14. Harta

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 «Só existe uma coisa capaz de mudar a vida de uma pessoa: o amor.»

Desculpa Se Te Chamo de Amor, de Frederico Moccia


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Harta acordou para um novo dia. Ele e os seus pais iam até Jacarta para o casamento de uma prima que mal conhecia. Não iam só para celebrar, mas também para apoiar nos preparativos da união e para aproveitar e ver se os produtos da quinta rendiam alguma coisa no mercado. Mal acordou, já estava cansado. Só de pensar em mais um familiar a casar-se deixava-o exausto. Mais uma viagem para dar felicidades desejar muitos frutos da união e vender alguns legumes. Os pais queriam que ele casasse também e ele queria vê-los felizes. Não se importava de casar desde que fosse com uma mulher que gostasse, que valesse a pena. Ainda não tinha conhecido nenhuma.

Apesar de pensar em casar e ter filhos, sonhava viajar pelo mundo. Por muito que gostasse dos seus pais, queria conhecer pessoas de outros países, queria descobrir e saber falar outras línguas, outras formas de viver. Na Indonésia, existem muitas culturas e línguas, mas ele nunca tinha passado tempo suficiente com os falantes de outras línguas. Será que algum dia iria conseguir ter meios de sustentar os pais, ter uma mulher e viajar o mundo? Mas se não tivesse uma esposa podia mais facilmente viajar, mas como conseguiria dar-lhes os netos que tanto desejavam?

Como homem tinha de sustentar a família, era sua obrigação. Gostava de casar com alguém que lhe trouxesse todos os dias um pouco desse mundo desconhecido para ele. Alguém que pensasse diferente, que vivesse diferente. Uma mulher de pele alva, com personalidade, para lhe dar bebés lindos. Uma pele diferente da dele, morena e encrespada pelo Sol. Alguém que o salvasse da sua vida aborrecida e cansativa.

Ainda mal tinha amanhecido e eles já estavam na carrinha a caminho de Jacarta. A carrinha estava tão cheia de mantimentos e legumes para vender que ele tinha de ficar encolhido num canto. Quando chegaram à primeira cidade, mal sentia as pernas e teve que fazer um grande esforço para conseguir sair da carrinha para vender produtos às pessoas que passavam. Sempre que podiam abriam a carrinha para vender, era preciso aproveitar todas as oportunidades para ganhar dinheiro. Um pedinte que já os conhecia veio ter com ele:

Selamat pagi, pode dar uma fruta a um pobre? – Harta estendeu-lhe uma fruta. O pedinte reparou os laços dentro de um dos sacos para o casamento. – Terima kasih. Esta semana é uma boa semana para o amor, não é?

– Deve ser. Todo este mês esteve cheio com os preparativos do casamento da minha prima.

– É casado?

– Não...

– Estranho, geralmente os homens com a sua idade já tem filhos... – pensou alto o mendigo – selamat tinggal! – afastou-se a comer a fruta.

Era a pergunta que todos faziam a Harta. Sabia que era estranho ter trinta cinco anos e não estar casado. Mas devia ele ter que casar e aturar uma mulher qualquer? Sendo homem poderia escolher. Ele queria uma mulher que o fascinasse todos os dias. Como a mãe fazia a seu pai.

Quando os seus pais voltaram da entrega que pararam para fazer, continuaram o caminho. Finalmente chegaram à casa dos primos onde o casamento muçulmano estava a ser preparado. A semana passou a correr. A mesma pergunta sobre o seu casamento voltou a ser repetida várias vezes, ele já nem conseguia contar. Um dos homens mais velhos da família veio dar-lhe um sermão que durou horas sobre como era importante ter uma mulher e filhos para apoiar a família. Harta quase dormiu de tão alheio a tudo. Ele não queria desrespeitar o ancião, mas ele tinha bem claro o que desejava para ele. Não se iria assentar apenas porque os outros queriam ou ficar com uma mulher para ser sua empregada na quinta.

Passado o casamento, os pais decidiram passar o dia no mercado de  Jacarta, que tinha sempre muitos clientes, antes de voltar a Padang. Nesse dia, viu a mulher que correspondia aos seus sonhos. Pele alva, ar de estrangeiro, roupa de turista. Magra, mas tinha um olhar feroz e sedutor. Fez sinal ao pai para que a carrinha passasse ao lado dela. Quando pararam junto dela, devido ao trânsito caótico, o seu estômago rugiu como um leão enjaulado. Harta não conseguiu conter o riso. Ela olhou para ele com os olhos tristes e a face corada. Perguntou-lhe onde era o mercado num inglês perfeito. Há quanto tempo não falavam inglês com ele?

Ainda a sorrir, ele respondeu. Poucos segundos depois, ela caiu no chão. Ele bateu na carrinha para o pai não avançar. No meio do trânsito levou a buzinadelas e reclamações. Como poderia deixar uma mulher sozinha desmaiada no caos de Jacarta? Não a poderia deixar de forma nenhuma, pegou nela e levou-a para a carrinha.

Investigação na IndonésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora