Capítulo 80

760 33 38
                                    

Após ouvir toda história, Claudia está sem palavras, não conseguia acreditar que Otto fosse capaz de tamanha covardia.
Ela senta ao lado da amiga e a abraça apertado.

—Pode passar a noite aqui se quiser minha amiga. -sugere Claudia
—Vou passar sim amiga, obrigada. E amanhã bem cedo vou para a mansão.
—Você está falando da mansão D'Avilla ? -Luísa confirma com a cabeça. —Por que não conversa com o Otto ? -pergunta a amiga
—Não tenho mais nada para conversar com ele. Vi muito mais do que palavras são capazes de explicar. Vou pegar minhas filhas e vou para a mansão. -afirma decidida
—Luísa, você sabe que ele vai atrás das meninas não sabe ?
—Ele só tem total direito pela Poliana, eu sou a "Mãe" da Olívia. E ela vai ficar comigo. -rebate Luísa
—As meninas vão sofrer muito com a separação ... -diz Claudia, mas é interrompida
—Sei disso, e sofro por isso. Mas depois do que vi, é impossível voltar para casa e perdoa-lo. Ele me traiu Claudia, me traiu ! -diz e lágrimas pesadas começam a escorrer de seus olhos
—Eu sei minha amiga, eu sei ! -concorda abraçando a amiga

Aquela noite foi a mais longa da vida de Otto, sem a mulher que ama e sem as filhas, a casa estava imersa em um silêncio destruidor.
Sentado no sofá com um copo de uísque na mão, sua trilha sonora se chamava dor. Ele bebericava o uísque sem tirar os olhos do celular nem por um segundo, na esperança que Luísa no mínimo responderia a uma, de suas trinta mensagens.
Mas ela simplesmente o ignorava. Luísa passou a noite em claro deitada na cama sedida por sua sobrinha, estava com a pequena Olívia agarrada em seu pescoço, a menininha se recusara a soltar a mãe. Encarando o celular ela apagava todas as mensagens enviadas por Otto, sem nem abrir para ler. A cada mensagem apagada, lágrimas escorriam de seus olhos. Ainda parecia irreal tudo aquilo pelo que estava passando, depois de tudo o que viveram e passaram juntos, era difícil acreditar que havia sido traía daquela forma.

—Mas eu vi ! -murmurou ela baixinho —E isso não tem perdão.

Através das cortinas abertas, Luísa pôde ver os primeiros raios de sol daquela manhã, que atravessavam o vidro da janela em seu brilho majestoso e radiante. Na cama estreita da sobrinha, Luísa olha para o lado e observa sua pequena, adormecida ao seu lado, ela acaricia com a ponta dos dedos o rostinho rosado e tira uma mechinha de cabelo que caia sob seus olhos. Tentando fazer menos movimentos possíveis para não acordar Olívia, Luísa sai da cama na ponta dos pés, ela atravessa Poliana que dormia num colchão ao pé da cama.

—Tia ... -chama Poliana ainda sonolenta
—Oi meu amor, volta a dormir ! -sussurra Luísa se agaixando e acariciando suavemente o rosto da sobrinha
—Não dormi muito bem essa noite. O que aconteceu entre você e o meu pai ? -pergunta encarando a tia, em seus olhos uma súplica em saber a verdade
—Está bem, vou te contar. -Luísa solta um suspiro longo e se deita ao lado da sobrinha se aconchegando nas cobertas  —Acabei vendo algo que jamais esperei vir de seu pai ... -ela faz uma pausa encarando o teto
—Tia, não sou mais criança, já tenho 13 anos, pode me contar a história sem meias palavras. -diz Poliana, e a sinceridade de sua afirmativa pega Luísa de surpresa.

Reconhecendo que Poliana tinha razão, Luísa começa a contar o que viu na tarde do dia anterior.

—Tem algo muito estranho nessa história tia ! -exclama Poliana se sentando e encarando a tia
—Não tem nada de estranho nessa história Poliana. Eu vi ! Não foi ninguém que me contou, eu vi.  -afirma sentando e encarando a sobrinha, as imagens do beijo não paravam de ser repassadas em sua mente
—Sei que você viu, não estou dizendo que seja mentira. Só não acredito que meu pai tenha tido coragem de fazer isso com você. Ele te ama tia, mais que tudo.
—Então ele tem uma forma muito estranha de demonstrar amor.  -murmura Luísa enxugando uma lágrima solitário que acabara de escorrer por seu rosto
—Tia, eu vou conversar com ele. Vou ... 
—Pode até conversar com ele Poliana -interrompe Luísa —Mas não irá me fazer mudar de ideia. Irei voltar para a mansão D'Avilla com a Olívia, adoraria que você fosse junto, mas sabemos que essa decisão não é minha. -a menina apenas afirma com a cabeça

Voltar a mansão D'Avilla foi mais doloroso do que Luísa imaginou que fosse. A casa parecia grande demais, solitária demais. Apenas Olívia não pensava assim, a menina corria de um lado a outro adorando a liberdade que a casa lhe proporcionava. Poliana estava quieta, apenas observando.

—Tem certeza que ficará bem aqui sozinha tia ? -pergunta de repente
—Tenho sim meu amor, não precisa se preocupar. Já fiz isso antes e agora não estarei totalmente só. Tenho sua irmã e você pode vir aqui sempre. -responde sorrindo

Poliana lhe oferece um sorriso melancólico e a abraça apertado. Mas um silêncio suspeito acaba chamando a atenção das duas, Olívia não estava mais correndo, nem dando gritinhos.
O sangue de Luísa gela só de imaginar que algo aconteceu a filha.

—OLIVIA, onde você está filha ?  -grita Luísa correndo até o escritório enquanto Poliana corre até as escadas

Já estavam prontas para correr até a cozinha quando escutam uma gargalhada da pequena e em seguida Otto atravessando a porta que dava acesso a cozinha com Olívia em seus braços, a menininha estava toda feliz segurando um sorvete de morango -seu favorito- , Luísa sentiu o baque que apenas a presença dele lhe causava, ela amava aquele homem, desejava ele mais que tudo, porém estava magoada demais. Era doloroso olhar para ele naquele momento e sua mente projetar as mesmas imagens que lhe atormentava desde o dia anterior.
A passos firmes ele se aproxima, chega perto dela e põe Olívia no chão. Otto não desvia os olhos dos de Luísa por nenhum segundo, sua pulsação está acelerada, ele queria abraçá-la, tomá-la em seus braços e amá-la de todas as formas, até fazer Luísa ter a certeza de que seu amor é completamente dela.
Discretamente, Poliana pega a irmãzinha pela mão e a leva para o andar de cima, prometendo a menina uma aventura enquanto exploram os quartos, sorrindo a pequena aceita e segue a irmã.

—O que faz aqui ? Fui bem clara quando disse que precisava de um tempo. -diz Luísa, rude
—Lembro bem o que você disse, acontece que essa noite foi a pior de toda minha existência. Não ter minha família em casa, acabou comigo.
—Foi você quem quis isso !
—Engano seu, Luísa. Eu nunca quis isso ! Por favor me escuta.
—Otto, você pode até tentar, mas estou magoada demais para aceitar suas explicações.
—Sei que não posso culpá-la por isso. Mas você vai me ouvir. Errei em não te contar o que vinha acontecendo desde o início. Ela me beijou, a empurrei assim que percebi o que estava acontecendo, foi então que as chantagens começaram. Luísa você precisa acreditar em mim. -súplica ele
—Depois do que vi é bem difícil acreditar em você, Otto. É ainda mais difícil acreditar nessa história de que você foi chantageado. Otto Monteiro não é o tipo de homem que se deixa ser chantageado por um funcionário. -rebate, seu tom era frio
—Me parece que nada do que eu diga te fará mudar de ideia. -murmura
—Pela primeira vez desde que tudo aconteceu, você realmente falou algo de que eu concordo. -diz irônica —Agora por favor, vai embora.

Otto a encara sério, agora ele estava magoado, não conseguia acreditar que depois de tudo que provou a ela, ainda assim não fosse capaz de acreditar nele. Daria o tempo necessário a ela. Mas não desistiria de lhe provar que falava a verdade.

—Se é isso que você quer, então vou te deixar em paz. -seu tom era decidido porém triste

Nesse momento Poliana descia as escadas segurando a mãozinha de Olívia.

—Papai ? -chama a pequena

Otto vai até ela e a pega nos braços a envolvendo junto a seu peito.

—Papai te ama. -sussurra ele

Poliana se aproxima e o envolve pela cintura em um abraço carinhoso e apertado. Ele retribui o abraço da filha, lágrimas agora escorriam por seu rosto.

—Poliana. -chama e a menina levanta a cabeça para encarar seus olhos. —Pode ficar aqui o tempo que quiser. -diz somente
—Mas e você, pai ? -pergunta chorosa
—Vou ficar bem. Amo vocês mais que tudo, saiba disso. -ele se inclina e beija o topo da cabeça da filha

Poliana se desvencilha do abraço e Otto caminha até Luísa, com o coração partido ele entrega Olívia em seus braços, ouvir o chorinho da menininha o estava matando por dentro.

—O papai volta logo para te ver meu anjinho. -inclina e beija a testa da filha, em seguida encara Luísa, que agora estava com os olhos cheios d'água e depois sai sem dizer uma palavra.

Continua ...

Orgulho e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora