11. A Chegada à Indonésia

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A roupa que estava vestida fazia-a desaparecer e notar-se mais o seu corpo desnutrido. Teria de comprar roupa nova, será que conseguia desta vez convencer Linda a ir às compras com ela? De seguida, iria para o hotel tomar um bom banho de espuma e relaxar. Era tão bom antes do trabalho. Afinal, ainda estava de baixa, podia aproveitar mais uns dias antes de ir para a Sumatra. O que era a vida senão gozar esses bons momentos?


Desde que acordou, só pensava em gozar a vida e como aproveitar o seu tempo. Era como se ela precisasse de conforto, mas ao mesmo tempo se ela parasse tinha receio que os seus sentimentos a inundassem. Sentia-se como uma barragem demasiado cheia, que quando abrisse as suas comportas iria inundar toda uma vida. Lamentava como só tinha trabalhado e não tinha viajado, não tinha feito as coisas que mais gostava como brincar com Maria, aproveitado o tempo com a sua família e quando tinha sido a última vez que tinha saído com uma amiga? Sentia falta de viver... Quando tinha sido a última vez que realmente tinha-se sentido viva?

Os bons momentos só eram possíveis com dinheiro, mas tinha se concentrado tanto em ganhá-lo que se esqueceu de o aproveitar. Depois de fazer o relatório, ia visitar um pouco a Indonésia. Aproveitar um pouco esta viagem, viver um pouco.

Ela não ia voltar ao ponto de partida, não depois de tudo o que tinha feito por aquela empresa. Era mais do que uma questão de dinheiro, era uma questão de orgulho. Era um lugar que tinha conquistado e iria pelo menos fazer tudo a seu alcance para não o perder.

Assim que aterrou sentiu como a humidade e o calor se colavam à sua pele quase a sufocando. O aeroporto era como um grande centro comercial. Tantas pessoas mas nenhuma olhava para além daquilo que precisava. Era o final do dia. Bela voltou a desejar ter telemóvel, como ela ia saber onde Linda e Tobias estavam?

Bela vagueou pelo aeroporto. Via pessoas de todos os estilos e etnias, parecia que todos os povos do planeta tinham decidido se representar naquele aeroporto, mas não conseguia reconhecer as línguas que falavam. A pressa e a solidão gritavam no aeroporto. Era impossível saber onde Linda e Tobias estavam, era demasiado grande. Viu cabines de telefone, mas sem o seu telemóvel ou a sua agenda, não sabia o número de Linda. Sempre o tivera no telemóvel ou na sua agenda e nunca pensou em memorizá-lo. Como se sentia estúpida!

Como os ia encontrar? Pensou que estivessem na saída da viagem, onde geralmente se encontram as pessoas. Era lá que estavam quando regressou dos Açores, porque não se tinham lembrado disso? Ela viu com atenção todas as pessoas, algumas até tinham papéis com nomes. Será que haviam pessoas que não reconheciam os seus amigos?

Talvez o hospital tivesse dado mais informações nos papéis. Procurou entre os documentos e retirou outra vez a folha da sua identificação e viu a sua foto como tivesse muito antiga, esbranquiçada que poderia ser a sua ou a de milhares no mundo, e no seu nome em vez de ser Bela estava Bulan Andrade. Bulan? Suspirou. Enganaram-se no nome! Como não tinha reparado antes? Enfim, iria mudar assim que chegasse a Portugal. Não havia nada que comprovasse que ela se chamava Bela e também naquele momento ela só queria saber da sua família. Não lhe apetecia ficar horas nos escritórios do aeroporto só para lhe mudarem o nome, isto se o fizessem... Era apenas um documento provisório que logo se iria resolver quando ela encontrasse Linda. Voltou a procurar por uma indicação onde encontrar a sua família. Nada.

A sua sorte foi que o aeroporto estava aberto vinte quatro horas por dia e tinha cafés e restaurantes, máquinas de venda automática, casas de banho e bancos para descansar. Agradeceu-se interiormente pelo seu esforço em aprender inglês. Agradeceu pela língua inglesa ser falada em todos os locais do mundo.

O aeroporto estava isolado, sem nada a não ser estradas em redor. Havia um terminal de autocarros, mas que se dirigiam a hotéis e Bela não tinha hotel reservado. Teria de ir de táxi. Antes de ir Bela pensou em ficar no aeroporto mais um pouco. Estava anoitecer e Bela tinha pouco dinheiro que lhe deram no hospital, teria que converter em rupias indonésias e poupar até encontrar Linda.

Bela decidiu ir à filial da empresa e falar com o diretor da empresa. Pelo menos, deviam deixar falar com Linda por telefone e ver o seu e-mail. Apresentar-se com aquelas roupas seria realmente degradante, mas ela sabia que a empresa a iria apoiar uma vez que foi devido a trabalho que ela estava ali. Ela não podia apenas ficar com alguns trocos e com aquela roupa. Não, sem dúvida que não.

Bela comprou um mapa. A empresa estava muito longe do aeroporto, mesmo que fosse perto, ela não ia sair dali sem um carro. Tinha receio de se perder, sem dinheiro e telemóvel ainda piorava as coisas. No entanto, só poderia ir no dia seguinte, eram oito horas da noite, não ia encontrar ninguém na empresa. Resignou-se que iria dormir ali e procurou um local mais ou menos confortável para descansar. 

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