21.Um Abrigo Muçulmano

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Bela estava completamente à mercê deles, mesmo que quisesse não os podia preocupar ao dizer que preferia um quarto só para ela. Já ter um quarto em vez de uma carrinha para dormir, era uma grande evolução. Como resposta, Bela perguntou-se tinha colchão para ela e todos suspiraram de alívio. Não era uma situação que Bela gostasse, mas não estava em posição de ser exigente. 

Tinha de confiar. Tinha de ir para onde a vida a levasse. Não conseguia ver outro caminho e aquelas pessoas pareciam ser muito mais bondosas do que Bela alguma vez fora durante toda a sua vida.

Na casa para onde foram, todas as mulheres usavam lenço. O lenço de Harta ajudou a manter o mínimo de compostura, se bem que Bela não podia evitar os olhares das mulheres de desaprovação. Olhavam especialmente para as suas roupas de forma reprovadora. 

O jantar foi uma tortura em língua estranha com umas palavras que pareciam ser inglês, outras português, mas que ao falar tão rápido ela não entendia nada. Todos a vigiavam como fosse de outro planeta. 

O quarto tinha uma pequena casa de banho apenas com água fria. Muito melhor do que uma casa banho pública. Quando Bela foi tomar banho tinham deixado roupa com umas calças largas e uma túnica comprida a condizer com os costumes muçulmanos e uma camisa de dormir comprida. Cada casa era um reino naquele país, pensou Bela. Enquanto não tivesse o seu era governada pelo reino dos outros. As suas regras e as suas exigências. Ela não gostava muito daquelas roupas porque sentia que eram uma obrigação vesti-las. Não sabia se Deus existia ou não, mas pensava que se ele existisse muito provavelmente era indiferente às roupas que os humanos usavam. Afinal, todos nasciam nus. No entanto, estava grata por ter algo diferente para vestir.

Era uma bênção ela não perceber nada da língua indonésia. Se ela falasse o que pensava, poderiam levar a mal e assim, não conseguia compreender os insultos nem falar o que não devia. Bastava fazer tudo o que lhe pedissem. Sem discussões e sem tentativas de persuasão para juntar-se a uma religião ou ideologia. Ela era apenas uma empregada pobre e perdida que encontraram na beira da estrada.

Quando saiu do banho, viu que o quarto tinha uma cama de casal, onde estavam já deitados os pais de Harta e na outra estava Harta com o cabelo molhado do banho e de tronco nu. Os seus músculos denotavam-se em linhas ténues, mas fortes do trabalho árduo que tinha diariamente. Harta só ocupava metade do colchão. Bela suspirou. Ele achava mesmo que ela iria conseguir dormir com ele assim? Encostou-se no canto ao lado da casa de banho e tentou adormecer, mas não é nada confortável dormir sentada no chão.

Harta levantou-se veio ter com ela:

 - Vem para a cama – pediu.

- Não. Não concordei em dormir com ninguém despido, – fungou Bela, ainda mais com os pais ao lado o que eles iriam pensar!

- Prometo que te vou respeitar, não vou fazer nada que tu não queiras... – vestiu uma T-shirt e mostrou-lhe uma almofada para colocar entre eles – assim, está melhor?

Bela deitou-se. Deitou-se em cima das cobertas e Harta por baixo com a almofada. Ela nem teve tempo para ficar preocupada o sono chegou como um trovão e perdeu a consciência.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora