35. A Proposta de Compra

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Passaram o resto da semana amuados. Bela insistia em ir ver a produção de óleo de palma, todas as tardes. Levava o caderno e apontava tudo o que via e ouvia. No entanto, não sabia muito mesmo assim. Precisava mesmo de um computador com Internet. E tempo. Mas não seria possível ali e assim daquela forma. Sentia falta das suas conversas com Harta... Harta tinha alguma razão, mas quem era ele para falar sobre o perigo que ela corria quando foi ele que virou a bebida para cima do encarregado? Ele era ainda mais doido do que ela!

Ao chegar a casa, viu o encarregado da plantação que tinham encontrado no bar a bater à porta. Escondeu-se perto da entrada para que ele não a reconhecesse. Estava com dois outros homens. Falaram em indonésio e, por isso, Bela não percebeu nada. A cara de Batari e a firmeza de Samir avisaram-na que a razão que os tinha trazido ali não era boa. Será que tinham descoberto onde Bela e Harta moravam e queriam fazer algum tipo de retaliação?

Demoraram uns quinze minutos e saíram da casa. O encarregado atendeu uma chamada no telemóvel e estava a pedir mais tempo porque a encomenda que tinham recebido era muito grande, por isso, não sabiam quando a conseguiriam enviar. Ao desligar o encarregado disse ainda em inglês para os empregados não compreenderem:

– Não conseguem viver sem este óleo! - suspirou.

Deixou-os sair de vista e avançou para a porta da casa, sentiu uma presença atrás de si. O seu coração agitou-se. Será que eles tinham voltado?Ou tinham percebido a sua presença?

Quando olhou para trás viu Harta com um ar assustado. Voltou a respirar.

– Assustaste-me! – colocou a mão no peito como a impedir que o coração fugisse.

– O que aqueles empregados da Global vieram aqui fazer? – resmungou Harta

– Não sei, eles falaram muito rápido e em indonésio, não percebi nada.

Entraram e viram Batari a esconder as lágrimas. Samir tinha voltado para o campo. Bela sentiu-se constrangida. O seu pressentimento estava certo. Será que os pais de Harta sabiam o que tinha acontecido no bar?

Harta foi falar com ela no quarto. Bela observou a mesa posta para o almoço. Naquele dia, o almoço era arroz de frango com ervilhas e molho de soja e um ovo estrelado. Ela gostava daquele prato não era muito diferente do português. No entanto, toda a sua fome tinha desaparecido. Aqueles pratos que não condiziam uns com os outros e com os copos, uns toalhetes de bambu. Uma panela quente no fogão. Uma simplicidade tão bonita de se ver. Bela percebeu que aquele era o seu lar. Não apenas uma casa onde estava a ficar por algum tempo.

Bela ficou a admirar o prato por um longo tempo e a divagar nas dúvidas da sua mente. Harta chamou-a para o quarto para falarem. Batari foi chamar o marido para o almoço.

– Eles querem comprar a casa. Querem aumentar a plantação.

Por um segundo, Bela respirou de alívio por não terem ido ter com eles devido ao que se passou no bar, mas depois pensou melhor:

- O que os teus pais disseram? - preocupou-se Bela.

- Não sei se sabes, mas os meus pais trabalharam muito para comprar este terreno. Claro que recusaram, – o maxilar de Harta contraiu-se –, nós não vamos sair daqui, não, sem dar luta.

- Então, porquê a tua mãe estava assim tão triste?

- Ela diz que esta gente não sabe ouvir um não. Tem medo que eles possam retaliar de alguma forma forçar-nos a ceder.

O coração de Bela contraiu-se. Ela compreendia os receios de Batari. Aquelas pessoas eram capazes de tudo. Ela teve um pressentimento do que poderia ser a retaliação.

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