Capítulo 81

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A cada dia que se passava Otto vivia num inferno, um mês havia se passado e sua vida parecia rodar em círculo. A mulher que amava mal trocava meia dúzia de palavras com ele, olhar o quarto e os brinquedos de Olívia sem tê-la junto de si era um pesadelo diário, sempre que ia visitar a filha a despedida era uma tortura para ambos, na primeira semana de separação a pequena teve febre, os médicos passaram antibiótico porém nada fazia abaixar a temperatura, até retornarem pela terceira vez e o médico enfim perguntar se ela havia passado por algum trauma ou estresse nos últimos dias, depois que a história da separação foi contada, o médico deu o diagnóstico final "Febre emocional" , foi aconselhado que Otto se manter-se por perto para que Olívia sentisse que não estava sendo abandonada ou rejeitada por ele.
E assim Otto fez, todos os dias ele caminhava até a mansão D'Avilla e passava o maior tempo possível junto a filha, Luísa só chegava perto quando necessário. Rapidamente a pequena se acostumou a nova rotina e percebeu que mesmo não estando por perto o tempo todo, o pai a amava incondicionalmente.
Otto havia tentado demitir Tânia, mas ela ameaçara o denunciar por assédio caso ele tomasse essa decisão, estava de mão atadas, todos os dias ela investia nele, tentava se aproximar mais, seduzi-lo, mas Otto não sedia, tudo o que queria era distância, a ignorava completamente, porém ela tomava como um desafio e se fortalecia a cada negação da parte dele.
O único Porto Seguro e ponto de equilíbrio de Otto está sendo a Poliana, a menina não desgrudava dele em momento nenhum, apenas quando ele precisava ir a empresa, então ela ia para a casa da tia.
Otto já estava pronto para ir a empresa, só estava dando uns ajustes finais em sua nova invenção, um mini robô dog que ele daria de presente a Olívia no dia do aniversário da menininha, assim como o pai, o mundo tecnológico a encantava.
Estava tão envolvido em sua nova criação que nem percebeu Poliana se aproximar.

—Pai ?  -chamou a menina
—Oi. -responde sem encarar a filha, estava concentrado demais em encaixar uma pequena peça na cabeça do robozinho
—Posso ir para a empresa com você hoje ? -pergunta baixinho

Ao se dar conta da pergunta, Otto para o que está fazendo e encara a filha, surpreso.

—Você quer ir a empresa ? Mas por que minha filha ? -pergunta
—Quero passar o dia com você na empresa. -responde somente
—Filha, sei que está tentando me ajudar, me dar apoio e eu sou muito grato por isso, mas você precisa tirar um tempo para você. Vai se divertir com seus amigos. -sugere gentilmente
—Pai, você está sendo mais forte do que parece de fato estar. Entendo que quer que eu me divirta com meus amigos, mas hoje quero ir com você. Posso, por favor ? -pede docemente
—Mas é claro que pode meu amor. Sua presença é mais que bem vinda naquela empresa. Um dia tudo aquilo será seu. -observa ele
—Tem mais chance de ser da Olívia. -afirma divertida
—É, você tem razão. -concorda Otto, sorrindo

Ao chegar na empresa Otto vai para sua sala enquanto Poliana explora o local, sua simpatia e doçura, como sempre encantando a todos.
Alguns minutos depois Tânia chega atrasada na empresa e vai direto para sua mesa sem cumprimentar a ninguém, o que não era nenhuma novidade, o que tinha de linda, também tinha de rude e ignorante.
Ao vê-la, Poliana soube de cara de quem se tratava, mesmo sem nunca tê-la visto antes, mas para tirar qualquer dúvida a menina resolve perguntar a alguém, por sorte sua tia passava na sua frente bem naquele momento.

—Tia Fernanda. -chama —Aquela moça linda ali, é a Tânia ? -pergunta baixinho
—É sim meu anjo. Mas fica longe dela por favor. Ela não é flor que se cheire. -alerta Fernanda
—Tudo bem tia. Obrigada. -agradece sorrindo das palavras da tia

A menina deu alguns passos na direção de Tânia quando a porta da sala de seu pai se abriu, a menina parou exatamente onde estava, mesmo assim Otto percebeu e ao olhar para a direção que supostamente Poliana iria, ele balançou a cabeça em negativa e se aproximou da filha.

—Filha vou para a sala de reuniões conversar com alguns investidores, pode ficar na minha sala se quiser. -Otto se aproxima ainda mais da filha e abaixa o tom da voz ao dizer. —E por favor fique longe daquela mulher. -adverte ele

A menina não diz nada e o pai segue para a sala de reuniões. Poliana odiava contrariar o pai, mas estava decidida que iria falar com Tânia e nada a impediria. A passos firmes a menina se aproxima da mesa da mulher que mantinha a concentração no computador a sua frente.

—Com licença. -diz Poliana, fazendo a mulher levantar os olhos e encara-la
—Sim ? -responde
—Você é a Tânia não é ? -pergunta, mesmo já tendo a confirmação, queria apenas puxar conversa
—Sim ! -responde fria
—Você é mais bonita pessoalmente. -diz Poliana, gentil
—Menina, eu preciso trabalhar. -responde , ignorando o elogio
—Prazer. -Poliana estende a mão em direção a mulher —Sou Poliana D'Avilla Monteiro !

A simples menção do sobrenome provocou um sobressalto na mulher que rapidamente mudou de feição e passou a agir com gentileza oferecendo um lindo sorriso a menina. Poliana pisca os olhos algumas vezes, está claramente surpresa com a mudança abrupta da mulher.

—Desculpa o jeito que te tratei antes, estou preocupada com alguns trabalhos que tenho que entregar. -conta sorrindo
—Tudo bem, Tânia ! Será que podemos conversar na sala do meu pai ? -pergunta suavemente
—Claro. -mesmo surpresa com o pedido da menina, Tânia prontamente se levanta e segue Poliana até a sala de Otto.

Ao passarem pela porta, Poliana tranca para não ter o perigo de ser interrompida. Ela caminha até a cadeira do pai e senta, sua postura reta a faz parecer a chefe, ela até pensa em sorrir desse pensamento mas estava concentrada demais no que falaria para Tânia para se distrair assim.
Por reflexo Tânia senta na cadeira a frente, cruzando as pernas uma por cima da outra e pondo as mãos sob a coxa. Poliana a encara, seu semblante é suave, porém decidido e Tânia percebe.

—Sei que você é uma mulher com um cargo importante aqui na empresa, então vou direto ao assunto para não perder muito do seu tempo.  -constata Poliana
—Estou a disposição !  -diz, claramente curiosa com o assunto que a filha do chefe iria abordar
—Você precisa consertar o que fez ! -Tânia a olha intrigada, claramente não sabia do que Poliana estava falando  —Meu pai, o que supostamente aconteceu entre vocês, o que eu até agora tenho certeza de que não passou de uma grande mentira. Quero que por favor você vá até minha tia e conte toda a verdade.  -pede Poliana séria
—Você não sabe o que aconteceu menina, não sabe o que está falando e esse assunto é um assunto de adultos. O Otto me ama. -afirma, mas Poliana percebe que ela estava escondendo algo
—Tânia, meu pai ama a tia Luísa, mas do que você pode um dia amar alguém. Eles passaram por muita, mais muita coisa mesmo juntos, e deixa eu te falar uma realidade. Nem a morte conseguiu separa-los ...
—Parece que eu consegui. -murmura Tânia
—Não, você não conseguiu. -rebate Poliana, a encarando.  —Eles claramente ainda se amam, apenas estão magoados por causa de algo que evidentemente não aconteceu. Ou aconteceu de uma forma completamente diferente do que foi visto ...

Tânia estava prestes a rebater, mas Poliana foi mais rápida e levantou a mão a impedindo. Então continuou falando.

—Você é uma mulher linda e inteligente, com certeza muito em breve encontrará alguém que de fato irá te amar. Sei que meu pai e minha tia voltaram em breve, por que como já lhe disse "eles se amam" , mas quero pedir que por favor você concerte esse erro. Eu não aguento mais vê-los sofrendo estando separados e já ficou claro que você não ganhou nada da parte do meu pai além de desprezo e repugnância. 

Tânia agora estava de cabeça baixa apenas digerindo tudo o que Poliana disse com tanta certeza e convicção. A voz da menina mesmo séria e decidida soava tão gentil que Tânia sentiu até vontade de chorar, mas a mulher era rancorosa demais para tamanha atitude. Ela levanta a cabeça e encara Poliana com um olhar tão gélido que a menina sentiu um pouco de medo.

—Se você já terminou, eu preciso voltar para o trabalho.  -diz somente
—Terminei sim ! -exclama Poliana.

Tânia já estava com a mão na maçaneta quando Poliana a chama

—Tânia, espero que você pense no que eu disse por favor.

Tânia nada responde, apenas a encara por alguns instantes, em seguida abre a porta e a fecha assim que sai da sala.

Continua ...

Orgulho e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora