dele estava cada vez maior. Bela temia não conseguir resistir.

Foi para casa e encontrou Batari quem a abraçou e trocou algumas palavras. Queria falar-lhe tudo, mas não conseguia. Batari ajudou-a a colocar as malas no quarto e depois foram preparar o jantar. Bela sentia-se cansada, mas não queria dormir. Sabia que não iria conseguir acordar quando fosse hora de jantar. Queria falar com Harta e resolver toda a situação. Bebeu um café e ocupou-se o mais possível para não se deixar levar pelo sono.

Harta chegou a casa e encontrou Bela encostada no sofá a dormir. Ele estava a conter a sua alegria de a ver num sorriso que não conseguia disfarçar. Ele tocou-lhe secretamente na mão. Aquela sensação de calor voltou a espalhar-se pelo seu corpo. Parecia ter passado uma eternidade desde a última vez que tocou na sua mão. Estava ainda a tocar nela quando Bela abriu os olhos e apertou a sua mão com força.

- Harta... – Como ela sentia-se inteira e segura só com um pequeno toque. Só de saber que o tinha por perto.

- Voltaste – repetiu Harta sem saber mais o que dizer que pudesse expremir tudo o que estava a sentir e sorriu para ela.

- Harta, eu... – esfregou os olhos para evitar chorar – amo-te. Não consigo estar sem ti!

Os olhos de Harta iluminaram-se. Antes de Bela dizer mais alguma coisa, ele abraçou-a carinhosamente e beijou-a suave e demoradamente. Bela sentiu que o chão, o sofá tinha deixado de existir. Era só ela e Harta e aquele beijo que lhe arrepiava de tão carinhoso. Ele passou o braço pelos ombros e ficaram assim todo o tempo enquanto falaram e Bela contou-lhe o que se tinha passado em Portugal.

Harta ouviu Bela a dizer o valor que lhe pagaram o relatório, mas não conseguiu raciocinar todo o valor em rupias indonésias, nem sentir-se como rico. Era como fosse o dinheiro dela e que Bela fosse rica como para ele sempre fora em Portugal, num lugar muito longe, mas na Indonésia, ela era tão pobre quanto ele. Era uma mulher de garra, por vezes em demasia, e casmurra como tudo. Não media as suas ações quando queria algo. No entanto, a sua imprevisibilidade e a sua força fascinavam-no. 

Harta, o que vamos fazer a seguir? – olhou fixamente para ele – quero saber agora que temos dinheiro, podemos fazer tudo o que quisermos. O que queres fazer?

Harta sorriu e ficou feliz por notar que ela estava a contar com a sua opinião, em vez de fazer como ela queria e depois informar sobre os seus planos. Ficou feliz por isso.

- Vamos ver o mundo! – os olhos dele brilharam, era algo que sempre quis fazer. Bela riu-se.

- Está bem, mas e depois? Os teus pais onde vão querer morar?

Harta sempre valorizou a família e a sua cultura. Sempre adorou a Indonésia e Padang e a sua religião, mesmo que o fizesse de uma forma muito pessoal. Gostava de ser quem era. Gostava da sua cultura diversa, mas por gostar da sua cultura também conseguia gostar de culturas estrangeiras, talvez pela diversidade que havia no seu país. Quem disse que era preciso valorizar uma coisa em vez da outra? Isso é mesma coisa que dizer que para gostar dos outros não se pode gostar de si. No entanto, só se pode gostar dos outros se gostar de si mesmo. Era assim que Harta era. 

Harta ficou pensativo até Samir chegar a casa. Ele começava a formar um plano na sua mente, Bela conseguia compreender pela sua expressão. Samir ficou muito feliz ao ver Bela, tanto que foi para a cozinha falar com a mulher. Harta tinha pressa para falar com ele, mas como pensava que era melhor falar a sós e com tempo, deixou a conversa para depois do jantar.

Samir falou mais do que usual durante o jantar, talvez também tivesse receio que Bela não voltasse, agora que ela estava de novo com eles, notava-se o seu ânimo. De seguida, foi falar com Harta para a sala. Bela observava e criticava-se pela enésima vez por não saber falar e compreender bem a língua indonésia.  Ela tentou seguir a conversa deles mas como falavam rápido e em tom de murmúrio não conseguiu ouvir a maior parte da conversa. Estava a limpar a loiça enquanto Batari lavava, Bela estava tão distraída que deixou um prato cair. Batari fez um sinal para ela ir para a sala. Ela não estava a ser uma grande ajuda. Além do mais, estava muito cansada.

Bela aproximou-se de Harta e de Samir, mas Harta disse-lhe que ela estava com um ar cansado e empurrou-a para o quarto, obrigando-a a ir dormir. Bela tinha dúvidas que conseguisse dormir até saber o resultado da conversa. No entanto, mal se deitou na cama,  pouco tempo demorou a adormecer. O seu último pensamento foi que no dia seguinte, poderia saber tudo de Harta. Harta e Samir deveriam chegar a uma conclusão. Para Bela o mais importante era ficar junto de Harta, não importava onde fosse. 

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