Investigação na Indonésia

71. O Plano de Harta

Harta falou com Samir. Ele queria vir para Portugal. Quando era criança e falava com os clientes estrangeiros do restaurante onde os pais trabalhavam, imaginava como seria viver num país diferente. Nunca falou sobre o assunto porque via bem as dificuldades que os pais passavam. Agora, poderia experimentar viajar e viver num outro país mesmo que só fosse por algum tempo. Ele nunca pensou que iria ter dinheiro para ver o mundo.  Até parecia que estava a sonhar!

Bela era um sonho tornado realidade. Ele gostava de tudo nela, o seu tom claro de pele, a sua maneira de o olhar como uma menina a pedir permissão ao pai para fazer traquinices, até gostava das suas ideias loucas (apesar de o deixarem sempre de coração nas mãos). Todavia, o que o cativou desde o início,  foi a sua maneira de pensar e de ser muito alheia à sua cultura. Agora, aquela mulher que apanhou esfomeada no meio da rua, estava rica a oferecer-lhe para ver o mundo com ela. Ela ia casar com ele. Não imaginava como a sua vida poderia ser melhor! E pensar que tudo isto devido a um relatório que ele sempre detestou.

Harta falava com o pai a tentar convencê-lo a ir morar para Portugal. Samir sabia que Portugal é um país muito alheio à sua religião. Pensava que Harta era demasiado libertino na sua crença do Alcorão e tinha receio que os seus netos, filhos de uma descrente e de um crente nada virtuoso, fizessem a sua religião desaparecer completamente da sua família. Por isso queria viver perto dos netos. No entanto, ele adorava a Indonésia, tinha vivido lá toda a sua vida. Só gostava de voltar a ter o seu terreno. Tinha a certeza que ali a terra era mais viva do que em Portugal, as plantas nasciam espontaneamente com uma grande ânsia de viver. Conhecia as plantas daquela terra o que não acontecia com as de Portugal. Não se negava a ir visitar, mas não queria de modo algum viver em Portugal. 

Como tinham diferentes pontos de vista, Harta e Samir discutiram até altas horas da madrugada. Samir acabou por ceder com que Harta fosse viver para Portugal depois de casar. Harta acabou por aceitar pedir dinheiro para um terreno para os pais e que eles iriam ficar na Indonésia. Teria que engolir o seu orgulho para isso, mas os seus pais tinham sofrido muito com o incêndio. O que os seus pais queriam era um pagamento por abrigar Bela por tanto tempo na sua casa... e pelo que a Global fez à sua casa e terreno... Apesar de ela não ter culpa disso. Harta sabia que Bela ia aceitar, mas isso não o fazia sentir melhor.