Capítulo 19

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Após o jantar Otto resolve dar uma caminhada no jardim, precisava espairecer. O jantar foi meio tenso com relação a Luísa, por sorte Poliana não percebeu nada e não parava de tagarelar sobre a escola e os amigos.
Vez ou outra ele se pegava olhando para Luísa, mas abaixava a cabeça ou se voltava para Poliana sempre que achava que a mulher pudesse pegar ele lhe observando.
Estava indo em direção a piscina quando percebe uma luz bem baixinha do outro lado da piscina, na parte do gramado, ele estreitou os olhos para tentar enxergar melhor, não surtiu muito efeito, então foi caminhando a passos silenciosos, quando chegou bem perto viu que era Poliana deitada em seu edredão de bichinhos, com a cabeça no travesseiro ela observava as estrelas. Otto se aproxima e se agacha ao lado da menina, ela estava tão centrada que nem percebe a aproximação.

—O que a mocinha faz aqui fora sozinha e a essa hora?  -pergunta, sua voz era suave e baixa, a menina vira a cabeça em direção a voz e lhe oferece um sorriso que aquece seu coração

—Ah ... Oi, desculpa! É que eu gosto de observar as estrelas, foi a forma que encontrei de ficar mais perto dos meus pais. Sabe... sempre fazíamos isso. Quer se juntar a mim?  -Sugeriu com um sorriso encantador e radiante

—É claro!  -fala se deitando ao lado da filha apoiando a cabeça no mesmo travesseiro que ela.

— Eu tava pensando...  -olhando para o céu estrelado ela começa a falar mas não sabe como terminar a frase, era um assunto delicado para o pai, mas ela estava curiosa.

Otto espera ela continuar, mas a menina não faz, então ele incentiva

—Estava pensando em quê? Pode falar!

—Como você e minha mãe se conheceram? Como foi o casamento e o convívio de vocês? E a Stella como era? Eu sei, eu sei que você não gosta de falar muito disso, mas eu queria tanto saber!  -Falava bem rápido, estava tão nervosa que não conseguiu se controlar

—Ei ei, calma. Realmente é bem delicado para mim reviver o passado, mas farei um esforço e te contarei o que você quer saber.  -observando todas aquelas estrelas Otto volta ao passado. Relembrar de Alice lhe trás emoções doces e amargas, mas precisava falar a menina sobre a mãe em seu ponto de vista.
Então ele continua —Saindo de casa eu dou de cara com uma mulher linda de fases rosadas que carregava várias sacolas de feira, mesmo com todo aquele peso nas mãos ela não tirava o sorriso do rosto e cantava com uma voz tão angelical que me hipnotizou. No mesmo instante fui até ela e me ofereci para lhe ajudar com as sacolas, sua mãe aceitou, então ajudei ela até sua casa, chegando lá ela me oferece um suco, fomos até a cozinha e passamos a tarde inteira conversando, foi quando tive que ir embora que percebi que estava apaixonado, a simples ideia de ficar longe dela foi como se alguém estivesse apertando meu coração. Daí para frente eu jurei que me casaria com ela e foi o que aconteceu. -com um sorriso tímido no rosto e os olhos marejados era como se pudesse ver o rosto de Alice nas estrelas

—Conta mais. E o casamento de vocês, como vocês viviam à dois e a Stella? -insiste curiosa

—Nossa quantas perguntas em? Bom, vamos lá... Nosso casamento aconteceu no jardim da casa D'ávila e sua mãe era a noiva mais linda que eu já tinha visto, seu sorriso estava mais radiante que de costume, ela estava feliz e eu também, eu a amava Poliana. Nosso convívio era bem tranquilo, nada de brigas ou discussões, Alice tinha uma paz contagiante, um tempo depois do casamento descobrimos que ela esperava um bebê. Sabe, também gostávamos de observar as estrelas, eu bem menos que sua mãe, mas sempre que podia eu me juntava a ela. Por isso escolhemos dar o nome Stella a sua irmã, que quer dizer estrela. -ele limpa algumas lágrimas que começaram a escorrer e continua falando —Com a chegada de Stella, nossa alegria se multiplicou, vivíamos para ela, tudo que fazíamos era pensando nela. Foi quando descobrimos a doença e nosso mundo caiu, tentei de tudo para salvar minha filha, contratei os melhores médicos e nenhum deles tinha uma resposta de cura, um ano e pouco depois de seu nascimento ela veio a óbito e meu mundo virou ruína e cinzas. Me trancava no escritório desde que me levantava até a hora de me deitar, evitava a Alice de todas as formas possíveis, os momentos que tínhamos juntos depois disso eram poucos e raros. Não conseguia encara-lá por muito tempo, não pelo fato de culpa-lá, mas pelo fato de me culpar pelo que aconteceu. Não me perdoo, eu poderia ter feito mais, poderia ter salvado a vida da nossa filha. -confessa com a voz embargada pelo choro, ele não estava esperando, quando escutou...

—Não foi culpa sua pai.  -a menina chorava enquanto ouvia tudo aquilo. De repente, Poliana sente por ele um amor tão grande que nem sabe explicar.

Num pulo Otto se senta com os olhos cheios de água e encara Poliana

—Do que você me chamou? -pergunta ainda não acreditando nas palavras que acabou de ouvir. Poliana se senta de frete para ele e repeti

—Que não foi culpa sua... Pai! -chorando muito a menina da uma ênfase na última palavra

—Sabe a quanto tempo eu sonho com isso? Com você me chamando de pai? Eu te amo tanto, minha filha.  -acaricia suavemente o rosto de
Poliana —Posso te dar um abraço! -sussurra em meio as lágrimas

Poliana faz que sim com a cabeça e se joga nos braços do pai, se aconchegando naquele abraço ela descobri que nunca mais quer sair dali, se sente segura e amada.
Sentir a filha em seus braços foi como se seu mundo ganhasse cores novamente. Ali naquele momento, ele teve a certeza que deveria mais que nunca amá-la e protegê-la com sua vida.

Da varanda de seu quarto, Luísa observava os  dois, mesmo não podendo ouvir o que eles falavam, ao ver o abraço ela sentiu uma emoção tão grande que não conseguiu evitar que seus olhos lacrimejassem e teve a certeza que Otto seria um excelente pai para sua sobrinha. Mas, aquele momento de sensibilidade emocional não durou muito, logo ela enxugou os olhos e disse a si mesma que ele precisava passar por alguns teste ainda.

Alguns minutos ou talvez horas depois, Otto afrouxa o abraço e diz

—Agora está mesmo na hora de entrarmos, está ficando muito frio e você tem aula amanhã.   -afirmou enquanto acariciava os cabelos da filha e lhe dá um beijo na parte de cima da cabeça

—Você tem razão, vamos.  -se desvencilhando do abraço do pai, se levanta, pega o travesseiro e a pequena lanterna, Otto a segue levando consigo o edredão.

Poliana vai direto para o quarto e encontra sua tia na varanda, Luísa se vira assim que escuta os passou de Poliana no cômodo. A mulher não pergunta nada sobre o que viu e observa a sobrinha se deitando na cama com um sorriso lindo e feliz no rosto. Alguns minutos depois a menina adormece sem dizer uma única palavra. Luísa se pega sorrindo e maneando a cabeça levemente. Sabendo, que seja lá o que aconteceu no jardim, fez muito bem para sua sobrinha.

Continua...

Orgulho e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora