48. Impaciência e Sonhos Desfeitos

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Quando Bela recebeu, conseguiu comprar um telemóvel barato, sem acesso à Internet muito parecido com o de Harta. O tempo passava e Linda não dizia nada. Bela pedia uma vez por semana para ver o e-mail no gabinete de Rafael. Era provável que tivesse ido para o spam e Linda nunca chegasse a ver. 

Bela culpava-se por não memorizar o número da irmã, se soubesse poderia lhe dizer que estava viva mesmo que fosse para ouvi-la reclamar por ter ido naquela viagem. Ela confiava demasiado no telemóvel e na sua agenda, tinha tudo lá. Sem eles, era como se todas as pessoas que conhecia tivessem desaparecido como nunca tivessem existido. 

Batari começava a recuperar aos poucos. Começou por falar mais com Samir ao jantar enquanto falava olhava para Harta e Bela. Pelo pouco que Bela percebeu da conversa, Harta já estava a ficar velho para casar. Comentou sobre isto com Harta depois do jantar quando estavam sentados no sofá com as mãos dadas atrás das costas para os pais de Harta não verem:

- É verdade. A minha mãe está mais preocupada com o meu casamento do que eu – Harta sorriu timidamente – ela gostava de ter tido mais filhos, mas depois de me ter, ela engravidou de novo e abortou. Não notou nada por algum tempo e o bebé estava morto. Por isso, teve de tirar o útero. Ela queria mais crianças na família.

Bela compreendeu o que ele quis dizer: Batari queria netos. Afinal de contas, era uma mulher que vivia para a família. Foi o que lhe ensinaram, era o que ela considerava ser o certo. 

- Fico muito feliz por ela ter-me aceitado, pensei que ela quisesse uma nora da mesma religião... - Bela achava muito estranho os pais de Harta a aceitarem tão facilmente.

- Eles já me apresentaram várias pretendentes... - Harta desviou o olhar –, mas eu não gostei de nenhuma. Eles entendem que tu és estrangeira é normal seres diferente...

Bela sentiu que o seu coração falhou uma batida. Ele não quis as outras pretendentes, mas gostou dela? Ela era assim tão especial para ele? Ela sentiu-se como se pudesse voar. No entanto, entendia que Batari só a aceitava por ela ser uma esperança de ter crianças na família no futuro.

Bela nunca pensou em ter filhos. Sabia que estava na idade e que deveria pensar nisso, mas não tinha ninguém quando estava em Portugal. Agora, não tinha nada, mal sobrevivia, como poderia pensar em trazer um bebé frágil ao mundo? Não, realmente não fazia parte dos seus planos, mas não teve coragem de dizer a Harta. Até porque não queria estragar o momento. Até porque não sabia se um dia iria querer ter um filho. Pensava nisso depois.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora